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Victorino D'Almeida, o homem-memória

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São mais de 600 páginas nas quais António Victorino D"Almeida revisita com precisão cirúrgica episódios e fragmentos dos 35 primeiros anos de vida. O exercício de auto-análise que fez leva-o a concluir que se sente "um privilegiado" por tudo o que viveu.


Não esperou pelo abrandamento da actividade para lançar as suas memórias, até porque, como confessa, gosta demasiado do que faz para sequer pensar numa retirada de cena.

A ideia de verter para livro os principais acontecimentos da vida há muito que o perseguia, mas só depois de confrontado com esse desafio é que assumiu o compromisso. "Lido bem com prazos. Até hoje nunca falhei nenhum", orgulha-se o popular maestro, que confessa ter sido inspirado por "Amarcord", de Fellini, na escrita de "Ao princípio era eu" (Clube do Autor).

Do longo processo de escrita que deixou para trás retém sobretudo a capacidade de recuperar episódios há muito ocorridos. "À medida que ia escrevendo, lembrava-me de episódios que já julgava esquecidos, o que só vem provar que as memórias da infância perduram mais do que as outras", defende.

Se os livros autobiográficos revelam quase sempre uma propensão para o ajuste de contas e alguma amargura, o compositor garante, pelo contrário, ter-se mantido fiel a um propósito: "Escrever um livro com zero graus de acidez".

Ao passar em revista a galeria quase infindável de personalidades ilustres com quem teve ocasião de privar, nomes como os de António Pedro, Almada Negreiros, Fernando Lopes-Graça e Jorge Borges Macedo são os primeiros a surgir. Mas se a escolha incidir apenas sobre o impacto que essas figuras tiveram no seu desenvolvimento pessoal e profissional, prefere destacar outros dois: Joly Braga Santos e António José Saraiva. "O primeiro incentivou-me a escrever; o segundo ensinou-me a ler", justifica.

Aos 70 anos e com uma obra vasta que atravessa a música, a literatura e o cinema, afiança nunca ter estado dividido com tamanhas paixões. Certezas, apenas uma: "A televisão é o que menos me interessa", desabafa, embora admita que foi, em larga medida, graças às aparições televisivas que se tornou uma figura acarinhada por tantas pessoas. "Espanto-me como há miúdos de 12 anos que me reconhecem na rua. É certo que nunca fiz nada elitista, mas os meus programas passam a horas impróprias", observa, crítico.

O tom recriminatório prossegue quando avalia o estado do país. Mesmo aceitando que o "descrédito da política é um fenómeno à escala global", Victorino D"Almeida lamenta "o organismo democrático ainda débil". A tal ponto que "favorece o aparecimento de ditadorzinhos em todo o lado". "De vez em quando ainda aparece um diferente, mas o que abunda são os déspotas não esclarecidos", acusa.

JN
 
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