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Ramalho Eanes recorda o "25 de Novembro"

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O antigo Presidente da República Ramalho Eanes lamentou a falta de austeridade do Estado democrático e admitiu que, a 25 de Novembro de 1975, acreditou "utopicamente" que a democracia por si só tornaria o país mais moderno e solidário.
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Cavaco Silva e Ramalho Eanes


António Ramalho Eanes, o coordenador das operações militares de 25 de Novembro de 1975, que travou uma tentativa de tomada do poder pela extrema esquerda após o 25 de Abril de 1974, lembrou em entrevista à agência Lusa as expectativas de há 35 anos e considerou que a democracia actual não é suficientemente representativa.

Em 1975, disse Eanes, "acreditava-se, talvez um pouco utopicamente, que a democracia (...) iria permitir que o país avançasse, evoluísse, se modernizasse, se tornasse mais justo e mais solidário. Pensava-se que tudo isso decorreria normalmente da democracia. Infelizmente não aconteceu".

O antigo Presidente da República considerou que a realidade de hoje ficou aquém da fé de 1975 devido, sobretudo, às características da democracia portuguesa nos últimos 35 anos.

"Temos uma democracia consolidada, mas é muito uma democracia eleitoral e é muito pouco uma democracia participativa ou uma democracia de libertação do homem. Isso não é culpa dos governos, é culpa da nossa cultura, e a cultura tem a ver fundamentalmente com a sociedade civil", afirmou Ramalho Eanes.

Considerando que as últimas três décadas testemunharam "modificações profundas e positivas" na sociedade portuguesa, Eanes chamou no entanto a atenção para o "pecado genético" do Estado democrático.

"Quando o Estado democrático cria o estado social, devia tê-lo criado com alguma austeridade, obviamente protegendo os mais desprotegidos. E devia tê-lo criado modificando o nosso modelo de crescimento económico que, já em 1975, se via que era claramente inviável", disse.

Na opinião de Ramalho Eanes, o "indispensável" trabalho de fortalecimento do Estado está ainda também por concluir.

"Um Estado forte é um estado que exige que os subsistemas que são sua responsabilidade funcional trabalhem com um máximo de eficácia. E nós não vemos que isso aconteça na educação, não vemos que isso aconteça na saúde, e não vemos que isso aconteça na justiça, onde se gastam meios e não se consegue a maior eficácia", frisou.

"A responsabilidade não é dos subsistemas, a responsabilidade é de quem é por eles responsável, e os responsáveis são obviamente os Governos. Não se pode transigir - para não ter problemas sociais ou para conquistar votos - com exigências corporativas que não têm nada a ver com aquilo que é a obrigação funcional destes subsistemas", acrescentou.

Passados 35 anos, Eanes referiu que, para além das esperanças para o futuro, era o presente que então preocupava os homens do 25 de Novembro.

"Na altura, o que era necessário, em nosso entender, era salvar a democracia constitucional pluralista em Portugal. Era permitir, como tinha sido prometido aos Portugueses no 25 de Abril, pelas Forças Armadas, que os portugueses fossem definitivamente senhores do seu destino", disse.

"Era essa a grande ambição, era esse o grande propósito, era esse o grande desejo", concluiu Eanes.

JN
 
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