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Caso de dívida por confusão de identidade sanado após sair no JN
É um processo digno do trauma e perseguição de Kafka. Aconteceu em Lousada: um miúdo homónimo de um empresário prevaricador foi perseguido, julgado e condenado pela Segurança Social. Terminou quatro anos depois, com um parco pedido de desculpa.
O caso de alienação e trauma de João Miguel, que entretanto tem 17 anos e que andou os últimos dias a sonhar que ia preso - sobretudo porque domingo recebeu uma ríspida visita da GNR - terminou ontem, com a Segurança Social a pedir desculpa e a prometer encerrar o assunto.
Ou melhor, terminou anteontem: "Só admitiram o erro quando a notícia saiu no JN. Foi aí que tiveram vergonha", diz a mãe do menor, Cristina Alves. "Em quatro anos não me deram razão, mas bastou isto cair na praça pública e vieram logo com desculpas, que lamentavam, que foi uma confusão, que foi Lisboa, que os desculpasse, que não pensasse mais".
Ontem, João Miguel e Cristina estiveram nas instalações do Porto da Segurança Social. Foi aí que ouviram as desculpas. Ao JN, o presidente do Instituto da Segurança Social, Edmundo Martinho, reconheceu que a "situação é anómala" e que resultou "de um erro de identificação". E diz lamentar, garantindo que a resolução já tinha sido assegurada. Foi.
Mas Cristina Alves quer pensar e agora pondera processar o Estado português. "Desculpar eu desculpo, mas quem é que paga o tempo que perdi, o dinheiro que gastei, o bom nome do meu filho, quem? Esta chatice toda, quatro anos nisto!, ficam assim, só assim com um pedido de desculpa?".
"Este processo é estúpido e é feito por gente incompetente, isto tem que ser dito. Então como é que um miúdo de 13 anos - um miúdo! - podia dever 22 mil euros à Segurança Social? Mas há alguém sério que acredite nisto?!".
Cristina Alves, ar grave, dedo indignado no ar, foi obrigada a acreditar, mesmo sem nunca ter ouvido falar de Kafka e dos seus livros sobre o absurdo mundo burocrático: durante quatro anos, o seu filho menor, João Miguel Ferreira Valadares, de Lousada, distrito do Porto, foi envolvido pela Segurança Social num processo de exigências, ameaças em carta registada e que, por fim, promoveu o seu julgamento e condenação em tribunal.
Como se explica este absurdo? Com uma sobreposição de homónimos: João Miguel Ferreira Valadares deve, aparentemente, 22 mil euros à Segurança Social, mas trata-se de um empresário domiciliado em Almada que tem o mesmo nome do miúdo de Lousada - e que, por alguma obscura razão, tem também o mesmo número de beneficiário da Segurança Social.
Mas o caso ainda se adensou: João Miguel Ferreira Valadares também devia 62 mil euros ao Millennium BCP e mais cinco mil euros à operadora telefónica Optimus, contas também cobradas ao adolescente de Lousada, que vive com a mãe de um orçamento reduzido e exclusivo do Rendimento Social de Inserção. Essas "dívidas", porém, resolveram-se a bem.
JN
É um processo digno do trauma e perseguição de Kafka. Aconteceu em Lousada: um miúdo homónimo de um empresário prevaricador foi perseguido, julgado e condenado pela Segurança Social. Terminou quatro anos depois, com um parco pedido de desculpa.
O caso de alienação e trauma de João Miguel, que entretanto tem 17 anos e que andou os últimos dias a sonhar que ia preso - sobretudo porque domingo recebeu uma ríspida visita da GNR - terminou ontem, com a Segurança Social a pedir desculpa e a prometer encerrar o assunto.
Ou melhor, terminou anteontem: "Só admitiram o erro quando a notícia saiu no JN. Foi aí que tiveram vergonha", diz a mãe do menor, Cristina Alves. "Em quatro anos não me deram razão, mas bastou isto cair na praça pública e vieram logo com desculpas, que lamentavam, que foi uma confusão, que foi Lisboa, que os desculpasse, que não pensasse mais".
Ontem, João Miguel e Cristina estiveram nas instalações do Porto da Segurança Social. Foi aí que ouviram as desculpas. Ao JN, o presidente do Instituto da Segurança Social, Edmundo Martinho, reconheceu que a "situação é anómala" e que resultou "de um erro de identificação". E diz lamentar, garantindo que a resolução já tinha sido assegurada. Foi.
Mas Cristina Alves quer pensar e agora pondera processar o Estado português. "Desculpar eu desculpo, mas quem é que paga o tempo que perdi, o dinheiro que gastei, o bom nome do meu filho, quem? Esta chatice toda, quatro anos nisto!, ficam assim, só assim com um pedido de desculpa?".
"Este processo é estúpido e é feito por gente incompetente, isto tem que ser dito. Então como é que um miúdo de 13 anos - um miúdo! - podia dever 22 mil euros à Segurança Social? Mas há alguém sério que acredite nisto?!".
Cristina Alves, ar grave, dedo indignado no ar, foi obrigada a acreditar, mesmo sem nunca ter ouvido falar de Kafka e dos seus livros sobre o absurdo mundo burocrático: durante quatro anos, o seu filho menor, João Miguel Ferreira Valadares, de Lousada, distrito do Porto, foi envolvido pela Segurança Social num processo de exigências, ameaças em carta registada e que, por fim, promoveu o seu julgamento e condenação em tribunal.
Como se explica este absurdo? Com uma sobreposição de homónimos: João Miguel Ferreira Valadares deve, aparentemente, 22 mil euros à Segurança Social, mas trata-se de um empresário domiciliado em Almada que tem o mesmo nome do miúdo de Lousada - e que, por alguma obscura razão, tem também o mesmo número de beneficiário da Segurança Social.
Mas o caso ainda se adensou: João Miguel Ferreira Valadares também devia 62 mil euros ao Millennium BCP e mais cinco mil euros à operadora telefónica Optimus, contas também cobradas ao adolescente de Lousada, que vive com a mãe de um orçamento reduzido e exclusivo do Rendimento Social de Inserção. Essas "dívidas", porém, resolveram-se a bem.
JN