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"O 25 de abril marcou a minha vida"

florindo

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A política apanhou-o nos movimentos sociais, em Coimbra, levou-o para Lisboa, para a Assembleia da República, mas aí, tudo faz para romper "a bolha parlamentar". Porque há muita vida cá fora.


A conversa ainda não tinha chegado à mesa do almoço e já recuara mais de 50 anos. Ao tempo em que era notícia o aumento de salários dos funcionários públicos. É o que revela a leitura da primeira página do JN, de 18 de Dezembro de 1958. O dia em que nasceu em Coimbra, José Manuel Pureza, o líder parlamentar do BE, o homem que colecciona marcadores de livros, mas que dobra as páginas que quer guardar para sempre. "Como o 25 de Abril, que marcou a minha vida e definiu as minhas escolhas para o futuro".

Ao desenrolar cópia dessa capa de jornal (oferecida pelo JN), o deputado foi deixando que a surpresa da irónica actualidade do noticiário de há 52 anos lhe rasgasse o sorriso. É que também a NATO era notícia, tal como conflitos no Iraque.

Registada em fotografia a surpresa, a mesa (que já esperava) permitiu que a conversa começasse por uma pergunta.O que leva um professor universitário a trocar a cátedra de Coimbra por uma bancada parlamentar em Lisboa?
"É bom que a academia se envolva na prática de tomada de decisões. Que rejeite o distanciamento olímpico em relação à sociedade". É a resposta, genérica e de princípio.

Mas há outra, a pessoal, de quem sempre esteve na Universidade com os dois pés na sociedade, na intervenção social. A ciência que escolheu - a sociologia - ajuda e a opção política de não ser neutral faz o resto.

Mas (porque há sempre um "mas"), José Manuel Pureza reconhece que passar da "reflexão para o instantâneo tem sido uma aprendizagem permanente" e que, para não perder a mão científica, a leitura e a vida cá fora é obrigatória para romper a "bolha parlamentar", na qual há um défice de ligação dos deputados à realidade e aos eleitores. A afirmação não é desmentida.Pelo contrário. "Há falhas que não deveriam existir". A solução passará por reduzir o número de deputados?

"De forma alguma, uma redução iria distorcer a proporcionalidade". Uma certeza a que se junta outra, a de que é preciso ter cuidado quando se denigre a imagem dos partidos.

"Há razões para criticar o comportamento de alguns políticos, mas não se pode deitar fora o bebé com a água do banho. Há alguém que se está a rir quando a malta se entretém a dizer mal dos partidos". Essa "entidade" é herdeira da ditadura e tem tolhido os movimentos da sociedade. Opinião do sociólogo, que lembra que tem sido o Estado a produzir os partidos e não a sociedade.

Uma falha que pode sair cara à qualidade da democracia, porque os movimentos violentos estão aí e "dizer que somos um povo de brandos dos costumes é uma análise preguiçosa". Dar força aos sindicatos, às estruturas organizadas de cidadãos é um antídoto à violência em tempo de crise social.

As garfadas na corvina são distraídas e o olhar está lá fora, na cidade.A beleza da paisagem puxa à reflexão sobre o (mau) crescimento urbano (também) em Coimbra. À ausência de uma política de cidades, à regionalização que nunca mais chega. "Por este andar ...".

Críticas ao bloco central que une os interesses do PS e do PSD. Aliança que está aí, "no Orçamento, na definição da política económica". Uma evidência usada como argumento para o convidado do JN não assinar por baixo a teoria da necessidade de acordo político para salvar o país.

"O contraditório e o confronto político são vitais. É assim que deve ser a democracia". E é nela que o Bloco se integra, agora e no futuro, num espaço que catalisador de vontades transformadoras à Esquerda, "sem existir para ter razão, mas para criar condições para transformar e não para gerir". Na procura de cumplicidades nos socialistas que não se revêem na política do Governo de Sócrates. "Acredito numa aliança à Esquerda, mas sei que é preciso muita paciência e muita persistência".

Como? A pergunta atira a resposta para um outro tema, o das presidenciais. Para as críticas a Cavaco, que "não pode passar incólume pela crise, como se não tivesse responsabilidades nela".

E para Manuel Alegre, claro. O candidato que o deputado garante ser "apoiante entusiasta desde a primeira hora". Não enjeita as críticas internas no partido e admite que "ninguém podia esperar que Alegre contribuísse para deitar abaixo o Governo e combatesse Sócrates", mas considera que o poeta transporta um "património de ideias à Esquerda que vai no sentido de uma mudança de políticas". A esperança está viva no discurso de Pureza, No entanto, torce o nariz quando as palavras saltam daí para a religião e para a sua condição de católico.

"Também questionam o catolicismo dos políticos de Direita?" Sem esperar resposta, confessa desconforto por ser considerado, mesmo no Parlamento, "um bicho raro". E assume que a ida à missa ao domingo é uma prática semanal, na diocese de Coimbra, integrado na "Comunidade João XXIII".

Numa crítica à hierarquia de Igreja, contrapõe o bom-senso à doutrina inflexível, porque "a vida é sempre mais importante que os princípios morais e abstractos".

JN
 
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