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Obra de Fernando Pessoa ainda é um desassossego

florindo

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Fernando Pessoa morreu há 75 anos, mas a obra continua a suscitar interesse, sobretudo no estrangeiro. Em França, o "Livro do desassossego" já vendeu 185.000 cópias e a palavra "intranquilité" ("desassossego") vai entrar no dicionário da Academia da Língua Francesa.


"Os portugueses cansam-se facilmente de tudo", sintetizou, a propósito do relativo "abandono" a que o escritor tem sido votado, o ensaísta Eduardo Lourenço, em conversa com o JN à margem do II Congresso Internacional Fernando Pessoa realizado na passada semana.

"O caso de Fernando Pessoa é o caso paradigmático de alguém por quem os portugueses dizem sentir grande apreço, mas do qual, no fim, nem sequer se apercebem da dimensão internacional", disse, por seu turno, Inês Pedrosa, directora da Casa Fernando Pessoa, que, desde há dois anos, tem vindo a organizar aqueles encontros pessoanos.

A obra e o pensamento do autor de "Mensagem" - que morreu aos 47 anos - continuam a influenciar artistas contemporâneos de diversas áreas. Daí que não seja estranho que uma obra como "O livro do desassossego", publicada pela primeira vez há 120 anos, continue com honras de "best seller" em países como França, Itália ou Brasil.

A paixão pela obra de Fernando Pessoa assenta em múltiplas e variadas interpretações. Tome-se como exemplo o trabalho do músico, compositor e ensaísta brasileiro José Miguel Wisnik. Defende este investigador que Fernando Pessoa entrou no chamado Tropicalismo e entrou no movimento da Bossa Nova através do professor Agostinho da Silva, que, por sua vez, foi levado para a Bahia pelo próprio Eduardo Lourenço.

Para José Miguel Wisnik, "Fernando Pessoa levou o mito do V Império a uma transfiguração que tinha a ver com um novo futuro, uma ordem mundial futura em que a língua portuguesa voltaria a ser predominante". E o investigador sublinhou ainda o facto de Fernando Pessoa "se ter popularizado no Brasil através da canção, (muitos compositores brasileiros musicaram poemas seus) demonstrando, assim, como a mais "alta" cultura se misturou com a cultura "popular", a enriqueceu e criou a especificidade da cultura brasileira".

"Esta é uma visão curiosa que acaba por ser muito estimulante para as pessoas que têm aquele medo de entrar num mundo que é aparentemente de chave fechada", defendeu Inês Pedrosa.
"Pessoa congrega pessoas muito diferentes, às vezes, até com posturas antagónicas. É engraçado como, sendo ele tão tímido e ensimesmado, suscita paixões tão ardentes de compreensão exclusiva e suscita heterónimos tão vivos e diferentes quanto os que ele criou", sublinhou.

O fascínio tem uma explicação. Pessoa não foi só poeta ou escritor de prosa, foi também ensaísta político e teórico sobre religião e estética filosófica. Um debate em torno de Pessoa acaba, assim, por ser um debate em torno do século XX em Portugal e não só.

"Pessoa foi o sonhador de todos os sonhos, mesmo os mais improváveis", lembrou Eduardo Lourenço, que, no âmbito do congresso, foi distinguido, conjuntamente com a especialsita em assuntos pessoanos Maria Aliete Galhoz, com a "Ordem do desassossego".

A distinção, criada pela Casa Fernando Pessoa, visa "honrar aqueles que honram Pessoa e honram Portugal, sabem amá-lo e têm uma atitude de desprendimento e de curiosidade genuína como a que caracterizou Pessoa".

O filósofo, de 87 anos,sublinhou a importância da obra do poeta dos heterónimos, que definiu como "o grande poeta da incondição humana", e recordou que foi em 1942/43 que o encontrou, comentando: "Encontrarmos alguém que já nos viveu é qualquer coisa de paradoxal."

JN
 
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