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"Acham que gosto do corpo que tenho?"

florindo

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É um dos monstros sagrados do cinema contemporâneo, alguém que não necessita realmente de grandes apresentações. Actor imenso e de impressionante carreira, Gérard Dépardieu já fez de tudo e com quase todos os grandes realizadores, e não só franceses.


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Na próxima semana vai estrear "Mammuth", uma comédia perversamente louca, onde o apanhamos no último dia do emprego, depois de ter passado a vida a matar porcos. O pior é que, para conseguir uma reforma melhor, tem de meter o cabelo comprido e despenteado dentro do capacete e pegar na sua moto - que dá o título ao filme e a alcunha à personagem - e visitar todos os locais onde trabalhara antes, em busca da necessária papelada. Em Abu Dhabi, onde já esteve a apresentar o seu próximo filme, "Potiche", de François Ozon, com Catherine Deneuve, falou-nos destes filmes.

Ao contrário da personagem principal de "Mammuth", não dá sinal de se querer retirar...
Não, porque não trabalho. Por isso, não me posso reformar. Estou vivo, estou a viver, não preciso de me retirar. Faço filmes, faço vinho, tenho um restaurante, um hotel. Faço muitas coisas na vida...

Mas a personagem perde a vontade de viver, o que não acontece consigo...
Mas encontra-a outra vez... Ele é como toda a gente hoje em dia. Ele não trabalha pelo prazer, mas para ganhar dinheiro. Para pagar a casa, a comida. Já não se trabalha com prazer. Eu conheci pessoas que trabalhavam com prazer, como o meu pai. Não sabia ler nem escrever e trabalhava com as mãos, mas fazia-o pelo prazer que lhe dava.

No seu último filme, "Potiche", voltou a trabalhar com a Catherine Deneuve. O primeiro filme que fizeram foi já há 30 anos...
Somos amigos desde essa altura. Falamos muito. Houve acontecimentos trágicos que se passaram na vida da Catherine e na minha, como a morte do Marcello ou do meu filho, que ela conhecia muito bem. Mas também presenciei o nascimento dos filhos dela e dos netos. Mesmo se nunca vivemos juntos, temos uma vida em conjunto.

Como é que a classifica, como pessoa e como actriz?
É uma pessoa muito divertida, gosta muito de viver. Em trinta anos, não mudou nada. Talvez até seja hoje uma pessoa mais livre. Não tem aquele problema das actrizes, nem aquela preocupação permanente das mulheres que são belas quando são jovens e que sentem a necessidade de se sentirem sempre sedutoras e sexy.

E ela continua a ter aquela beleza...
A Catherine é sexy e sedutora hoje, porque é livre. É como a Sophia Loren, por exemplo. Faz parte da natureza delas. Mas é uma profissão difícil para uma jovem, acho que se devem sentir um pouco reprimidas.

Os homens, os actores, não sentem tanto esse problema...
Mesmo para um homem, é difícil. Acha que gosto do corpo que tenho, com 130 quilos? Mas temos de ser generosos. Se estivesse a olhar só para mim, estaria triste todo o tempo. Mas agora já não me importo. Houve uma altura em que ainda tentei cuidar de mim, mas agora já não me importo.

Mas apesar de dizer que não gosta de se ver, sempre foi um actor muito físico, usando o seu corpo para criar personagens...
Tem de se aprender a jogar com a câmara. Os actores americanos usam muito a linguagem corporal, como Jack Nicholson. A personagem ajuda muito. Mas se tivesse de perder 30 ou 40 quilos para um papel, não tinha problema nenhum. Ia para o hospital e preparava-me. Mas faço tantas coisas. A minha vida não é só o cinema.

François Ozon é muitas vezes considerado um cineasta das mulheres. Como é que se sentiu, dirigido por ele?
O meu papel é de um velho sindicalista, um comunista à antiga. Mas ao pé da Catherine Deneuve, sente-se como uma criança. O François Ozon é um tipo muito esperto. Sabe muito sobre o cinema. É um realizador que tem aquela identidade francesa que se sentia com o François Truffaut, o Claude Chabrol, o Jacques Rivette ou o Maurice Pialat.

Sente a falta desses cineastas que vão desaparecendo, como Chabrol e Truffaut?
Eram homens que nos contavam belas histórias. Fazem muita falta ao cinema de hoje. São todos filhos do Renoir e do Hitchcock. O Scorsese também tem essa cultura. Conheço-o muito bem, embora nunca tenha trabalhado com ele. O Spielberg é um génio. E o que fez ele? Foi buscar o Truffaut para os "Encontros Imediatos do 3º Grau"...

JN
 
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