• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Caso Ensitel levanta questão dos limites da liberdade de expressão no ciberespaço

florindo

Administrator
Team GForum
Entrou
Out 11, 2006
Mensagens
38,987
Gostos Recebidos
347
A blogosfera e as redes sociais estão em polvorosa. Tudo devido a uma acção da Ensitel, que pretende a eliminação das declarações de uma cliente insatisfeita do blogue desta última. Este caso volta questionar os limites à liberdade de expressão na internet.


A tentativa de devolução de um telemóvel, alegadamente defeituoso, gerou uma onda de indignação na internet nos últimos dias.

Tudo porque a empresa que o comercializou pretende que a compradora retire do seu bloque pessoal seis "posts" onde descreve as suas tentativas para trocar o equipamento, que terminaram com uma decisão em Maio de 2009 do Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo de Lisboa.

Quase dois anos depois, a autora do bloque "Jonasnuts", Maria João Nogueira, é confrontada com uma providência cautelar e uma acção para que elimine os textos.

Não havendo legislação específica para as afirmações escritas no ciberespaço, a liberdade de expressão é limitada pelos denominados crimes contra a honra - difamação, injúria e calúnia - e estes são tratados da mesma forma sejam cometidos fora ou dentro da internet.

"Os limites são os mesmos. Quando alguém colocar o que for na internet, tem de se responsabilizar por aquilo que diz", explica o advogado Manuel Lopes da Rocha, especialista em direito da internet.

A única diferença, prossegue o jurista, é a de os crimes poderem ser agravados por chegarem a uma audiência maior. Existe ainda uma excepção, de acordo com o advogado, que "tem a ver com a responsabilidade dos intermediários", prevista na Lei do Comércio Electrónico.
No seu entender, a autora do blogue deverá ser obrigada a retirar os "posts" pelo tribunal se se der como provado que estes são ofensivos e denigram a imagem da empresa.

E não pode ser responsabilizada por outros comentários, ainda que ofensivos e difamatórios, que venham a ser proferidos no espaço virtual.

Azeredo Lopes, presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, lembra também que apenas os conteúdos sujeitos a tratamento editorial, com equiparação a meios de comunicação social, atribuída de acordo com os estatutos da reguladora, está sob a sua alçada; o que não é o caso dos bloques.

Lição de gestão

Quando, na segunda-feira, anunciou no blogue que tinha recebido uma citação para eliminar os "posts", Maria João Nogueira estava longe de imaginar as proporções que o caso iria tomar, com uma forte onda de indignação no Facebook e Twiter contra a empresa.

"As pessoas perceberam que isto não é por causa de um telemóvel. Estamos a falar de uma grande empresa a tentar silenciar uma pessoa com um blogue pequeno, com poucas visitas por dia", considera a autora, acrescentando que o caso "estava morto e enterrado" desde 2009 e que foi a empresa a espoletar a nova situação, que acabou por se virar contra esta última.

Por seu lado, a Ensitel colocou terça-feira um comunicado na sua página do Facebook reagindo aos comentários negativos, garantindo não pôr "em causa qualquer tipo ou forma de liberdade de expressão", repudiando aquilo que considera ser "uma autêntica campanha difamatória, assente em factos absolutamente falsos que têm como único intuito denegrir a imagem e boa reputação" da empresa.

No entender de Salvador da Cunha, director-geral da empresa de comunicação Lift, "a Ensitel está com um problema com o pós-venda e de relacionamento com os clientes", e que se tratou de "uma forma trapalhona de fazer as coisas".

Mas este caso em si não é determinante para afectar a imagem da empresa, até porque ela "já estava com problemas graves com os clientes".

A forma como a empresa lidou com a situação deve ser vista como "uma lição de gestão", defende o responsável, "para todas as empresas", que têm de perceber "que as redes sociais têm uma força grande e não se pode brincar com elas".

Na sua opinião, a empresa deverá mudar a política pós-venda e a chegar a um acordo com a autora do blogue, para minimizar os danos da situação.

Questionado sobre os comentários eliminados pela Ensitel, da sua página do Facebook, Salvador da Cunha defende a legitimidade do acto.

"A página é deles, não faz sentido manter mensagens ofensivas, que ultrapassem a liberdade de expressão. Nesta crise deviam ter mudado a política de permissões", sublinha, acrescentando que neste tipo de situações é preciso "equilíbrio, senão a determinada altura toda a gente fica contra toda a gente".

Jornal de Notícias
 

florindo

Administrator
Team GForum
Entrou
Out 11, 2006
Mensagens
38,987
Gostos Recebidos
347
Ensitel volta atrás e retira acção judicial contra blogger

Parece que a "novela" da Ensitel poderá estar prestes a acabar.


Depois de as redes sociais terem sido inundadas de comentários indignados de pessoas a defender a blogger Maria João Nogueira (alvo de um processo por parte da Ensitel para a obrigar a apagar posts no seu blogue pessoal), a empresa volta atrás e decide retirar a acção judicial que despoletou toda a "confusão".

A notícia foi comunicada pelo responsável de vendas e serviço a clientes no Facebook da empresa. Na nota, pode ler-se que a Ensitel tentou, com a acção judicial, defender a marca e não "limitar a liberdade de expressão da Maria João Nogueira". "Vemos agora que a nossa atitude foi inadequada e por isso vamos retirar de imediato a acção judicial", afirma o responsável.

Desta forma, a empresa pretende, provavelmente, deitar para trás das costas a autêntica "avalanche" de feedback negativo que recebeu nos últimos tempos, mas será tarde demais?

A empresa diz estar a "preparar novas maneiras" de comunicar com os clientes online, para que seja possível denunciar problemas com produtos Ensitel ou nas lojas da empresa. "Pretendemos, no futuro, estar mais atentos ao que os nossos clientes dizem online, de modo a podermos assegurar que a vossa experiência com a Ensitel é o mais positiva possível", continua.

A julgar pela reacção à nota da empresa, a mensagem de "mea culpa" teve o efeito desejado, pois dela resultaram diversos comentários positivos de utilizadores, a parabenizar a Ensitel por ter voltado atrás na sua decisão. Mesmo assim, só o tempo dirá quais os verdadeiros resultados a longo prazo deste episódio para a reputação da empresa, tanto online como offline.

A visada, conhecida na blogosfera como Jonasnuts, já se mostrou satisfeita com a decisão. No Twitter, comunicou que está "muito feliz e contente", mas que ainda tem a advogada "a certificar-se da coisa".

Nos últimos tempos, a blogger estava a receber donativos para ajudar a pagar as despesas com o processo, tendo recebido, até ao meio dia de hoje, 1,152.31 euros, distribuídos, segundo diz, "por um total de 70 doadores". Agora que o processo está terminado, Maria João garante que "as doações vão ser devolvidas aos doadores, na íntegra".

Jornal de Notícias
 
Topo