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"Fizemos um disco muito bom e as pessoas vão percebê-lo"

florindo

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Os artistas devem arriscar, acredita o vocalista dos Ban. Por isso, o grupo não hesitou em, 19 anos depois, lançar um novo álbum, em que reinventa o seu som para os tempos modernos sem se preocupar com o que achariam os fãs ou o mercado.


João Loureiro, que, a par de João Pedro Ferraz, também assumiu as tarefas de produção, ficou contente com o resultado final e garante que "Dansity" é "moderno", "actual" e "muito bom". Aliás, na sua opinião, é tão bem conseguido que talvez, desta feita, a banda consiga dar o salto além fronteiras e, ao mesmo tempo, abrir caminho para outras bandas e projectos que João Loureiro prentende começar a produzir.

Depois de tantos anos separados, como surgiu a reunião dos Ban?
Foi tudo muito informal. Em 2004, num jantar de amigos, surgiu a ideia de regressarmos à sala de ensaios para fazer música, mas sem nenhum outro objectivo que não o de criar e voltarmos a estar juntos. Entretanto, o que fomos fazendo começou-nos a soar bastante bem e começámos a ponderar a possibilidade de registar o que estávamos a fazer. Então, procurámos uma voz feminina que correspondesse àquilo que começava a ser o nosso som e daí para a frente fomos trabalhando, mas sem grande pressa.

Daí os seis anos até surgir "Dansity".
Exactamente. O disco foi feito aos poucos.

Tiveram a noção de que estavam a arriscar muito ao lançar agora um novo disco, tão diferente dos anteriores?
O nosso objectivo não foi repetirmo-nos. Foi exactamente o contrário. Foi fazer uma coisa diferente. Tivemos a consciência de que, ao fazer um trabalho que é bastante diferente do que tínhamos feito, seria natural que houvesse pessoas que, numa primeira fase, não nos identificassem tanto com os Ban que conheciam. Mas penso que os artistas devem arriscar. Se não, quem é que o vai fazer? Porém, também fizemos este disco com algum sentido de humildade. É um início de uma nova fase e, portanto, não estamos à espera de um sucesso extraordinário nos primeiros dias. É um disco que está a ter o seu percurso. Notámos nas redes sociais que está a ter uma aceitação muito razoável e que as pessoas, aos poucos, vão-se habituando à nova fase.

Crê que os antigos fãs dos Ban vão gostar?
Aqueles que já nos conheciam talvez estranhem um bocadinho, mas, depois, começam a aderir. E há as pessoas mais novas que não conheciam tanto e que, pelas análises que vou vendo e pela própria Internet, estão a gostar do disco. Sinto que estamos a chegar a gerações a que os Ban antigos não chegavam.

Agora, também têm nos Ban um elemento dessa nova geração, que é a Mariana Matos. Foi fácil a sua integração?
Foi fácil e foi uma forma de termos alguma frescura. A voz da Mariana tem um timbre muito diferente do da Ana Deus. É uma voz mais cheia e poderosa. Só por si, isso já faz com que o som mude um bocado, mas, depois, há a própria pessoa que se integra, que vai estando no dia-a-dia e que dá as suas ideias. É uma forma de aparecerem soluções que, se calhar, nós sozinhos não iríamos encontrar. Por ser bastante mais nova do que nós, a entrada da Mariana fez com que as coisas se tornassem mais ricas.

Acha que se os Ban tivessem continuado seria este o som que teriam agora?
É difícil ter a certeza, mas penso que seria próximo. Este disco está muito ao tempo. Tínhamos duas opções. Podíamos fazer uma coisa que fosse um compromisso entre os Ban que as pessoas conhecem e aquilo que eles fariam agora. Mas isso seria pouco personalizado. Ou, então, podíamos, que foi o que procurámos fazer, tentar ser nós próprios e fazer aquilo que nos apetecia neste momento. Comercialmente, seria muito mais prático fazermos coisas mais identificadas com o que as pessoas já conhecem dos Ban e tirar partido disso. Mas o objectivo principal do disco não é comercial, é criativo. Há aqui uma componente de relização artística que, para nós, é muito importante.

"Dansity" tem duas tónicas claras: uma parte mais dançável e mexida e outra mais ambiental e introspectiva. Não é um pouco antagónico?
Quando começámos a fazer o disco, sentimos que havia essas duas forças motrizes. Ou nos saíam coisas mais ambientais, muito densas e com um tempo mais lento, ou nos saíam coisas mais parecidas com o que fazíamos antigamente: mais pop, mas também mais electrónicas.O que tentámos, até através do próprio alinhamento, foi que ambas fizessem sentido num só CD. É um disco bastante vasto em termos de espectro, mas que, ouvido do início ao fim, não tem quebras. Ele vai fluindo, mas acaba muito diferente de como começou.

Vinte anos depois, ainda se ouvem os êxitos antigos dos Ban. Acha que daqui a 20 anos ainda se vão ouvir as músicas de "Dansity"?
Não tenho ideia. Lembro-me que, na altura, houve fenómenos iniciais de alguma estranheza sobre as coisas que fazíamos, mas que, depois, foram assimiladas. Uma das características dos Ban foi sempre a de dar passos em frente. E isso, obviamente, implica riscos. Recordo-me que, quando fizemos o "Surrealizar", as pessoas em Portugal interpretavam a música de dança como uma música menor e intelectualmente mais pobre. Hoje, isto é perfeitamente absurdo, mas, na altura, era assim. Em Portugal, fomos o primeiro grupo a usar "sampling", a fazer remisturas de dança e a usar "loops" e elementos de hip-hop nas músicas. Portanto, fomos lançando algumas sementes que, depois, vieram a fazer percursos interessantes até através de outros artistas. Este disco também é um bocadinho isso. É um álbum que tem de ser absorvido com o tempo, como foram os outros discos dos Ban. Agora, não faço ideia se daqui a 20 anos algum destes temas ficará na história.

Qual deles acha que será o mais propício a tal?
"Mod girls". Não é propriamente o tema mais forte do disco em termos comerciais. Foi uma espécie de cartão de visita. Mesmo assim, teve uma aceitação muito interessante, mas acho que há outros temas que podem ser mais fortes. O próximo single, "Funk it", é uma música mais cantada, que, se calhar, pode marcar. Não sei...

Porquê a opção de cantar em Inglês?
A escolha surgiu naturalmente. Não houve um motivo especial. Fomos fazendo em Inglês, começou a soar bem e fomos desenvolvendo assim. Também foi uma maneira de explorarmos um percurso que nunca tínhamos feito. Foi uma opção criativa que tem a vantagem de nos permitir tentar abrir portas fora de Portugal.

A internacionalização é um objectivo?
Já tivemos alguns contactos iniciais e vamos tentar desenvolvê-los a partir de agora. Como editámos por uma editora portuguesa independente, temos mais controlo sobre os direitos das músicas e podemos mais facilmente editar no estrangeiro.

Acha que se existissem as ferramentas de comunicação e os meios que existem hoje, os Ban poderiam ter dado o salto nos anos 90?
Talvez. Não quero parecer demasiado imodesto, mas creio que sim. Até porque tivemos sinais nesse sentido. Recordo que, a dada altura, soube através de um jornal, creio que até foi o JN, que estávamos no top da rádio mais importante de Tóquio, no Japão. Houve alguns pequenos fenómenos que aconteceram e que, se tivessem sido mais bem explorados, talvez nos possibilitassem uma abertura fora de Portugal. Pode ser que aconteça agora.

Até onde acha que estes Ban poderão ir?
Quando nos juntámos, não havia um objectivo claro. A partir de dada altura, passou a ser o de editar um CD. E, agora, é um pouco o de tentar perceber quais são os resultados, as oportunidades que aparecem e ir fazendo. Não há um projecto completamente definido. Evidentemente, há a ideia de tirar o melhor partido possível. Se aparecerem as oportunidades, vamos tentar agarrá-las e estar à altura. Com sinceridade, acho que fizemos um disco muito bom e as pessoas, com tempo, vão percebê-lo muito melhor. Não é um disco fácil, mas é um disco que está muito conseguido. Quando sentirmos que há um entendimento melhor do que são os Ban agora, nós próprios vamos ter a ideia das coisas que queremos fazer a seguir. Ainda não tenho o espaço temporal suficiente, mas, com sinceridade, acho que fizemos um disco muito bom e o resultado final é muito mais moderno e actual do que se calhar eu próprio poderia pensar no início.

Além de vocalista, neste disco, surge como produtor. Sentiu-se confortável com as rédeas na mão?
É verdade. Sou menos vocalista e mais produtor. Em termos vocais, eu e a Mariana mais ou menos "dividimos" o disco. No passado, já participávamos muito na produção, mas, desta vez, eu e o João Pedro Ferraz assumimos essa tarefa por completo. Tirou-me muitas horas, porque é um trabalho minucioso, mas foi uma coisa que me deu muito prazer. Aliás, no futuro, eu gostava de continuar a fazer trabalhos de produção para outras bandas.

E já tem algum projecto em vista?
Estou a começar a ouvir coisas, mas ainda não tenho nada completamente definido. Pretendo que este disco abra portas quer a nível nacional, quer a nível internacional para, depois, outros projectos a que eu possa estar ligado, com gente mais nova, possam vir a ter um percurso interessante. Gostava de me dedicar à produção com gente mais nova e, no fundo, fazer um pouco por eles aquilo que, se calhar, alguém devia ter feito pelos Ban há dez ou 15 anos. Talvez as coisas a nível internacional tivessem sido bastante diferentes.

Imagina-se a deixar a música outra vez?
Este disco não é um epílogo dos Ban. Pretente ser precisamente o início de um novo ciclo do grupo. Não posso ter a certeza do que se vai passar, mas penso que a música vai ter um papel fundamental na minha vida nos próximos anos. Quer como artista, quer como produtor.

Jornal de Notícias
 
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