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Polícias denunciam más condições das esquadras

florindo

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Em muitas esquadras falta privacidade para a apresentação de denúncias e há muitos agentes da PSP a trabalhar em situações degradantes.


Esquadra dos Olivais, em Lisboa. 21h00. Uma mulher quer participar o desaparecimento de uma carteira. Com pouco dinheiro, mas muitos documentos, entre os quais cartões de identificação e de crédito. O graduado de serviço vai registar a participação e precisa dos seus dados pessoais e dos pormenores da carteira: “Como era? De que cor? O que lá tinha dentro?” vai perguntando. Mas a sua atenção é constantemente interrompida pelo telefone, a seu lado. Colegas pretendem informações sobre as escalas de serviço, relatam ocorrências, precisam de comunicar com agentes de outras esquadras. O graduado deixa de escrever, transfere a chamada para os colegas, volta a escrever. “Peço desculpa”, diz, retomando o registo do desaparecimento da carteira.

A secretária está quase encostada à parede, junto a uma pequena janela que dá acesso ao hall de entrada da esquadra e que funciona como um guichet.

Lá fora, através da janela aberta a meio do gabinete, toda a gente pode ouvir com clareza o que diz a mulher sobre as características da sua carteira assim como ela pode ouvir outra mulher desesperada, do outro lado, querendo participar o desaparecimento do filho. “Ele disse-me que ía para o pai, mas o pai também não sabe dele”, chora. “Tenha calma, pede-lhe outro polícia. Sabe o número de telefone de algum amigo?” Não, responde a mulher. “E o pai, sabe onde mora?” “Isso sei”. “Ó chefe, o melhor é mandar lá um carro patrulha”, diz o polícia, interrompendo outra vez a concentração do graduado no registo do desaparecimento da carteira.

O movimento de polícias a entrar e a saír na sala é constante. O telefone não pára de tocar. Há cada vez mais gente à espera.

“Isto é uma confusão”, protesta a mulher que quer ver despachada a participação sobre a carteira. “Se não fosse o medo que andem para aí com os meus cartões, nem cá vinha. Como é que conseguem trabalhar assim?”

“Eu já disse que é impossível trabalhar com isto aberto”, diz o graduado apontando para a janela que parece um guichet. “Mas o comandante [olha para cima, que a esquadra fica numa cave e lá em cima é o Comando] entende que tem de ficar aberta e é um barulho que não dá”

Ao lado do graduado, outro polícia sugere à mulher zangada: “Olhe porque é que não apresenta uma reclamação?”

“Não, estou a ver que com estas condições vocês não podem fazer melhor. Mas é incrível, pá”

“Estou a falar a sério”, diz o polícia.”É que as reclamações podem ajudar a melhorar as coisas”

“Não há privacidade nenhuma para os cidadãos apresentarem denúncias, não há condições para os polícias trabalharem”, diz ao PÚBLICO, um dos agentes colocados na esquadra dos Olivais.

“O problema é que é assim na grande maioria das esquadras” assegura Peixoto Rodrigues, do Sindicato Unificado da Polícia (SUP). “Há esquadras com condições péssimas, que não são adequadas nem para a polícia exercer a sua actividade nem para receber o cidadão. Esquadras que, inclusivamente, já tiveram, várias vezes, ordem para fechar”.

Segundo afirma, a maior parte dos polícias vem de fora de Lisboa e muitos dormem em camaratas nas esquadras que, frequentemente não possuem condições para um bom descanso.

Um dos operacionais da intervenção rápida e investigação da PSP dos Olivais, confirma que é precisamente o que se verifica lá, já que o barulho e movimento permanente na esquadra, não deixa que os polícias descansem”.

“Com estas condições, ninguém fica satisfeito”, afirma Peixoto Rodrigues. “Nem os polícias, nem os cidadãos”.

Num barracão, em Almada

A falta de condições acrescenta-se ao risco em que tantas vezes trabalham.

Na freguesia dos Olivais os polícias ocupam-se sobretudo das queixas de furtos no interior de veículos, de furtos de esticão e da investigação de assaltos a casas. E queixam-se dos baixos ordenados.


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