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Uma organização ligada ao narcotráfico no Equador conseguiu, através de cinco cabo-verdianos e um português, montar um esquema para colocar avultadas quantidades de cocaína em Portugal. O truque era camuflar o produto na importação de óleo de soja e fruta.
Mas a Polícia Judiciária conseguiu detectar o método e identificar vários dos envolvidos, agora acusados pelo Ministério Público por crimes de tráfico de estupefacientes. O julgamento inicia-se no próximo dia 10, no Tribunal de Matosinhos.
Um português, dono de uma empresa de importação e exportação de produtos alimentares, a atravessar dificuldades financeiras, foi seguido dia e noite pelos investigadores. Através de escutas telefónicas, foi possível detectar um relacionamento muito próximo com dois cabo-verdianos, residentes em Lisboa, e outro indivíduo da mesma nacionalidade, que reside no Equador e fazia a "ponte" com o núcleo da organização criminosa - que as autoridades ainda não conseguiram identificar.
Aliás, o suspeito residente no Equador não foi, ainda, capturado pelas autoridades, embora esteja identificado. Está dado como fugido à Justiça.
Através das comunicações interceptadas pelas autoridades - que incluíam mensagens de correio electrónico - foi combinado o modo de concretização do transporte da cocaína. Nas conversas, os suspeitos não se referiam explicitamente à droga mas aludiam aos produtos de "fachada" - como óleo de soja, bananas e "yuca" (mandioca) - notoriamente preocupados em como se desfazerem daqueles, após o chegada ao Porto de Leixões, em Matosinhos, e passagem pela Holanda.
Neste contexto, o empresário português - actualmente em prisão preventiva - foi apanhado em escutas a pedir a um dos cabo-verdianos para arranjar mini-mercados em Lisboa que pudessem aceitar facturas e ficar com os produtos de graça.
Outra tarefa deste suspeito era arranjar locais para o armazenamento dos produtos, com vista à posterior retirada da droga das paletes em que vinha escondida. Para isso, falou com amigos que se disponibilizaram a ceder espaços, embora presumivelmente sem saberem o que estaria por trás. O grupo deu-se ao trabalho também de arrendar um armazém nos arredores de Lisboa.
O principal cúmplice da organização do Equador acabou por ser o filho do cabo-verdiano que vive naquele país da América Latina. Além de manter contactos com o empresário, ainda conseguiu arranjar, através de compatriotas, quem adiantasse dinheiro para as despesas de transporte e de impostos.
O maior apoio foi dado por outro cabo-verdiano que havia sido condenado a oito anos de prisão, também por tráfico, e que esteve fugido da cadeia.
Mediante as escutas e a intercepção das mensagens de correio electrónico, bem como através da vigilância dos suspeitos, a Judiciária soube quando iria chegar a droga. Soube, inclusive, que o grupo efectuou um teste de controlo das fiscalização das autoridades com um carregamento sem qualquer droga - só óleo de soja.
Mas quando, no final de Novembro de 2009, chegou a Portugal um carregamento de bananas, oriundo do Equador e com passagem pela Holanda, os inspectores optaram por não apreender de imediato o produto estupefaciente que ali vinha dissimulado. Só dias mais tarde, quando a droga já estava descarregada num armazém e iria ser distribuída, os suspeitos foram abordados e detidos. Foram apanhados 82 quilos de cocaína.
Jornal de Notícias