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Amadora Vela ou cigarro podem ter causado o fogo. Idoso vivia de esmolas
Uma vela ou um cigarro poderão ter estado na origem das chamas
Uma vela ou um cigarro poderão ter estado na origem das chamas
Um homem que há cerca de 50 anos vivia numa espécie de anexo num dos quintais de um prédio situado na Venteira, Amadora, morreu ontem, parcialmente carbonizado, devido a um incêndio.
Poucos eram os moradores daquela zona da Venteira que não conheciam o "ti Chico". Há cerca de 50 anos que vivia de forma miserável numa construção abarracada que teria pouco mais do que quatro metros quadrados.
Ontem, por razões que não estão ainda totalmente explicadas - a Polícia Judiciária esteve no local a recolher indícios -, a vizinhança viu fumo a sair do telhado da habitação improvisada de Francisco e chamou os bombeiros. Já nada havia a fazer. O idoso morreu, vítima do fumo e das chamas, entre garrafas, velas e dezenas de sacos cheios de trapos.
De acordo com Mário Conde, comandante dos Bombeiros da Amadora, o alerta foi dado cerca das 8.30 horas. Francisco, que teria entre 70 e 80 anos, foi já encontrado cadáver naquele pequeno espaço insalubre, desprovido de água e electricidade. A porta estava trancada e os bombeiros tiveram de arrombá-la para entrar.
António Silva, de 68 anos, foi morar para a Venteira com 18 anos e já se recorda de ver o "ti Chico" a vaguear pelas ruas, quase sempre carregando sacos com os seus poucos haveres. Foi pedreiro, mas deixou de trabalhar cedo e sobrevivia com uma reforma que não chegava aos 200 euros. "Era boa pessoa, não se metia com ninguém. Nós, os vizinhos, ajudávamos como podíamos, dando dinheiro, roupa e comida. Por vezes, dava-lhe também um pouco de apoio moral", contou.
Aquele morador recorda que Chico andava sempre limpo e que estava sempre pronto a ajudar os outros, limpando as ervas dos quintais. Sempre que alguém morria na zona, Chico aparecia na igreja para velar o corpo.
Ultimamente, porém, já com a a idade a pesar, e o corpo mais curvado, e sem a mesma saúde mental, desmazelou-se. Os vizinhos ofereciam roupa, mas ele continuava usando trapos. Passou a beber de forma desregrada.
O anexo que servia de casa a "ti Chico" tem acessos pela Rua João XXI e pertence aos quintais de um prédio que tem entrada pela Rua 7 de Junho. Os moradores nunca tiveram coragem para expulsar o sem-abrigo. Pelo contrário. Devido à sua recusa em aceitar o apoio da Segurança Social e dos irmãos - que vivem no Alentejo e que tentaram levá-lo com eles - construíram-lhe um anexo com tijolo, para que não tivesse frio.
"Fizemos a casinha. Até arranjámos uma pequena cama para colocar lá dentro, mas ele, ao princípio, ia dormir para o vão das escadas. Depois, lá se habituou. No entanto, sempre foi alertado para não fazer fogueiras lá dentro", explicou Cidália Dores, uma das moradoras do prédio onde Chico tinha o anexo.
O idoso recebia comida de um grupo de voluntários. Um destes voluntários revelou que o "ti Chico" era muito reservado e não deixava ninguém aproximar-se ou entrar no anexo. Durante o dia, vagueava pela rua, sentava-se num banco junto à igreja matriz, mas recolhia-se muito cedo. "Geralmente, deitava-se por volta das 17 horas. Muitas vezes, já nem nos abria a porta e tínhamos de deixar o saco de comida na rua.
O incêndio de ontem aconteceu a poucos metros da igreja matriz da Amadora, que no sábado também foi atingida por um pequeno fogo com origem num curto-circuito de um televisor.
Jornal de Notícias