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Xadrez como libertação

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Estreia amanhã, quinta-feira, "Xeque à rainha", filme de Caroline Bottaro no qual Sandrine Bonnaire tem mais um papel de carreira, interpretando a personagem de uma criada frustrada a quem um estranho patrão, Kevin Kline, ensina os fundamentos do xadrez.

Aos 43 anos, Sandrine Bonnaire é uma das mais consensuais "instituições" do cinema francês, contando já com cerca de meia centena de trabalhos. Começou nova, ainda com 15 anos, mas conseguiu escapar ao estigma dos actores juvenis porque foi logo descoberta por Maurice Pialat, que lhe deu papéis de jovem à revelia das comédias populares da época, colocando-se desde essa altura como actriz madura e de enorme talento e sensibilidade.

Com a partida de Maurice Pialat, o cinema francês ficou mais pobre. Mas Sandrine Bonnaire, além de uma carreira de realizadora iniciada com uma enorme sensibilidade, com um documentário sobre a sua irmã autista, tem-se mostrado fiel ao rigor, à qualidade e à profundidade psicológica dos papéis a que o seu mentor a habituou.

Dito de outra maneira, cada novo filme de Sandrine Bonnaire traz com ele uma chancela de qualidade e interesse que nos faz olhar para ele logo de outra maneira.

Outro modo de vivência

É o que acontece com "Xeque à rainha", tradução possível de um original francês, "Joueuse", com outras leituras possíveis. No entanto, e pelo menos, introduz-nos logo no domínio do jogo de xadrez, que, aos poucos, vai tomando conta da vida da personagem central da trama.

Hélène, cuja idade não se pretende ser menor do que a da actriz que a representa, vive na Córsega, em França, e ganha a vida a trabalhar como criada de quarto num hotel. Um dia, enquanto está a arranjar o quarto de um casal de hóspedes, vê-os a jogar xadrez na varanda, notando a sensualidade que se desprende dos seus gestos e ficando intrigada pela complexidade dos movimentos das várias peças em jogo.

Hélène, cuja vida familiar não atravessa um bom momento, na relação fria e distante com o marido e com a filha, ganha mais uns trocos a fazer limpezas no casarão de um médico americano que nunca sai de casa e a quem a população acusa, em surdina, de ter ajudado a mulher a morrer.

Um dia, Hélène descobre um tabuleiro de xadrez lá em casa e pede-lhe que a ensine a jogar. Nem que para isso tenha de fazer a limpeza de graça...

Não será completamente subtil a mensagem de "Xeque à rainha". Trata-se de um filme sobre a emancipação feminina, escrito e realizado por uma realizadora, Caroline Bottaro, baseado num romance de outra mulher, Bertina Henrichs.

A sua originalidade decorre, então, do meio a que a personagem central recorre para se afirmar. No seu percurso como jogadora, em torneios de cada vez maior importância, mas sobretudo no seu meio familiar, que consegue serenar, é através do xadrez, das suas várias peças, das tácticas e estratégias a que tem de recorrer, das defesas e dos ataques, que Hélène vai conseguir recolocar nos locais certos as peças em jogo no tabuleiro da sua existência quotidiana.

No resto, "Xeque à rainha" é, ainda, um olhar crítico e mordaz, mas tranquilo e bem disposto, de uma certa sociedade marginal às grandes concentrações urbanas, um olhar sobre um outro modo de vivência.

E é, também, a oportunidade para Kevin Kline se estrear num papel em língua francesa, sem perder o tom e a convicção que imprime sempre às personagens que representa.

Jornal de Notícias
 
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