"Escapou-lhe o pé e caiu desamparado"
Pescador desportivo desaparecido há dois dias após queda de arriba
Escolheu uma espécie de "parapeito" na encosta de uma arriba, em Lagoa, para fazer o que mais gostava, mas foi traído pelo piso escorregadio. O pescador lúdico, de 65 anos, caiu anteontem ao mar de uma altura de cerca de cinco metros.
Francisco Rosa Louzeiro tinha na Rocha Brava, perto do Farol de Alfanzina, o seu local de eleição para a prática da pesca lúdica. Por volta das 16.50 horas, foi visto a escorregar da arriba e a cair nas águas.
"Escapou-lhe o pé e caiu desamparado. Ainda embateu várias vezes na arriba, mas acabou por ir parar ao mar", conta Miguel Rodrigues, que testemunhou o incidente. Miguel também estava a pescar na mesma altura, mas numa outra zona da arriba, de frente para o local da queda.
"Foi uma cena horrível. Tudo aconteceu em poucos segundos. Assisti e não pude ajudá-lo", lamenta. Francisco Louzeiro ainda veio à tona, mas afundou-se logo de seguida. "Não fez qualquer gesto. Não me pareceu que estivesse consciente", acrescentou. Única testemunha, foi Miguel quem telefonou para o 112 a dar o alerta.
As buscas foram iniciadas pouco tempo depois na tentativa encontrar o pescador ainda com vida. Para a zona, a Polícia Marítima (PM) enviou uma embarcação da estação salva-vidas de Ferragudo, que navegou junto ao local onde a testemunha referiu ter visto a vítima cair. Às buscas juntaram-se elementos do Instituto de Socorros a Naufrágos e dos Bombeiros Voluntários de Lagoa e ainda um helicóptero EH 101 da Força Aérea Portuguesa. Com o cair da noite, as esperanças diminuíram, tendo os trabalhos sido dados como terminados já perto das 23 horas.
Chaves e peça de roupa
Ontem, às 8 da manhã, os meios regressaram à Rocha Brava, com novos reforços. À lancha salva-vidas juntou-se uma mota de água e uma embarcação da PM de Portimão, auxiliados por um helicóptero Kamov da Protecção Civil. Devido à possibilidade de o corpo de Francisco Louzeiro estar preso no fundo do mar - com cerca de seis metros de profundidade - viajaram de Lisboa mergulhadores forenses da PM. Os homens entraram na água durante a tarde, no local onde a testemunha refere que a vítima caiu, mas apenas encontraram chaves e peças de roupa. As buscas acabaram por ser suspensas após o mergulho e serão retomadas esta manhã.
Na zona não existem sinais de perigo. A alguns metros de distância há uma vedação de madeira junto a uma arriba, mas isso não assusta os pescadores, que ali continuam a arriscar a vida.
"É um local perigoso. É bastante alto, com cerca de 50 metros, e ainda por cima escorregadio", descreve o comandante da Capitania do Porto de Portimão e Lagos. Para Cruz Martins, a falta de sinalização não é desculpa. "As característica da zona estão à vista. Infelizmente ainda há pessoas que, mesmo conhecendo os riscos, cometem erros desta natureza", acrescentou.
Situação que o irmão da vítima reconhece. "Todo o pescador arrisca", confessa Américo Louzeiro, também ele pescador lúdico. Na altura do incidente, também ele arriscava a vida, mas numa outra arriba a poucos metros da encosta de onde Francisco caiu.
Jornal de Notícias