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Anthony Hopkins, Gemma Jones, Naomi Watts, Josh Brolin, Antonio Banderas, LucyPunch e Freida Pinto. Mais um elenco de luxo numa digressão pela vida que levou o novo filme de Woody Allen, "Vais conhecer o homem dos teus sonhos" - que estreia hoje, quinta-feira, em Portugal -, ao Festival de Cannes, em França, onde falou à imprensa.
No novo filme, há poucas pessoas felizes. Esse facto representa a sua visão actual da vida?
Sempre fui muito pessimista. Desde rapaz. E não melhorou com a idade. A vida é uma experiência muito negra, um verdadeiro pesadelo. A única maneira de sermos felizes é dizermos algumas mentiras a nós próprios. Nem sou a pessoa mais articulada para dizer isto. Já foi dito melhor por Nietzsche, por Freud, por Eugene O"Neil.
Até parece contraditório com o espírito de alguns dos seus filmes...
Se formos muito honestos, a vida é insuportável. É por isso que as únicas duas pessoas felizes no meu filme são aquele casal. Vi uma vez um casal assim numa festa e pensei logo que deviam ser completamente loucos. Mas eram muito mais felizes do que eu.
Mais uma vez, rodeou-se de excelentes actores.
O segredo dos meus filmes é contratar bem. Se contratei o Josh Brolin, o Anthony Hopkins, o Antonio Banderas, a Naomi Watts, não me posso enganar. Que tipo de direcção é que se pode dar a esta gente? Quase nenhuma. Depois de os contratar, a responsabilidade é deles. Limito-me a calar a boca e esperar que me dêem o meu cheque.
Mas como é que os escolhe?
Quando estou a escrever, não penso em ninguém em particular. Só depois é que me ponho a procurar. Por exemplo, não conhecia sequer a Lucy Punch. Mas depois de ver o trabalho dela, vi que era a actriz certa. Dito isto, gostava imenso de trabalhar com a Cate Blanchett ou com a Reese Witherspoon. Mas nunca lhes ofereci nenhum papel.
O seu filme fala sobre o envelhecimento e a morte. Cannes já mostrou o mais recente de Manoel de Oliveira, que afirmou aqui que a única certeza na vida é a morte...
Se estiver em boa forma como o Oliveira, gostava de chegar aos 100 anos. Mas não queria se tivesse de andar com um andarilho. A minha relação com a morte é sempre a mesma. Sou fortemente contra. Tenho sorte, porque os meus pais viveram até muito tarde. Talvez isso seja bom para mim.
Sente-se diferente, com a idade?
Envelhecer não é vantagem nenhuma. Não ficamos mais inteligentes nem mais generosos. As costas doem mais, temos mais problemas de digestão. Vemos pior, precisamos de aparelho para ouvir. O meu conselho é evitá-lo.
Na maior parte dos seus filmes, sente-se que se está em Nova Iorque, em Londres ou em Barcelona. Aqui, poderia ser em qualquer lugar. Foi algo deliberado?
Em primeiro lugar, o filme tinha de ser falado em Inglês. Por isso, não o poderia localizar em França ou em Espanha. Mas, como não sabia que actores ia ter, a história tanto se poderia passar em Nova Iorque ou em Londres.
Uma das personagens mais importantes é o narrador. De quem é a voz dele? Não pensou que poderia ser um bom "papel" para si?
Se eu fizesse a narração, o filme era outro, de certa forma. Já tinha trabalhado com o actor que faz a voz, em "Vicky Cristina Barcelona" e "Melinda e Melinda". Mas já não me lembro do nome dele. Estou a ficar velho, começo a ter dificuldade com os nomes...
Mas de quem é a voz? Duma entidade suprema, do seu alter-ego?
Muitos dos meus filmes são como romances. Muito provavelmente, se eu não fizesse filmes, teria escrito livros. Esta voz é como quem nos conta a história, quando estamos a ler um livro.
Quando é que o vamos ver outra vez como actor?
Durante muitos anos, fiz o papel romântico. Mas agora estou velho. Não tem piada interpretar um tipo que não fica com as miúdas. É frustrante fazer um filme com a Scarlett Johansson ou com a Naomi Watts e ser outro tipo a ficar com elas. Eu sou o realizador, o velhote que está lá atrás a dirigir o filme. Preferia ser o tipo que está com elas no restaurante e lhes diz mentiras.
O título original do filme, "You will meet a tall dark stranger", parece ter um duplo significado. Pode ser o homem dos sonhos de uma mulher ou a morte...
Nos Estados Unidos, quando uma mulher ouve essa expressão, fica logo excitada. Pensa que vai conhecer o Banderas ou o Brolin. Mas tem um duplo significado. Há um estranho alto que nenhum de nós tem vontade de conhecer.
Acredita em adivinhar o futuro, como no filme?
Não acredito nada. É tudo uma tolice, só para nos extorquir dinheiro. No cinema, pode ter graça, mas na vida real é uma indústria que vale um bilião de dólares a despojar pessoas das suas fortunas, aproveitando-se delas quando estão mais vulneráveis.
Jornal de Notícias
No novo filme, há poucas pessoas felizes. Esse facto representa a sua visão actual da vida?
Sempre fui muito pessimista. Desde rapaz. E não melhorou com a idade. A vida é uma experiência muito negra, um verdadeiro pesadelo. A única maneira de sermos felizes é dizermos algumas mentiras a nós próprios. Nem sou a pessoa mais articulada para dizer isto. Já foi dito melhor por Nietzsche, por Freud, por Eugene O"Neil.
Até parece contraditório com o espírito de alguns dos seus filmes...
Se formos muito honestos, a vida é insuportável. É por isso que as únicas duas pessoas felizes no meu filme são aquele casal. Vi uma vez um casal assim numa festa e pensei logo que deviam ser completamente loucos. Mas eram muito mais felizes do que eu.
Mais uma vez, rodeou-se de excelentes actores.
O segredo dos meus filmes é contratar bem. Se contratei o Josh Brolin, o Anthony Hopkins, o Antonio Banderas, a Naomi Watts, não me posso enganar. Que tipo de direcção é que se pode dar a esta gente? Quase nenhuma. Depois de os contratar, a responsabilidade é deles. Limito-me a calar a boca e esperar que me dêem o meu cheque.
Mas como é que os escolhe?
Quando estou a escrever, não penso em ninguém em particular. Só depois é que me ponho a procurar. Por exemplo, não conhecia sequer a Lucy Punch. Mas depois de ver o trabalho dela, vi que era a actriz certa. Dito isto, gostava imenso de trabalhar com a Cate Blanchett ou com a Reese Witherspoon. Mas nunca lhes ofereci nenhum papel.
O seu filme fala sobre o envelhecimento e a morte. Cannes já mostrou o mais recente de Manoel de Oliveira, que afirmou aqui que a única certeza na vida é a morte...
Se estiver em boa forma como o Oliveira, gostava de chegar aos 100 anos. Mas não queria se tivesse de andar com um andarilho. A minha relação com a morte é sempre a mesma. Sou fortemente contra. Tenho sorte, porque os meus pais viveram até muito tarde. Talvez isso seja bom para mim.
Sente-se diferente, com a idade?
Envelhecer não é vantagem nenhuma. Não ficamos mais inteligentes nem mais generosos. As costas doem mais, temos mais problemas de digestão. Vemos pior, precisamos de aparelho para ouvir. O meu conselho é evitá-lo.
Na maior parte dos seus filmes, sente-se que se está em Nova Iorque, em Londres ou em Barcelona. Aqui, poderia ser em qualquer lugar. Foi algo deliberado?
Em primeiro lugar, o filme tinha de ser falado em Inglês. Por isso, não o poderia localizar em França ou em Espanha. Mas, como não sabia que actores ia ter, a história tanto se poderia passar em Nova Iorque ou em Londres.
Uma das personagens mais importantes é o narrador. De quem é a voz dele? Não pensou que poderia ser um bom "papel" para si?
Se eu fizesse a narração, o filme era outro, de certa forma. Já tinha trabalhado com o actor que faz a voz, em "Vicky Cristina Barcelona" e "Melinda e Melinda". Mas já não me lembro do nome dele. Estou a ficar velho, começo a ter dificuldade com os nomes...
Mas de quem é a voz? Duma entidade suprema, do seu alter-ego?
Muitos dos meus filmes são como romances. Muito provavelmente, se eu não fizesse filmes, teria escrito livros. Esta voz é como quem nos conta a história, quando estamos a ler um livro.
Quando é que o vamos ver outra vez como actor?
Durante muitos anos, fiz o papel romântico. Mas agora estou velho. Não tem piada interpretar um tipo que não fica com as miúdas. É frustrante fazer um filme com a Scarlett Johansson ou com a Naomi Watts e ser outro tipo a ficar com elas. Eu sou o realizador, o velhote que está lá atrás a dirigir o filme. Preferia ser o tipo que está com elas no restaurante e lhes diz mentiras.
O título original do filme, "You will meet a tall dark stranger", parece ter um duplo significado. Pode ser o homem dos sonhos de uma mulher ou a morte...
Nos Estados Unidos, quando uma mulher ouve essa expressão, fica logo excitada. Pensa que vai conhecer o Banderas ou o Brolin. Mas tem um duplo significado. Há um estranho alto que nenhum de nós tem vontade de conhecer.
Acredita em adivinhar o futuro, como no filme?
Não acredito nada. É tudo uma tolice, só para nos extorquir dinheiro. No cinema, pode ter graça, mas na vida real é uma indústria que vale um bilião de dólares a despojar pessoas das suas fortunas, aproveitando-se delas quando estão mais vulneráveis.
Jornal de Notícias