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Presidente reeleito, como é tradição, mas obtendo menos 540 mil votos

florindo

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Out 11, 2006
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Cumpriu-se a tradição de reeleger o presidente em funções. Porém, num sufrágio marcado por múltiplos sinais de protesto, com menos 540 mil votos. Começa hoje uma nova fase das relações entre a Presidência e um Governo que apostou no cavalo errado.

Nenhuma análise séria dos resultados da eleição presidencial pode iludir uma realidade: a dimensão da abstenção e do voto em branco e nulo e o score alcançado por José Manuel Coelho, o candidato claramente anti-sistema, assumiu contornos de gigantesco protesto, que não autoriza a indiferença.

Cavaco nem em 2001, quando perdeu com Jorge Sampaio, obtivera tão baixa votação. Manuel Alegre "encolheu" tanto que, por mais generosidade que queira mostrar ao assumir as dores da derrota, não deixa de arrastar consigo um PS corroído pela penetração de Fernando Nobre no seu eleitorado e um BE condenado a "começar de novo", depois de partilhar a candidatura com o poder instalado. Quanto a Francisco Lopes, a fasquia de 300 mil votos representa pouco mais do que um prémio de consolação, por revelar que o PCP não absorveu se não uma parte do voto de descontentamento à Esquerda.

Se ninguém ficou imune à vaga contestatária - da qual também terá beneficiado Fernando Nobre - o que a partir de hoje vale a pena avaliar é que efeitos terá na vida de um país a braços com uma crise económica.

O que quer dizer estabilidade?

Nenhum presidente perde legitimidade por ser reeleito com menos apoio popular. E o perfil de Sócrates está nos antípodas de António Guterres, que atirou a toalha ao chão depois de perder eleições autárquicas. Postas as coisas nestes termos, resta a força de cada um para as regular relações entre Belém e S. Bento. Que podem ser mais tensas do que no primeiro mandato, não tanto em atenção ao estatuto minoritário do Governo, mas à pressão que a Oposição de Direita tenderá a acentuar.

Na noite eleitoral, uma palavra foi comum às intervenções de Cavaco e Sócrates: estabilidade. Os contextos em que foi usada é que lhe emprestam tonalidades diferentes. O presidente promete-a, "sem abdicar" dos poderes que o cargo confere e sendo ao mesmo tempo "mais actuante" nas áreas económica e social. Assim define a "magistratura activa". Já o primeiro-ministro quer retomar um clima de "lealdade institucional". Sabe que do outro lado está alguém habilitado a dissolver o Parlamento...

Nestas condições, embora Paulo Portas proclame a emergência de "um novo ciclo" - lembra o líder do CDS que na primeira eleição após as legislativas o candidato apoiado pelo partido do Governo foi batido -, os resultados de ontem não tornarão nem mais nem menos provável o accionamento da "bomba atómica". Cavaco poderá vetar (ainda mais) medidas, como fizeram os seus antecessores em segundos mandatos. Mas, institucionalista como é, tenderá a depositar nas mãos da Assembleia da República o destino do Governo socialista.

Passos Coelho conhece este perfil. Por isso não confunde o desejo com a realidade. Ontem, separou águas - presidenciais não são legislativas - e voltou a garantir que não quer cobrar ao candidato o apoio concedido. Embora tenha repetido não acreditar que Sócrates cumpra a legislatura.

Jornal de Notícias
 
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