"Bem os avisámos para não irem para a piscina"
A morte dos adolescentes José Pedro Leitão e João Alves, de 13 e 14 anos, na piscina municipal de Cinfães, deixou a freguesia de Nespereira de luto. Os familiares e amigos dos jovens estão a receber apoio psicológico, providenciado pela Câmara de Cinfães.
José Pedro Andrade, de 13 anos, é um dos mais abalados. Ele, que ainda se atirou à piscina para tentar salvar os amigos, não pregou olho na noite passada e não consegue ficar sozinho. "Bem os avisámos para não irem para a piscina, mas eles quiseram ir na mesma", lamenta, recordando a tarde em que perdeu os dois amigos. Os funerais realizam-se hoje, pelas 16 horas, em Nespereira.
"Saímos da escola por volta das onze horas, fomos almoçar à pizzaria e depois fomos logo para o campo da bola", lembra. Era um grupo de nove adolescentes, seis rapazes e três raparigas, todos da mesma turma, no 8º ano da Escola Secundária/3 Prof. Dr. Flávio Pinto Resende. Às sextas-feiras, de 15 em 15 dias, não tinham aulas de tarde, pelo que decidiram ir brincar para o campo de futebol até chegar a hora de apanharem o autocarro escolar para casa, por volta das 17.30 horas.
José Pedro Leitão, João Alves e Jorge Soares preferiram ir para a piscina, ao lado do campo, "molhar os pés e deitar-se ao sol". "Nenhum deles sabia nadar, por isso eles não tinham intenção de se atirar à piscina", assegura o amigo.
No entanto, "o Pedro escorregou e caiu para a água e o João saltou para o ajudar", acabando por ser fatal para ambos. "O Jorge começou a gritar e nós fomos todos a correr. Quando chegámos, eles estavam a flutuar, com a cabeça dentro da água", recorda.
De imediato, "despi as roupas e entrei na piscina, mas não consegui avançar porque escorregava muito, aquilo estava cheio de lodo". Chegou a sentir sérias dificuldades para sair da piscina: "Tiveram que me puxar se não ficava lá". Já cá fora, José Pedro Andrade e os amigos foram pedir ajuda "a duas senhoras que estavam a passar", uma das quais foi à GNR, que fica nas imediações, e a outra telefonou logo para os bombeiros.
Aflito, José Pedro ligou ao pai, uma vez que ele pertence ao comando dos Bombeiros de Nespereira, mas enquanto ligava já se ouviam as sirenes dos Bombeiros de Cinfães a chegar ao local. "Eles chegaram logo. Entraram dois na piscina, mas um acabou por sair. Depois chegou um senhor, que se atirou e ajudou a tirar o Pedro", recorda o adolescente, que não conseguiu ver mais nada porque a GNR os afastou do local.
O pai, José Domingos Andrade, chegara entretanto e ajudou nas tentativas de reanimação dos dois jovens, que já tinham sido retirados das águas. "A equipa foi incansável", assegura, "ninguém queria desistir dos miúdos por isso é que estiveram quase duas horas a tentar a reanimação". "É ridículo criticarem agora os bombeiros, que fizeram um trabalho impecável", frisa.
Futebol cancelado em homenagem às vítimas
Não fosse a tragédia ocorrida na piscina municipal de Cinfães e hoje, às 10.30 horas, estaria a decorrer normalmente o jogo dos Iniciados entre o Nespereira Futebol Clube e o Resende. João Alves integrava a equipa da terra desde o início da época e Pedro Leitão preparava-se para entrar na próxima temporada.
Devido à morte dos dois adolescentes, o jogo foi cancelado, assim como o da equipa sénior, que à tarde iria defrontar o CDR Moimenta da Beira. "O capitão da equipa era primo do Pedro e padrinho do João e, para além disso, todos somos amigos dos miúdos. Estamos todos de luto, ninguém tinha condições para jogar", afirma Ercílio Galhardo, vice-presidente do clube.
A equipa dos Iniciados "funciona como uma família, interessa mais o carácter social do que o competitivo", por isso "foi com grande consternação que recebemos a notícia da morte destes dois elementos".
As causas da morte dos adolescentes serão determinadas pelo resultado das autópsias. As manobras de reanimação prolongaram-se durante cerca de duas horas - o óbito só foi confirmado pelas 15.45 horas.
Carlos Costa, médico de serviço de urgência no Centro de Saúde de Cinfães assinala que "fosse o motivo da paragem cardio-respiratória hipotermia ou afogamento, a abordagem teria sido a mesma e por tempo prolongado". O clínico assegura não ter falado na hipótese de congestão, como ontem noticiámos.
Jornal de Notícias