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Uma obra musical

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Da clássica à contemporânea, a música repousa, escrita, na Biblioteca Musical, no Porto. Visitámos este último reduto que vende partituras para todo o país há 80 anos.

Antes as pessoas vinham para aqui conversar e tocar nos instrumentos. Hoje há livros que morrem nas prateleiras

Wagner e Beethoven, retratados em dois painéis de azulejo, dão rosto à quase centenária Biblioteca Musical. Maria Celeste conhece este mundo por dentro e por fora. «Estudava piano no Conservatório. De vez em quando passava aqui, olhava para os nomes dos livros nas vitrinas e conhecia-os a todos», conta. Há 44 anos agarrou uma vaga e aqui ficou atrás do balcão, deixando o piano para trás.

Fundada em 1927, a Biblioteca Musical transferiu-se para o edifício na Rua Cândido dos Reis na década de 50. A Américo Araújo e Flávio Cunha, os primeiros donos, seguiu-se Jorge Macedo Peixoto, que há 25 anos entregou o legado nas mãos dos actuais sócios: Costa, Veiga e Simões.

Além dos livros, a Biblioteca Musical também vende instrumentos musicais e garante a reparação e afinação de pianos em oficinas fora da loja. Ao longo dos anos cada proprietário foi imprimindo nova dinâmica ao negócio: «Entre as décadas de 60 e 80 investimos na música electrónica, pois o mercado assim o exigia. Também chegámos a especializar-nos em música sacra. Hoje, a partir de catálogos que mais parecem listas telefónicas, escolho os livros consoante as tendências», explica Celeste.

A oferta e a especificidade fizeram daqui um ponto de encontro frequente de figuras conhecidas do meio musical. «Quando iniciou a sua carreira, Pedro Burmester alugava aqui o piano para tocar no Rivoli e Lopes Graça vinha cá comprar papel de música», acrescenta a responsável.

Nomes como Mozart, Chopin e Schumann etiquetam as prateleiras dos armários antigos, recheadas de manuais de música: partituras, livros e revistas para todo o tipo de instrumentos, e ainda bibliografia dedicada ao canto. «É tudo importado de Itália, Alemanha, França, Inglaterra e Espanha. Nesta área há muito poucas edições portuguesas».

Numa sala contígua as teclas competem com as cordas: pianos silenciosos, violinos, violoncelos e violas, bombos, um contrabaixo solitário e pequenos instrumentos de percussão que animam uma das montras.

Actualmente a Biblioteca Musical vende mais partituras do que pianos, mas o negócio, confessa Celeste, está longe de ser o que era: «Antigamente toda a gente estudava música. Agora está tudo diferente, é tudo a correr. Antes as pessoas vinham para aqui conversar e tocar nos instrumentos, hoje temos livros que morrem nas prateleiras». Contudo, o principal inimigo das vendas é outro: «As fotocópias prejudicam-nos muito. Há tempos tivemos cá uma representante de uma editora alemã que está a sensibilizar esta parte da Europa para a questão dos direitos de autor».

O silêncio do quotidiano actual da Biblioteca Musical custa a Celeste, que se dedicou a este balcão de alma e coração e abrandou o ritmo dos seus afectos musicais. «Estou dedicada à venda de música e de pianos, não é preciso tocar, é preciso sim vender», diz. Ainda assim não resistiu a sentar-se ao piano de meia cauda 'Otto Meister' e dedilhar a Marcha Turca de Mozart, o seu compositor favorito.

Sol
 
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