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Nuno Duarte/Jel: A canção é uma bomba atómica

florindo

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Seja na pele de Neto dos Homens da Luta, ou na de Jel, o humorista Nuno Duarte traz sempre farpas na língua. Não se diz anticapitalista, mas defende um sistema com mais ética e uma economia em que o lucro não venha em primeiro lugar.

O Festival da Canção foi uma vitória musical ou uma vitória política?

Foi a canção que ganhou, mas é claro que a essa vitória não é alheia a situação actual do país, nem é alheio o nosso percurso.

Tem-se falado da hipótese de serem excluídos da Eurovisão devido à mensagem política. Acha que isso pode acontecer?

Na letra da canção não há uma mensagem política de ataque, mas claro que há política e isso está logo no nome da canção - A Luta é Alegria. A decisão está nas mãos da Eurovisão, mas garanto que, se vetarem a nossa presença, vamos na mesma e tocamos à porta.

É irónico o festival ser na Alemanha?

[Risos] Sim, é bastante irónico, principalmente nesta altura. Há aí umas vozes que dizem que é uma vergonha para Portugal ser representado por nós e que questionam o que os contribuintes alemães irão pensar.

. Está a falar de Miguel Sousa Tavares?

Não fui eu que disse [risos]. O que irão os contribuintes alemães pensar, meu Deus? Que país este, sem vergonha, que manda esta gente . Os Homens da Luta envergonham Portugal, mas os escândalos de corrupção não envergonham, o estado da Justiça não envergonha, o desperdício de dinheiros públicos não envergonha, o desemprego não envergonha. Nada envergonha. Os Homens da Luta é que envergonham?

Mas acha que podem dar uma má imagem do país?

Hoje [10 de Março] dei uma entrevista para o maior jornal do Japão e tenho entrevistas marcadas para a Associated Press, para a BBC, para um jornal grego e para um jornal francês. Pelo menos, está a ser falado. Já é alguma coisa.

Que opinião tem sobre Angela Merkel?

Não quero particularizar. Prefiro falar sobre a situação que a Europa está a viver. É evidente que estamos numa crise, mas estamos a viver um período histórico, um período que vai implicar uma mudança. Espero que seja uma mudança para um mundo mais solidário, para um mundo em que haja mais cooperação e menos individualismo, para um mundo em que o bem-estar das pessoas esteja acima dos mercados.

Está optimista?

Estou cansado, mas optimista. Depois da vitória no Festival e de toda esta atenção mediática, tínhamos duas hipóteses: sacudir a água do capote, ou dar a cara e vestir a camisola. Escolhi a segunda.

Tem alvos?

Tenho. O ressentimento, a tristeza, o desalento, a abstenção, o amorfismo.

Há pessoas ou entidades nesses alvos?

Há responsáveis e cada um de nós tem de assumir a responsabilidade pelos seus actos. Uma das razões que leva a tanta descrença no actual sistema político é a falta de responsabilização de algumas figuras perante os seus actos. Isso afasta as pessoas do sistema. Torna-as descrentes.

Partilha dessa descrença?

Partilho dessa preocupação. Um dos males do nosso sistema político é as pessoas não serem ouvidas. Por vezes, dá impressão que aqueles que decidem vivem numa bolha, afastados do resto da malta.

Costuma votar?

Sim, mas já houve vezes em que não votei - não vou estar aqui com tretas a dizer que votei sempre. Houve muitos anos em que não votei, mas agora sinto-me obrigado a participar.

Vota sempre no mesmo partido?

Já votei em vários partidos, já votei em branco e já votei nulo. Não sofro de partidarite.

Mas há algum partido do qual se sinta mais próximo?

Sinto-me sempre mais próximo dos mais pequenos. Nunca votei em nenhum partido que tivesse assumido o poder depois das eleições em 1975.

É anticapitalista?

Não. Acredito na economia de mercado e na iniciativa privada. Eu sou o exemplo disso, sou um empresário. Neste momento, com os Homens da Luta, trabalham 17 pessoas. Acredito é que tem de haver ética nesta sistema. Mas também não podemos estar à espera que o paizinho Estado resolva as coisas. As pessoas têm de enfrentar os seus problemas e criar as suas soluções.

Não sendo anticapitalista, o seu coração bate à Esquerda.

Em algumas coisas bate à Esquerda, mas há coisas que a Direita defende com as quais me identifico. Defendo a iniciativa privada e também defendo que é preciso menos-Estado-melhor-Estado, que é uma das bandeiras da Direita. Sinceramente, não me considero nem de Direita nem de Esquerda.

Além dos Homens da Luta, também assistimos ao fenómeno Parva Que Sou , dos Deolinda.

Uma canção importantíssima e inteligentíssima. Completamente na mouche. Muito importante, por exemplo, para o protesto de sábado e para uma tomada de consciência da geração mais nova. Importante porque é uma catarse, obriga a reconhecer o erro - que parva que eu sou -, que é o primeiro passo para a mudança.

Mas esse que parva que eu sou é irónico.

Para a Deolinda - a personagem - não é. Aquela é a realidade da personagem. Os Homens da Luta e os Deolinda, que são bandas muito diferentes, têm uma coisa em comum: trabalham personagens. Neste momento, é muito mais fácil e libertador que seja a personagem a falar, porque na personagem conseguimos concentrar uma série de coisas que nós não conseguimos ser. Reconhecer o erro é o primeiro passo para a mudança. O segundo é aquele que nós estamos a tentar: fazer aumentar a auto-estima e o amor próprio - A Luta é Alegria. O terceiro passo é a criação de alternativas. Mas é preciso fazer uma coisa de cada vez.

A propósito dos Homens da Luta e dos Deolinda, Miguel Sousa Tavares falou em demagogia. Compra esse rótulo?

Claro que os Homens da Luta são demagógicos. Os personagens são completamente demagógicos, mas eu prefiro o rótulo de utópico. Essa camisola visto todos os dias. Falo numa economia solidária e numa economia em que o lucro não venha em primeiro lugar. Claro que sou um utópico, mas a democracia também já foi uma utopia. A liberdade de expressão, o direito à greve e o direito a férias também já foram utopias.

Precisamos de uma revolução?

Precisamos de uma revolução de mentalidades. Talvez precisemos de uma revolução ao género do Maio de 68 - uma revolução de ideias e de valores. Isso acho que sim e acho que ela pode acontecer.

Nas ruas?

Dentro de nós, mas claro que passará sempre para a rua. A rua sempre foi o palco das revoluções.

A canção é, de facto, uma arma?

A canção é uma bomba atómica. É poderosíssima. A canção sempre foi uma arma.

Que opinião tem sobre Sócrates?

Todos somos responsáveis, mas ele é um dos grandes responsáveis. O tempo encarregar-se-á de pôr tudo no seu lugar. Espero que a Justiça também.

SOL
 
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