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Testemunha-chave da Casa Pia foi paga para mudar de posição

florindo

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Um freelancer pagou 15 mil euros a uma das testemunhas mais relevantes da Casa Pia para alterar a sua versão dos acontecimentos. A entrevista com a nova versão foi comprada por um jornal.

Uma das principais testemunhas do processo Casa Pia recebeu 15 mil euros para dar uma entrevista e desmentir o que ao longo de oito anos disse ao Ministério Público e ao tribunal. A entrevista foi dada a Carlos Tomás - um jornalista freelancer que em tempos escreveu um livro com Marluce, ex-mulher de Carlos Cruz, e que recentemente entrevistou Carlos Silvino para a revista Focus, em que este também negou o que antes dissera no processo - e foi comprada pelo semanário Expresso.

Vasco, o jovem em causa, confessou os pormenores dessa entrevista numa conversa com o amigo Américo (os nomes são fictícios), outra testemunha do processo. Ambos estiveram, entre outros locais, na casa de Elvas, onde foram abusados, e denunciaram Paulo Pedroso, Jorge Ritto, Carlos Cruz Hugo Marçal e Ferreira Diniz.

«A pior facada é sempre aquela que é dada por um irmão», disse Américo ao SOL, recordando que há uns meses também fora abordado no sentido de desmentir o que tinha dito no processo - precisamente por Carlos Tomás, que perante a sua recusa o terá ameaçado, conforme o SOL então noticiou.

Conversa gravada

Américo tomou a iniciativa de gravar a conversa que teve com Vasco, para recolher provas de que este tinha sido comprado. Tudo começou com um telefonema de Miguel Matias, advogado das vítimas da Casa Pia, dizendo-lhe que tinha sido contactado por Rui Gustavo, jornalista do Expresso, que lhe comunicou que o semanário tinha uma entrevista, filmada por Carlos Tomás, em que Vasco arrepiava caminho em relação a várias coisas que disse em tribunal. O jornalista pediu ao causídico que o colocasse em contacto com outras testemunhas para poder efectuar o contraditório.

Miguel Matias colocou-os a par da situação, mas os jovens recusaram aparecer ao lado do colega que consideram que os atraiçoou.

Américo sabia que Vasco atravessava más condições financeiras, vivendo apenas de biscates, e já ficara intrigado quando descobriu no Facebook que Carlos Tomás fazia parte do grupo de amigos de Vasco.

Controlou então a revolta e ligou-lhe para confirmar em registo áudio o seu pressentimento. Foi directo ao assunto: «O Miguel Matias ligou-me a dizer que tinhas dado uma entrevista ao Carlos Tomás Ele não te ofereceu nada quando falou contigo? A mim, ofereceu».

Vasco negou que tivesse dado a entrevista e assegurou que ainda estava a pensar, apesar de estar inclinado a fazê-lo para resolver os seus problemas económicos e os que provocou à namorada Cristina com a venda de um carro (que esta comprara a crédito e que ele vendeu a outra pessoa que depois não teria honrado os compromissos, estando ainda a pagar as prestações ao banco).

Américo insistiu: «O que é que ele disse que ia oferecer à Cristina?» Vasco, longe de imaginar que estava a ser gravado, pôs o pé em falso: «Dinheiro para o carro. São 10 mil e tal euros. Paga-lhe o carro e dão-lhe ainda 5 mil euros».

Américo descontrola-se e sobe o tom: «A mim disseram-me que tu ias dizer que é tudo mentira e que não tinhas sido abusado por aqueles que nós acusámos em Elvas e que tinhas sido abusado por outro alguém. Quem é o outro alguém?». Vasco começa a ficar desconfortável: «Estão a tentar sacar nabos da púcara...».

Américo volta a atacar: «Contaram-me que tu disseste que foste a Elvas e que tinhas sido abusado por outra pessoa sem ser aqueles que nós acusamos!». Vasco esquiva-se: «Andam a falar de uma coisa que ainda não foi feita».

Américo contra-ataca: «E que tu disseste que não tinhas sido abusado e que nós estávamos todos a mentir». O outro tenta acalmá-lo: «Falei por mim, não falei por mais ninguém. Passei a noite a pensar se faço ou se não faço. Tenho até amanhã para decidir se faço ou não».

Vou dizer o que me vier à cabeça

«Se tu fizeres isso, vais dizer o quê?», questionou então Américo. E Vasco, que com ele percorreu o mesmo trilho de abusos, parece ausentar-se da realidade: «Vou dizer aquilo que me apetecer, o que me vier à cabeça, não vou acabar com ninguém». Américo lembra-lhe que jurou em tribunal dizer apenas a verdade e que pode ser processado por mudar de versão. Mas Vasco parece ter levado uma lição contraditória com a lei: «As testemunhas não podem mentir mas os assistentes podem e eu era assistente».

Américo questiona: «Tu vais dizer uma coisa que é mentira e nós vamos ficar com dúvidas de ti. Vais dizer que o Silvino tem razão é?». O outro respondeu-lhe como se a indignação também o tocasse: «Não. Achas que ele tem razão?».

Américo muda agora de terreno: «Disseram-me que um jornalista do Expresso foi ter com o Miguel, para nós todos menos tu - porque tu, supostamente, já deste uma entrevista ao Tomás -, para fazermos uma versão diferente da tua!». E Vasco incentiva-o: «Então aceita, eu já estou a dizer que ia fazer e quais os meus motivos. Tens de fazer o que está na tua consciência. Independentemente de alguma coisa que eu venha a fazer, o problema é meu».

Américo, apesar de já ter a confirmação do amigo nas mãos, quer mais explicações e o outro repete as suas razões: «Porquê? Porque quero, é a minha consciência e porque também vai resolver a situação da Cristina. Sim, acredita que é verdade e só pela Cristina».

Américo esquece a ferida que o amigo conseguiu de novo reabrir, como se a tivesse anestesiado, e tenta salvaguardar a prova: «Então tu acusaste o Marçal e mais quem?». Vasco começa a desconfiar e atira alguns dos nomes: «Marçal, Jorge Ritto, Ferreira Diniz...» Américo ainda não está contente e atira: «Disseram-me que deste a entrevista ao Tomás a dizer que não tinhas sido abusado!». Mas Vasco nega: «Digo-te já que é mentira». Vasco está cada vez mais desconfiado com o interrogatório. Américo insiste: «Nós não estivemos os dois em Elvas?».

Neste ponto, Vasco desligou o telefone e até hoje não voltou a atender as suas chamadas.

É mentira , diz Carlos Tomás

Questionado pelo SOL, Carlos Tomás confirmou ter feito a entrevista, «juntamente com Rui Gustavo», jornalista do Expresso, mas negou ter pago qualquer montante: «Isso é completamente mentira». Contactado, Rui Gustavo, respondeu: «Não falo sobre esse assunto».

O SOL tentou que o advogado das vítimas da Casa Pia comentasse a nova entrevista, mas Miguel Matias não quis prestar declarações.

Já a ex-provedora da Casa Pia, Catalina Pestana, a quem o advogado avisou do que se estava a passar, não foge à questão e lança avisos: «O Vasco que eu conheci era indiscutivelmente um dos adolescentes mais controlados e maduros, depois de ter passado como os outros por situações de tal maneira brutais que conseguiriam destruir o equilíbrio de qualquer um. Não duvido que só a sua incapacidade de lidar com uma crise de desemprego tão grande o terá levado a vender-se a um jornalista sem escrúpulos. Dentro de poucos dias o Vasco virá ter connosco lavado em lágrimas, a dizer que não acredita naquilo que fez».

SOL
 
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