- Entrou
- Out 11, 2006
- Mensagens
- 38,974
- Gostos Recebidos
- 328
Um tiroteio esta semana em Stockwell Road, uma das ruas em Londres com mais cafés portugueses, aumentou os receios de insegurança na zona e os efeitos no negócio.
O tiroteio aconteceu na terça-feira pelas 21:00 numa mercearia ao lado do Café Bar Madeira, onde o gerente Paulo Spínola assistia ao jogo de Portugal-Finlândia na televisão.
«Não me apercebi de nada, ouvi um alarme a tocar, fui lá atrás ver se era o nosso, mas só quando fui à porta é que vi o senhor com a cara cheia de sangue», contou à Agência Lusa.
A polícia chegou pouco depois e durante vários dias a zona esteve fechada para recolha de pistas.
Além de um homem de 35 anos ferido, o tiroteio deixou também em estado grave uma criança de cinco anos, ambos com origens no Sri Lanka.
O incidente terá resultado de confronto entre jovens, que fugiram de bicicleta através de ruas e becos dos complexos de habitação social que rodeiam o bairro.
«Esta é uma zona difícil», admite o madeirense, há 26 anos no Reino Unido, e que diz que «nunca tinha visto nada assim» naquela zona.
Os relatos de assaltos não tardam a surgir entre os clientes do pequeno café, onde começam a manhã com uma cerveja ou uma bica.
A Carlos Monteiro, natural de Lisboa, tiraram-lhe várias notas da mão e a Ana Alves puxaram-lhe a mala com tal força que caiu e ficou ferida no joelho.
Esta madeirense, que chegou a Londres há 13 anos para férias e acabou por ficar, já não estranha a violência na área, também conhecida por «Little Portugal» por ter tantos negócios e residentes portugueses.
Adelfina Leitão, do café e mercearia Sintra, um pouco mais à frente, dá conta do aumento da insegurança «de há semanas para cá», que atribui à crise e ao corte de subsídios pelo Governo.
O colega, Filipe Miguel, exemplifica com o caso de outro funcionário do estabelecimento, assaltado em casa do outro lado da rua por homens de cara tapada, para horror da filha.
O envolvimento de portugueses na delinquência é abordado com cautela por receio de represálias, mas a realidade é inevitável.
Muitos jovens luso-descendentes vivem em bairros sociais problemáticos e terão os mesmos problemas daqueles que os rodeiam, reconhecem alguns entrevistados.
Outros vincam que a criminalidade e violência já é antiga no bairro, contíguo a Brixton e a Clapham, duas zonas de má fama em Londres.
Severiano Vieira, considerado um veterano na comunidade portuguesa em Stockwell, onde vive há 37 anos, foi atacado várias vezes e numa delas ficou com o nariz partido.
«Mesmo assim fui trabalhar porque o patrão estava fora e era eu que estava responsável» do café onde trabalhava, recordou o pensionista à Lusa.
Todavia, o tiroteio desta semana e a cobertura mediática que recebeu aumentou os receios de insegurança.
Filipe Miguel, do café Sintra, refere que duas clientes espanholas ficaram apavoradas quando se aperceberam que estavam a alguns metros apenas do local do crime.
O proprietário do Cantinho de Portugal, Pedro Abreu, manifestou-se inquieto com as consequências do que chamou «coisas de canalha».
«Espero que as pessoas não deixem de frequentar Stockwell, seria muito mau para todos os cafés portugueses», admitiu.
Lusa/SOL