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A Carraça como Transmissora de Doenças

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Existem cerca de 800 espécies de carraças em todo o mundo, cerca de urna dezena dessas espécies estão presentes em Portugal. Trata-se de um ectoparasita que necessita de 1, 2 ou 3 hospedeiros (animais a partir dos quais se alimenta para se reproduzir e sobreviver), consoante a espécie de carraça em causa. Este parasita terá tendência a proliferar no nosso país, quer pelo crescente aumento do efectivo animal (nomeadamente de cães e gatos abandonados), quer pelo nosso clima cada vez mais quente. A carraça, quando portadora de micróbios, representa um perigo para a saúde pública, urge assim o controle do seu número ao nível dos animais domésticos.


Como vive a carraça?

Pelas características morfológicas básicas destes seres podemos dividi-los em:

* carraças"duras", em que a cutícula (ou "carapaça") que as reveste é dura;
* carraças "moles", em que a cutícula é mole, estando normalmente mais confinadas às orelhas dos animais, às ranhuras do solo e paredes e outros habitats com condições ambientais estáveis.


As carraças podem parasitar uma gama muito extensa de animais: ruminantes domésticos e selvagens, equinos, suínos, cães, gatos, roedores, lagomorfos, aves, etc., a partir dos quais se vão alimentar do seu sangue.

Existem carraças que só parasitam um hospedeiro durante o seu cicio de vida, enquanto que existem outras que podem parasitar 2 ou 3 hospedeiros diferentes, depende da espécie de carraça em causa. 0 ciclo de vida da carraça divide-se em 4 fases de desenvolvimento: o ovo, a larva, a ninfa e o adulto. Em todas estas fases podem parasitar um hospedeiro. Uma carraça adulta pode originar entre 2000 a 20000 ovos, os quais se irão destacar do hospedeiro e serão depositados no solo, preferencialmente em zonas de vegetação de baixa ou média altura, com algum grau de humidade. Assim, os "verdes campos" constituem uma óptima armadilha para os hospedeiros, como os ruminantes em pastoreio ou os cães e gatos em plena actividade (quase de certeza, que o leitor, notou que quando o seu cão, foi para a aldeia ou para aquele jardim tão bem tratado, voltou com uma "carraçita" nas orelhas ou nas patas ... ). Existem carraças que podem pôr ovos 2 vezes por ano, enquanto outras levam cerca de 3 anos até serem "mães".

Consoante a espécie da carraça em causa, teremos um hospedeiro preferencial, assim como a sua distribuição corporal será diferente. Por exemplo, existe uma espécie de carraça (Ixodes scapularis) que pode parasitar répteis e roedores; existe uma outra (Amblyoma americanum) que é a espécie mais agressiva para os humanos e seus animais domésticos. A mais comum é a Rhipicephalus sanguineus (uma carraça de corpo castanho), que tem a tendência de parasitar as orelhas, pescoço e dedos dos cães. De referir que, as carraças adultas se encontram mais activas na Primavera e no Outono.

E que tipo de doenças podem as carraças transmitir ao animal?

Certas carraças através de neurotoxinas da sua saliva podem produzir nos seus hospedeiros um quadro de paralisia ascendente. Esta situação resolve-se normalmente retirando a carraça inteira do hospedeiro, não deixando vestígios da sua "boca" na pele do animal. Para esta manobra deve-se usar éter (preferenciamente), ou álcool sobre o parasita, que depois de torpe, facilmente se se retirará, obrigando-o a dar uma "cambalhota para trás".

As carraças podem ser portadoras de um tipo de micróbio (protozoários - seres unicelulares microscópicos), que serão transmitidos pela carraça, aquando da picada desta no animal. Estes protozoários vão "colonizar" os glóbulos vermelhos e/ou as células mononucleares do hospedeiro provocando, após um período de incubação de 1-3 semanas, sinais de doença. Os protozoários mais importantes que podem ser transmitidos pelas carraças são os seguintes: Rickettsia conorii (causa a febre botonosa), Coxielia burnetti (causa a febre Q), Borrelia burgdorferi (causa a doenga de Lyme), Hepatozoon canis, Ehrlichia spp. e a Babesia spp.. Nem todos os cães ou gatos infectados por estes seres manifestarão doença, no entanto, aqueles que a manifestarem apresentarão um ou mais dos seguintes sinais: febre, depressão, letargia, descarga nasal e/ou ocular, perda de peso, claudicação, mucosas pálidas, tosse, dificuldades respiratórias, vómitos, diarreia, urina com sangue (tipo "vinho do Porto"), distúrbios neurológicos, paralisia de posteriores, hemorragia pelas narinas (epistaxis), choque e mesmo morte se não forem atempadamente tratados. Portanto, sempre que detectar uma carraça no seu animal de estirnação mantenha-se alerta nas seguintes 1-3 semanas. Porém existem animais que desenvolvem doença crónica em que os sinais são sub-clínicos e mais difícil de diagnóstico, no entanto, a gravidade da doença é ligeiramente inferior.

E que tipo de doenças podem as carraças transmitir aos humanos?

A célebre "febre da carraça" ou "febre dos fenos" não são mais do que infecções pelos protozoários que são transmitidos pela carraça aquando de uma picada da mesma num humano. 0 período de incubação depende do protozoário transmitido pela carraça, e varia desde os 3 aos 30 dias sem sintomas. Por exemplo, na febre escaro-nodular de Ricardo Jorge (ou botonosa mediten-Anica), começa por uma lesão primária (pequena úlcera vermelha coberta por uma "pontuação" negra) ao nível da picada da carraça na pele, passados 3 a 7 dias aparece a febre, dores de cabeça, musculares e articulares; gânglios linfáticos aumentados; ao nível da pele existe uma erupção generalizada, primeiro macular e depois maculopapular, a mortalidade é baixa. Os sinais que poderão aparecer em humanos infectados pelos protozoários acima mencionados são: febre, dor de cabeça, "rash" cutâneo, mialgias, presença de picada de um insecto, náusea e vómitos, dor abdominal, conjuntivite, gânglios linfáticos aumentados, diarreia, perda de equilíbrio, estado mental alterado, artrites, icterícia. etc. Portanto, evite o contacto directo da pele com as carraças e em caso de dúvidas ou de contacto consulte o seu médico de família.

Como prevenir o aparecimento de carraças e doenças por elas transmitidas?

Existem inúmeros produtos ectoparasiticidas, mas nem todos com eficácia comprovada. Para um controle realmente eficaz dever-se-ão usar compostos A base de amitraz (em forma de coleira, que apresenta alguma toxicidade para humanos e anirnais de estimação jovens, idosos e doentes) ou a base de fipronil ou permetrinas (em forma de sprays ou "spot on"- pipetas ou bisnagas que são aplicadas no dorso do animal em I ou 2 sítios) . Estes produtos normalmente têm uma eficácia mínima de 4 semanas sobre as carraças, assim como pulgas, piolhos e alguns ácaros da pele. São desaconselhados os banhos com champôs insecticidas, pois podem causar inflamação da pele, descamação, intoxicação do animal e sua eficácia normalmente limita-se à altura do banho ou 2-3 dias pós-banho. 0 uso de pós insecticidas é igualmente desaconselhado, devido ao risco de intoxicação, pelo fácil acesso e sua ingestão por parte dos animais de estimação. Estes pós ao serem usados, dever-se-ão limitar o acesso aos locais por parte do cão e do gato.

Ao nível das infecções pelos protozoários, existem dois tipos de vacinas que conferem protecção: uma para a doença de Lyme, com elevada eficácia; e uma para a Babesiose, com uma eficácia de 70 a I 00% em áreas endémicas.

Finalmente, existe um composto protozoaricida que pode ser administrado em dose preventiva, nas estações do ano de maior risco de infecção.

Conclusão

A prevenção é, pois, a arma mais forte que o dono do animal de estimação tem ao seu dispor no controle de carraças e doenças por elas veiculadas. Em caso de dúvidas, nunca hesite e consulte o seu médico veterinário.


Fonte: arcadenoe
 
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