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Bragança: Celidónio é eremita há 20 anos e não sabe que país vai a votos

florindo

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Há meses que a crise, as legislativas e a troika fazem parte do dia da ida dos portugueses, menos do de Celidónio dos Santos que vive como um eremita, em Bragança, sem sequer saber que vai haver eleições.

“Quando as temos e eleições a quê? Destas é que não sabia”, foi a reacção deste homem com quase 76 anos, que vive sozinho numa quinta, num local ermo de Babe, a poucos quilómetros da cidade de Bragança.

Soube pela Lusa que a 5 de Junho há eleições legislativas antecipadas e do contexto que levou a este desfecho e ao pedido de ajuda externa sabe apenas que “querem tomar conta de nós”.

“Agora se é mentira, não sei”, rematou.

Celidónio vive sem luz, sem água canalizada e o único contacto que tem com o mundo é um rádio a pilhas que “já muito que não o liga” porque “anda sempre agarrado à enxada”.

Com uma grande ligação à quinta que construiu pedra a pedra arrastadas por si para fazer muros e suportes, há 20 anos que vive assim, numa casa inacabada, isolado num ermo, onde até um veículo todo o terreno tem dificuldade em chegar.

A sua companhia são quatro burros no rés do chão da casa, um cão e enxames de abelhas que coabitam com ele num amontoado de colmeias colocadas numa das três divisões do piso superior da casa, entre fardos de palha.

As outras duas divisões, com vista directa para o telhado são um quarto onde a cama se perde entre batatas espalhadas no chão e outros produtos, e a cozinha que se distingue pela chaminé envolvida por todo o tipo de material combustível.

Celidónio não pensa no risco que corre e que preocupa o conterrâneo José Alves que, cada vez que vai tratar um campo agrícola que tem naquela zona, chama por ele para “saber se está vivo”.

Uma equipa dos programas especiais da GNR visita este idoso também periodicamente, mas pouco pode fazer uma vez que até apoio domiciliário é quase impossível fazer chegar.

Um prato de comida quente é coisa rara para Celidónio que sobrevive à base de enlatados que compra quando vai a Bragança, uma vez por mês.

Sobe a pé até à aldeia de Babe, onde tem uma casa, prepara-se e vai de autocarro até à cidade.

Vive da reforma e dos subsídios que recebe pelas oliveiras, mas nunca lhe deram nada pelos burros.

Há uns anos vendeu um dos animais por 40 contos que lhe foram pagos com um cheque que guardou dentro de uma saca pregada na parede.

“Dali a 15 dias ia a Bragança levantar esse dinheiro, estava a saca rota no fundo e o cheque não estava lá, tiveram de ser os leirões (ratos), estava tudo ruído”, contou.

Casou mas foi boda de pouca dura e acabou por ir viver como um eremita depois de a irmã, com quem partilhava a casa de Babe, emigrar para França.

Diz que não tem medo de viver sozinho, até porque o caminho é de difícil acesso para ladrões, mas, pela primeira vez em muito anos, põe a hipótese de regressar ao “povo”, a Babe.

“Se tivesse a casa amanhada não estava aqui tanto tempo. Assim sou mais obrigado a estar”, disse, referindo-se aos sinais de degradação da casa da aldeia, onde “chove como na rua”.

Lusa / SOL
 
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