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A Última Flor Amarela

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Fev 29, 2008
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A Última Flor Amarela.

Para Luiza, minha filha,

que aprendeu muito cedo

a amar as flores e os livros.

Era uma vez um homem muito sério, ou muito zangado.

Ou muito zangado e por isso muito sério.

Ou muito sério e muito zangado, tudo ao mesmo tempo.

Um dia, quando voltava pra casa depois do trabalho,

seu carro enguiçou no meio do caminho.

Muito chateado, muito sério e muito zangado,

ele deixou o carro e foi pra casa a pé.

Foi então que resolveu cortar caminho,

atravessando o parque.

Ele nunca tinha entrado num parque.

Era um lindo parque que tinha um lago bem no meio.

Um lago muito fresquinho, bonito como um espelho,

rodeado pelas palmeiras mais coloridas que já se viu.

O homem zangado não gostou muito de ter escolhido aquele caminho sem

calçada, cheio de pedras e areia.

-Vou sujar os meus sapatos.

Pensou aborrecido.

E lá foi ele, mais sério ainda.

De repente, bem no meio do caminho,

um canteiro cheio de flores.

-Saiam da frente!

Berrou o homem

que estava acostumado a mandar e ser obedecido.

As flores balançaram

para um lado e para o outro.

Talvez tenha sido o vento,

mas o homem achou que era

uma resposta malcriada.

-Já lhes mostro o que faço

com quem n me obedece!

E arrancou a flor azul que estava bem na sua frente,

uma das mais bonitas do canteiro.

Então, aconteceu uma coisa muito estranha:

Quando ele arrancou a flor, ela desapareceu da sua mão,

E junto com ela o cisne branco

nadava no lago.

O homem nem ligou e arrancou a flor vermelha.

Ela também desapareceu, junto com o sapo que estava na beira do lago,

assistindo a tudo muito assustado.

Sem prestar atenção no que estava acontecendo,

arrancou furioso

a flor violeta e a cor-de-rosa.

Aí, o lago inteiro desapareceu.

Cada vez mais zangado

Ele continuou arrancando as flores:

duas,três, um monte ao mesmo tempo.

Em sua volta, junto com as flores, desapareceram todos os passarinhos, toas as

borboletas, todas as palmeiras, todas as plantas

até que não sobrou mais nada no parque, senão areia e pedras,

o homem e uma flor amarela, a última do canteiro.

Talvez a sua zanga tivesse passado, mas não podia permitir

que ficasse ali, bem no meio do seu caminho, aquela flor amarela.

Ele estava cansado.

Sentou numa pedra que estava perto e acendeu um cigarro mal cheiroso.

-Você, disse pra flor amarela,

vou arrancar bem devagarinho.

E espetou a ponta acesa do cigarro numa pétala da flor.

Mas bem naquela pétala havia uma gota de orvalho da noite que começava a cair.

A brasa do cigarro fez PSSSS… e apagou.

O homem ficou furioso.

-Chegou sua vez, florzinha malcriada!

E foi pra cima da pobre flor amarela.

Surpresa!

A flor correu para o lado e fugiu daquela garra enfurecida.

Ele tentou de novo. A flor correu para o outro lado

e novamente escapou.

-O que está acontecendo aqui?! Disse o homem zangado.

-Vou já acabar com essa dança!

Pegou a pedra e jogou em cima da flor.

A pedra fez TUM!

e tudo ficou em silêncio.

Um silêncio enorme onde antes era o parque e cantavam os passarinhos.

Mas, de repente, a pedra fez CREC! e começou a rachar.

E na frente do homem, bem no meio da pedra,

a flor reapareceu, toda amarela.

O homem, muito sério, deu três passos para trás

e disparou feito uma bala,

na direção da flor.

Deu um tremendo pontapé na pobre coitada:

CATABUM!

Voaram pedaços para todos os lados.

Pedaços do sapato dele, que tinha acertado a pedra.

-Você está abusando da minha paciência, florzinha amarela!

Gritou o homem, vermelho de raiva.

E pulou com os dois pés em cima da flor.

Silêncio de novo.

Se alguém passasse por ali,

por certo acharia muito estranho

aquele homem, vermelho de raiva,

trepado em cima daquela pedra,

no meio daquele deserto.

Mas ninguém passou e ele começou a sentir uma coceira no pé.

A coceira foi subindo pela perna, passou pela barriga

terminou no pescoço,

quando a flor apareceu toda bonita,

saindo pelo colarinho dele.

Ah, pra quê! O homem ficou uma fera.

Foi soltando a gravata, desabotoando o paletó, a camisa,

enquanto tentava segurar a flor que, feito uma cobra, enrolava e desenrola,

em volta do corpo dele. A briga durou um bocado de tempo.

Quando finalmente terminou, de um lado estava o homem todo rasgado,

despenteado e arranhado e do outro lado, muito murcha,

estava caída a flor, muito quieta.

Ele chegou perto dela e muito desconfiado,

devagarinho, levantou uma pétala.

Parecia a asa quebrada de um passarinho.

A flor não se mexeu.

O homem procurou nos bolsos a caixa de fósforos.

Tirou um, acendeu e aproximou a chama da flor.

Ela queimou como uma folha de papel.

Ele ficou olhando aquela chama alaranjada,

que soltava uma fumaça muito amarela e

muito perfumada.

-Bem, pensou, agora posso seguir o caminho de casa.

E olhou em volta, procurando o caminho.

-Eu vinha dali.

-Não, dali.

-ou será sido dali?

Ele não podia saber. Não havia mais caminho.

-Não posso perder a calma!

Pensou, muito nervoso, olhando para todos os lados.

-Eu moro do outro lado do parque, depois dos pinheiros.

Mas não havia mais pinheiros, não havia mais parque.

O Sol nasceu e subiu no céu.

Alaranjado e quente como a chama de um fósforo gigante.

O homem ficou andando de um lado para o outro,

morto de calor e sede, perdido naquele deserto

sem poder voltar para casa.

Enquanto isso, do outro lado do mundo:

POP!

“uma linda flor amarela apareceu”
 
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