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Dhlakama: 'Se a FRELIMO não ceder, Moçambique pode ser dividido'

florindo

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Out 11, 2006
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á mais de um ano ‘desaparecido’ no Norte de Moçambique, o líder da RENAMO regressou à ribalta como sempre: explosivo, polémico e desafiador. Na Zambézia, antes de iniciar uma digressão pela província que já foi dominada militarmente pelo seu partido mas que hoje vota na FRELIMO, Afonso Dhlakama garantiu ao SOL que o país pode ser «dividido em pedacinhos» se o Governo não ceder.

Recentemente ameaçou com mísseis e que mataria polícias, exigiu um Governo de transição e falou em aquartelar os antigos combatentes. Porquê este discurso neste momento?

Desde 1992 fomos atacados pela polícia, fomos presos e roubados, se o Dhlakama hoje aparece a dizer ‘Estou cansado porque quero manter a democracia’, se nos atacam com armas e até hoje não respondemos, se o Exército é outra vez um exército partidário, voltou para aquilo que tínhamos em 1975, o que é que estamos a esperar? O Dhlakama sofre a pressão daqueles que fizeram a luta connosco e do povo que diz: ‘Porque não reage?’. Não é segredo que a FRELIMO tem armas e que a RENAMO tem armas. O que dizemos é que, como somos mortos, podemos também aplicar armas e matar aqueles da polícia que nos matam. É legítimo dizer isto, porque nós já fomos mortos pela polícia e ainda não matámos.

A expressão ‘aquartelar soldados desmobilizados’ não é demasiado forte para um partido político?

A comunidade internacional acha pesado quando o Dhlakama disse ‘Eu vou aquartelar os meus homens para evitar que possam fazer a guerra’ ou mais pesado é aquele que já destruiu o exército apartidário, profissional e está a criar um exército para golpear a RENAMO quando formos Governo?

Nesta altura, é exequível um Governo de transição, como exige?

Houve um erro do Governo português em 1974. Pensamos que a independência não foi entregue ao povo moçambicano mas a um punhado de guerrilheiros vindos da Tanzânia. Apoderaram-se das instituições do Estado e nunca as largaram. Ficaram com os polícias, com os tribunais, com os hospitais, com a administração pública, com escolas. Houve apenas uma mudança de bandeira e eu não estou aqui para elogiar o colonialismo português mas em termos de repressão, de falta de democracia, até de discriminação, é pior agora do que no tempo colonial.

Sente-se ameaçado, vigiado?

O problema não é ser vigiado mas a democracia que está a desaparecer. Por exemplo, em Portugal, o PSD ganhou, o PS perdeu, daqui a quatro anos volta ao poder, mas aqui não há alternância. Quando estamos a falar para os europeus e para os americanos, somos considerados incompetentes, parece que não temos capacidade de vigiar, que não trabalhamos. Mas não, trabalhamos muito, se não já teríamos desaparecido. O Governo de transição vai ter como tarefa despartidarizar as instituições do Estado. Hoje, até para um aluno passar de classe tem que ir ao comício do (Presidente da República, Armando) Guebuza. Queremos parar com esta situação pacificamente e, se não aceitarem, Moçambique vai ser dividido ao meio, acabou.

Existe esse risco?

Vai acontecer, o Sudão não se dividiu agora? Olhando para a situação que estamos a passar, é um mal pequeno o dia em que Moçambique for dividido, porque vai ser dividido em pedacinhos, vão aparecer líderes a dizer ‘Nós estamos saturados, eu fico com a minha província e acabou’. Tudo vai depender do Guebuza e da FRELIMO porque há saturação demasiada.

A RENAMO aposta nessa situação?

Não gostaríamos. Recordo que na guerra controlámos 85% do território, mas nunca tivemos a ideia de dividir, porque seríamos condenados internacionalmente e a nossa luta não teria sentido. O facto de Moçambique ser um exemplo de paz é um esforço do Dhlakama e da RENAMO, mas somos considerados os maus da fita.

O senhor é vice-presidente da IDC (Internacional Democrática do Centro, que integra PSD, PP espanhol, conservadores britânicos, e outros) mas a sua mensagem, como admitiu, não convence nem europeus nem americanos.

Nós pertencemos à família da direita e temos orgulho nisso. O problema é que todas as forças que lutaram pela descolonização de África eram de esquerda e parecia que os que colonizavam África eram os da direita. Isto está a acontecer com Portugal que, quer em Angola, quer em Moçambique, tem medo de ver que a RENAMO desempenha um papel muito importante, como a UNITA. Estamos a sofrer muito com isso, já disse isto ao Durão Barroso, aos espanhóis aos britânicos. Alguns, indirectamente, concordam comigo mas quando há eleições, se é um observador da direita tem receio de dizer que houve fraude, mas quando é um observador socialista, às vezes tem coragem de dizer que houve fraude… [risos]

Como têm sido as suas relações com o Presidente da República?

Posso dizer que desde que Guebuza chegou ao poder (2004) nunca houve, porque a aposta dele foi sempre a de querer eliminar a RENAMO e chegou a dizer que o (ex-Presidente, Joaquim) Chissano meteu a RENAMO a crescer. Não estou para elogiar o Chissano mas, talvez porque assinámos o acordo de paz, resolvíamos as coisas, parecíamos amigos, e este, a aposta dele é ver o fim da RENAMO.

Mas porque recusou integrar o Conselho de Estado?

Não podia porque não reconheço o resultado destas eleições. Indo lá tomar posse era contradizer-me.

Porque mudou a residência para Nampula, no Norte, a dois mil quilómetros de Maputo, a capital?

É estratégia. Sempre estive em Maputo desde que a guerra acabou em 1992, mas quando vimos que havia umas brincadeiras por parte da FRELIMO, pois já fomos roubados (nas eleições) em 1994, 1999 e 2004, antes das eleições de 2009 vimos que era melhor eu ficar na região onde temos mais apoio.


Exclusivo Lusa/SOL
 
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