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''Ameaça de explosão da União Europeia''

jairobel

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Para diretor francês, não é o euro que está em perigo, mas a aliança política da União Europeia

Jean-Paul Fitoussi, diretor do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas e professor do Instituto de Estudos Políticos (Sciences-Po), de Paris, se diz "perplexo" com a lentidão com a qual os líderes europeus estão reagindo à crise. Segundo ele, só há dois cenários possíveis: a explosão da União Europeia (UE) ou uma mudança política na direção do bloco. Ele defende o fim da exigência de unanimidade nas decisões da UE, pede mais intervenção do Banco Central Europeu e prega a nacionalização dos bancos em dificuldade. O Brasil, segundo ele, enxergou o que os alemães não viram: que a saída da crise está no crescimento e não na austeridade.

O senhor vê um fim para a crise do euro?

JEAN-PAUL FITOUSSI: Há dois possíveis: o primeiro é a explosão da União Europeia (UE), o que não desejo. E o segundo é a UE aceitar dar um passo político rumo a uma solidariedade fiscal entre seus membros. Uma das modalidades para isso seria emitir eurobônus. Outra é pedir ao Banco Central Europeu (BCE) para financiar monetariamente os Estados em dificuldade. A terceira é o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) emprestar aos países em dificuldade.


Com a aprovação da ajuda aos países endividados pelos alemães, a Europa se salva de uma crise maior?

FITOUSSI: No curto prazo, sim. Mas não se salva da crise. Há uma lentidão nas decisões. O Parlamento alemão aprovou decisão tomada em julho.


O senhor está preocupado?

FITOUSSI: Muito preocupado, porque a exigência da unanimidade nas decisões da Europa significa que temos que esperar que todos os parlamentos aceitem a decisão.


Esperar a aprovação de todos significa que pode ser muito tarde?

FITOUSSI: Sim, muito tarde. E se não for tarde dessa vez, será da próxima. O problema está no processo de decisão, que não funciona. Os europeus precisam decidir imediatamente, mas a regra de unanimidade impede.


A crise pode se arrastar por anos?

FITOUSSI: Sim, com uma exceção: se o BCE intervier. O BCE pode intervir sem que haja decisão (unânime) do Conselho Europeu.

O que tem que ser feito para evitar que a Grécia arraste toda a Europa para o buraco?

FITOUSSI: A Grécia pode pagar sua dívida se for ajudada pelos países europeus. A Grécia tem problema em pagar hoje por causa de taxas de juros muito altas sobre sua dívida. Poderia haver um arranjo para que pague taxas menos altas. Estão obrigando a Grécia a seguir programas de austeridade que fazem desaparecer qualquer perspectiva de crescimento. Sem crescimento, não se reembolsa a dívida.


O "Le Monde" publicou um plano secreto alemão propondo a criação de uma holding com ativos da Grécia, como portos, aeroportos, bancos, estradas. Esta holding seria vendida a uma instituição europeia financiada pelos países. O que o senhor acha?

FITOUSSI: Não é uma má ideia. O dramático nas condições impostas à Grécia foi pedir que o país vendesse seus ativos públicos. No estado atual do mercado, estes ativos têm um preço muito baixo. A criação de uma holding permitiria atrasar a venda, à espera de momento melhor. Seria uma espécie de garantia à ajuda para a Grécia.


O senhor vê uma proposta destas avançar?

FITOUSSI: Esta proposta não resolve o problema. É preciso acabar com a austeridade e buscar o crescimento.


Para muitos economistas, o fim do sistema de moeda única é impossível, porque isso levaria uma quebra em massa. O que o senhor diz?

FITOUSSI: Estou dizendo isso há dois anos: não adianta imaginar que podemos deixar um país da Europa cair, sem que haja um contágio generalizado da crise. Hoje, não é o euro que está em perigo: é a união política da Europa. E ao impor às populações programas de austeridade, corremos o risco de tornar a Europa muito impopular.


A presidente Dilma Rousseff tem razão quando diz que a austeridade vai acabar sufocando as economias?

FITOUSSI: Claro que ela tem razão. Austeridade generalizada é a chave para perder o crescimento e, portanto, perder o meio de reembolsar a dívida.


O pacto de estabilidade se tornou um obstáculo para solucionar a crise?

FITOUSSI: O obstáculo não é o pacto, mas a crise de doutrina da Europa. É uma crise do pensamento europeu. A Europa tem medo de dívida. Mas a dívida dos EUA é muito maior e a do Japão é duas vezes maior.


Mas é o mercado que está reagindo à dívida europeia, não?

FITOUSSI: Por que os mercados não atacam os EUA? Porque só atacam países que não têm armas para se defender. Os mercados não atacariam um país como a Itália, se este tivesse um banco central, porque sabem que o BC italiano compraria os títulos da dívida pública. E por isso não atacam os EUA: sabem que o Fed compraria títulos da dívida pública. O mesmo em relação ao Japão e ao Reino Unido.


A união monetária europeia foi uma má ideia?

FITOUSSI: Não, o que foi má ideia foi uma união monetária europeia sem união política. Criaram uma moeda sem soberania, sob as regras do mercado e não do poder público. É preciso avançar na integração política.


Criando um sistema federalista?

FITOUSSI: Claro. O Feef é um instrumento federal. Precisa dos meios.


A crise colocou em evidência uma Europa em duas velocidades. A Europa unida está perdendo o fôlego?

FITOUSSI: A Europa está sem fôlego, isso é certo. Quando falamos de Europa em duas velocidades, depende da época a que nos referimos. Antes da crise, o mais veloz era a Espanha, e a Alemanha tinha crescimento baixo. Amanhã, pode ser novamente a Alemanha com crescimento baixo.


Como salvar o euro?

FITOUSSI: Com mais vontade politica!


O senhor já pensou num cenário de fim da zona do euro?


FITOUSSI: Há vários cenários possíveis, que me parecem improváveis. Um é a saída de países em dificuldade, o que levaria à valorização tão grande das moedas dos que ficariam no bloco que isso resultaria numa depressão econômica muito grave. O segundo cenário, também improvável, é que a Alemanha deixe o euro. A escolha é: morrer fazendo os países do Sul saírem ou morrer fazendo os do Norte saírem. Nos dois casos, vamos morrer.


O senhor vê consequências para países emergentes como o Brasil?

FITOUSSI: É uma má notícia para esses países, porque se a Europa se afundar numa depressão, esses países perderão mercado. Nesta questão, todo mundo perde. O mercado europeu é o segundo maior do mundo.


O Brasil defende que os Brics ajudem a Europa por meio do Fundo Monetário Internacional ou comprando títulos da divida. O que acha?

FITOUSSI: O Brasil tem razão. O que o Brasil entendeu, os alemães ainda não entenderam.


Comprar títulos de endividados é arriscado para os emergentes?

FITOUSSI: Não, porque se compram a dívida acabam com o risco, permitindo à Europa sair da crise sem ter que passar por um período de depressão.


Mas o senhor não está otimista?

FITOUSSI: Estou, na verdade, perplexo em ver uma situação que parece simples de resolver, mas que, aparentemente, a Constituição Europeia não deixa resolver, porque impõe a unanimidade.


O que é preciso para acordar os políticos europeus?

FITOUSSI: Faço a mesma pergunta. Estão aparentemente adormecidos. Haverá eleições na França no ano que vem, o que limita a possibilidade de solidariedade. Na Alemanha, também haverá eleições. Se ambos estivessem em início de mandato, talvez a questão fosse resolvida mais rapidamente.


Não haverá uma solução rápida?

FITOUSSI: O grande perigo hoje é o afundamento dos bancos. Os Estados não permitirão isso. E vão acabar entendendo que, se não quiserem que seus bancos afundem, precisamos ajudar os países em dificuldade. Os bancos franceses estão ameaçados, mas também os alemães, italianos, espanhóis. Em geral, todos os bancos europeus estão ameaçados.


O Globo
 
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