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A década do iPoder

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In Memoriam
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As Torres Gémeas tinham desabado há pouco mais de um mês quando a Apple lançou o primeiro iPod. Cumprem-se dez anos em Outubro. O mundo tecnológico não voltou a ser o mesmo.(originalmente publicado na Tabu de 8 de Abril de 2011)
Os iPad2 que a Apple disponibilizou para Portugal voaram das prateleiras em poucas horas. E o mesmo aconteceu um pouco por toda a Europa. Já era esperado que assim fosse. A expectativa que se gera em torno dos novos lançamentos da empresa de Steve Jobs é enorme e há sempre uma legião de consumidores ansiosos por levar para casa o mais depressa possível os novos ‘igadgets’ – iPad, iPhone ou iPod. Não é à toa que o britânico Guardian escreve que 2011 deverá ser o ano em que a Apple roubará a liderança àExxonMobil na lista das empresas mais valiosas domundo.
E tudo começou em 2001. Foi há 10 anos que a Apple iniciou uma verdadeira revolução no mundo da tecnologia, com o lançamento do primeiro iPod. Para Michael Bull, um professor da Universidade de Sussex ouvido pelo Guardian, o leitor de MP3 da Apple foi o primeiro ícone cultural do século XXI. «Roland Barthes argumentava que as catedrais eram a forma icónica da sociedade da Idade Média. Mais tarde, na década de 1950, os automóveis ocuparam esse lugar e no início deste século foi o iPod».
Mas nem a Apple inventou os ficheiros MP3, nem o iPod foi o primeiro leitor de MP3 do mercado. A pré-história de toda esta transformação começou em 1977, quando o matemático alemão Karlheinz Brandenburg iniciou os primeiros estudos para compressão de música em pequenos ficheiros. O sucesso não foi imediato e os resultados satisfatórios surgiram apenas nos anos 90. Foi em1991 que Brandenburg conseguiu, em conjunto com Dieter Seitzer, um professor da Universidade de Erlangen, construir o algoritmo que tornou possível o MP1. Em 1994 era ‘descoberto’ o MP2 e, em 1996, chegava o primeiroMP3.
Não tardou muito até surgirem os primeiros leitores portáteis. O pioneiro, com uma capacidade de 32 MB, foi o MPMan F10, desenvolvido por uma companhia sul-coreana, a SaeHan, e colocado no mercado em 1998.
Foi ainda com os leitores de MP3 na primeira infância que a Apple tirou da cartola o iPod, com 5 GB de memória. O lançamento aconteceu no dia 23 de Outubro de 2001, quando o mundo ainda procurava compreender o que tinha acontecido a 11 de Setembro.
Steve Jobs, que regressara à Apple havia pouco tempo, explicou então o porquê da aposta num mercado estranho à companhia. «Nós amamos música e é sempre bom trabalhar em alguma coisa de que gostamos. O mercado- -alvo é enorme, não há fronteiras e não existe um claro líder de mercado. Até agora ninguém encontrou a receita certa para a música digital».
A mistura de ingredientes tinha começado meses antes, em Fevereiro, quando o telemóvel de Tony Fadell, um engenheiro de 32 anos, tocou. Do outro lado da linha era Jonathan Rubinstein, o responsável pelo departamento de hardware da Apple. «Não revelei aquilo em que ele iria trabalhar. Até chegar à minha porta não tinha qualquer ideia sobre o que ia fazer», contaria anos mais tarde o agora reformado Rubinstein. Fadell, mesmo sem saber do que se tratava, aceitou o desafio. E o que lhe pediram foi um leitor de MP3 que estivesse pronto a ser comercializado pelo Outono desse ano. Reunida a equipa de engenheiros, Fadell deitou mãos à obra e desenhou o iPod. A cereja no topo do bolo seria a pequena roda táctil no centro do leitor, que permitia aceder a qualquer ficheiro em apenas três cliques – um conceito que maravilhou Steve Jobs.
O nome surgiu depois e o padrinho é Vinnie Chieco, um dos publicitários contratados pela Apple para estudar a estratégia de lançamento do produto. Chieco explicou que assim que viu o leitor branco da Apple se lembrou do filme de Stanley Kubrick, 2001 Odisseia no Espaço (1968) e da célebre frase «open the Pod bay doors, Hal». Hal era o maléfico computador de bordo da nave Discovery Eva Pod. O i veio do iMac. E pronto, a receita estava concluída. Ao iPod clássico seguiram-se, durante os últimos dez anos, as suas variantes e novidades, como o Nano, o Shuffle ou o Touch.
Tozé Brito, ex-executivo das editoras Universal Music e da BMG e actual membro da administração da Sociedade Portuguesa de Autores, comprou o seu primeiro iPod em Nova Iorque, em 2001, poucos dias depois do lançamento. Para o também músico e compositor é inegável que o mundo da música mudou com o aparecimento dos ficheiros e dos leitores de MP3 e que um dos principais actores nessa transformação foi o iPod. «Já havia muitos leitores digitais, mas a grande vantagem do iPod é a ligação directa com o iTunes. O iPod foi o grande passo em frente por aparecer ligado a um site legal de venda de música online. E é de facto um gadget altamente apetecível e fantástico em termos de funcionalidade», diz, emconversa com o SOL.
Para Francisco Vasconcelos, patrão da Valentim de Carvalho, também é claro que há um antes e um depois do iPod, mas o seu olhar não é tão abonatório. «O iTunes é responsável pela esmagadora maioria das vendas digitais, mas isto não quer dizer que o iPod tenha resolvido os problemas da indústria musical, muito longe disso. A política da Apple para a música foi terrível. Impuseram as regras que queriam e forçaram a indústria a fazer coisas a que não estava habituada, como baixar preços para introduzir a música mais facilmente no mercado. Houve muitas coisas que não foram boas e que acabaram por atrasar o abraço que a indústria tinha de dar ao mundo digital. É uma história de sucesso, mas também de equívocos. As vendas no iTunes são legais, mas a faixa legal da música digital é muito curta», explica ao SOL o responsável pela editora, sublinhando que espera, contudo, um futuro muito diferente. «Acredito que estes produtos da Apple sejam a pré-história da música digital. Acredito que os telefones venham a ser a chave de tudo. Que a música esteja numa nuvem qualquer e que os telefones funcionem como uma espécie de comando de acesso a toda a nossa livraria musical. Mas tudo isto envolve imensos problemas. É preciso fazer a reforma dos direitos de autor e dos direitos conexos, que são instrumentos legais com 100 anos ou mais e que não estão adaptados a este novo mundo».
Francisco Vasconcelos chama ainda a atenção para outras questões que o preocupam. A primeira relaciona-se com a qualidade do som. «Perde-se muito com a passagem de música para o iPhone ou para o iPod. Para mim, que fui criado a tentar conseguir o melhor som possível, é dramático verificar que a qualidade do som que é oferecido às pessoas está a baixar». A esta preocupação junta-se outra, no âmbito da saúde. «Estamos a criar uma futura geração de surdos, com o fenómeno dos headphones. Dentro de 20 ou 30 anos vamos lidar com um sério problema de saúde».
É indiscutível que o iPod virou a Apple de pernas para o ar e revolucionou o mercado dos leitores de MP3. Mas, com o nascimento do iPhone (2007) – que também funciona como iPod –, a sua popularidade foi afectada. E depois veio ainda o iPad, em 2010. «É um brinquedo fantástico. Tenho internet à mão em qualquer lado, tenho os emails sempre à mão e ainda tenho aplicações fantásticas, que me permitem recolher qualquer tipo de informação de forma muito rápida. E, mais uma vez, estamos a falar de um negócio legal, de um negócio onde os criadores de conteúdos são remunerados. Vejo filmes e leio livros no iPad. Estamos a falar de acesso a cinema, a literatura e a música. Ficamos de facto ligados a esta cadeia que começa no Mac e que passa pelo iPod, pelo iPhone e pelo iPad. E a interactividade entre todos estes suportes é total. Em termos tecnológicos, de rapidez e de eficácia é a melhor coisa que eu conheço», acrescenta Tozé Brito.
O mundo mudou. Foi há apenas 32 anos que a Sony lançou oWalkman – o primeiro dispositivo a alterar por completo os hábitos do consumo de música, permitindo levar os ídolos para a rua em cassete.


SOL
 
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