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Música Espiritual

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Música Espiritual

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Carmen Souza nasceu em Lisboa, filha de pais cabo-verdianos. Na música fundiu as suas origens ao jazz e foi para Londres, onde obteve o reconhecimento mundial. Agora tem disco novo, numa edição que visa ajudar associações ligadas à infância
Tem a mesma rotina todos os dias. Acorda sempre por volta das oito da manhã, toma um pequeno almoço rápido e entrega-se à música. Umas vezes o estudo diário exige a prática instrumental – porque a guitarra e o piano (os instrumentos que domina) são «uma extensão» do seu corpo –, outras a simples audição pormenorizada de discos que considera inspiradores, como os de Ella Fitzgerald ou Billie Holiday. É assim há anos, mesmo quando não está em digressão. Esta disciplina deve-se à crença absoluta que tem na música que faz, uma fusão muito pessoal de ritmos tradicionais cabo-verdianos, como a morna, a coladera e o batuque, com influências do jazz, da pop, da soul e da bossa nova.

Apesar de fazer da música vida há praticamente dez anos, Carmen Souza, cantora portuguesa de ascendência cabo-verdiana, não sabe precisar quando começou a cantar. Como em qualquer lar cabo-verdiano «é muito comum o homem saber tocar um instrumento», Carmen cresceu rodeada de música. O pai tocava guitarra. O avô violino. Por isso, a aprendizagem musical começou, precisamente, pelos instrumentos. O canto surgiu mais tarde, quando a educação cristã que os pais lhe incutiram reforçou o contacto com a música.

Com as peregrinações domingueiras à Igreja do Nazareno, uma congregação evangélica cristã em Lisboa, começou a cantar regularmente e a ganhar treino vocal. Mas só quando conheceu Theo Pas’cal é que soube que tinha voz para fazer carreira. «É muito difícil para uma pessoa que canta desde criança perceber que pode fazer disso profissão. É preciso ter algum apoio e em minha casa, apesar de haver muita música, ninguém tinha esse conhecimento. O Theo foi a pessoa que me disse: ‘Tu tens realmente talento e tens de perseguir isso’», conta Carmen, em entrevista por telefone ao SOL a partir de Londres, para onde se mudou em 2008.

O encontro com o produtor, compositor e músico aconteceu quando Carmen tinha 17 anos. Depois de tantos domingos a cantar para uma audiência familiar, a cantora resolveu testar a sua voz com uma plateia desconhecida e participou numa audição para o grupo de gospel Shout!. Theo Pas’cal era o director musical e artístico da formação e não teve dúvidas. Carmen foi imediatamente aceite e começou a aprofundar os seus conhecimentos incentivada por Theo, que se tornou o seu mentor. Primeiro apareceu o jazz vocal, depois o instrumental e a improvisação.

Mudança estratégica para Londres

Depois de três anos com os Shout!, a decisão de apostar numa carreira em nome próprio foi o passo natural que se seguiu. O primeiro trabalho a solo, Ess e Nha Cabo Verde, foi apresentado em 2005 e, três anos depois, em 2008, foi lançado o disco Verdade. Com ele, chegou também a decisão de se mudar para uma «localização estratégica». «Para um músico location is everything e Londres, além da localização fantástica, é um pólo de grande cultura, onde se consegue beber de vários backgrounds musicais», explica.

Com a aposta assumida na carreira, Carmen deixou para trás o curso de tradução Inglês/Alemão que frequentava em Lisboa e avançou para a capital britânica com uma fé absoluta de que tudo ia correr bem. Uma máxima adquirida com a educação cristã e espiritual que teve em criança e que assume hoje para tudo na sua vida. «Gosto de viver com fé, até porque a vida de um músico é acreditar naquilo que não se vê. Acreditar que um dia vamos evoluir e chegar àquele som que procuramos. Além disso, acredito que quando se dão passos na vida, há um movimento à nossa volta que obriga o nosso próprio meio a deslocar-se connosco», sublinha.

Hoje, quatro anos depois de ter assumido Londres como a sua base, é inegável que a deslocação deu frutos. Além de ver o seu nome inscrito no circuito internacional da world music, Carmen saboreou ainda, em 2010, com o seu terceiro disco, Protegid, a pré-nomeação para o Grammy de Melhor Álbum de World Music Contemporânea e recebeu elogios rasgados de David Sylvian. «Carmen Souza canta em crioulo com uma intimidade, sensualidade e vivacidade luminosas. A_sua música, alcançada através da fusão de influências cabo-verdianas com o jazz e a soul moderna, é de uma simplicidade enganadora e beleza vibrante. É world soul music para o século XXI», descreveu o músico. Questionada sobre estes elogios, a cantora agradece o aplauso, mas mantém os pés no chão. «Não mistifico muito as pessoas. Claro que ouvir um elogio destes é muito bom, mas é tão importante como os das pessoas que me abordam na rua», considera.

No ano passado, quando se estreou nos palcos cabo-verdianos, Carmen sentiu pela primeira vez este carinho das pessoas anónimas. «Nasci e cresci em Lisboa, vivo em Londres, viajo pelo mundo inteiro, mas Cabo Verde foi o sítio onde mais pessoas vieram ter comigo na rua. É engraçado perceber que, embora nunca me tenha assumido 100% como cabo-verdiana, lá as pessoas seguem a minha carreira», constata.

Por cá, Carmen Souza também não é esquecida e, por isso mesmo, o seu regresso aos discos, hoje com London Acoustic Set , é celebrado com uma pequena digressão pelo país, que passa por Lisboa na próxima sexta-feira, dia 9, no Teatro do Bairro. Sobre o registo, a cantora explica que o trabalho «reúne novas interpretações» do seu repertório original porque sentiu uma «necessidade de ouvir os temas de novo na sua forma orgânica, como foram concebidos», em duo, entre Carmen e Theo. «Trabalhamos juntos há uns 11 anos e este disco também é uma maneira de celebrar esse companheirismo, esta colaboração tão abençoada».

Além disso, London Acoustic Set tem um carácter humanitário, uma vez que 50% das vendas revertem a favor de três associações ligadas à infância – SOS Children’s Villages, em Cabo Verde, Infância sem Racismo, da Unicef, no Brasil, e a Casa Ser Criança, da Abraço, em Portugal. A decisão de concretizar esta iniciativa partiu da própria Carmen, que acredita que o seu talento não deve ser só proveito seu, mas também a obrigação de ajudar outras pessoas.


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