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As freiras que ajudam prostitutas

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As freiras que ajudam prostitutas


«Se Jesus estivesse aqui, não julgava nem condenava».

O princípio de seguir os ensinamentos da vida de Cristo rege todas as acções da Irmã Maria Angeles, directora da Obra das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor.

E leva-a a admitir que a safe house que quer criar em Lisboa possa ser usada por prostitutas para receber clientes.

A Irmã irrita-se, porém, quando lembra a forma como foi apresentado na comunicação social este seu projecto da ‘casa segura’ na Mouraria.

«Não é um bordel», não se cansa de repetir a freira sobre a proposta que foi entregue à Câmara de Lisboa.

«O nosso grande objectivo é dignificar estas mulheres.

Não é convencê-las a mudar de vida. É amá-las e mostrares-lhe que há outros caminhos», frisa a Irmã Maria Angeles, que garante não estar a tentar evangelizar quem ajuda.

«Se quiserem Bíblias, damo-lhas.

Mas não estamos aqui para rezar Pai Nossos e Avé Marias.

As acções valem muito mais que as palavras».

«Essa é a ideia por trás da safe house», explica Helena Fidalgo – directora técnica da Obra –, que começa a história dessa proposta com o contacto inicial da Câmara de Lisboa (CML).

«Foi a Câmara que nos chamou, a nós e a outras associações a trabalhar nesta zona, para nos ouvir sobre a requalificação da Mouraria».

A safe house foi um dos projectos apresentados num lista com mais de 70 ideias.

«Precisamos de um espaço maior e melhor para atender as mulheres e sabemos que a Câmara tem um edifício inteiro vazio e acabado de remodelar na Rua do Benformoso», conta Helena Fidalgo.

O projecto pretende «dar poder às mulheres e fazer com elas se constituam como associação e reivindiquem direitos e apontem necessidades», diz.

Se essas necessidades passarem por usar o espaço para exercer a profissão, «então, que seja assim», admite a Irmã Angeles.

A verdade, acredita Helena Fidalgo, é que a maior parte das mulheres dificilmente o quererá fazer.

«São pessoas que têm vergonha do que fazem e querem deixar de o fazer. Além disso, já têm sítios certos para trabalhar».

Os números da Obra mostram que, entre 2006 e 2008, foram 25 as mulheres que saíram das ruas com a ajuda das Irmãs Oblatas.

«Conseguiram empregos em call centers, em restaurantes ou como empregadas de hotel», afirma Helena Fidalgo.

A vocação da congregação a que pertence, conta a Irmã Maria Angeles, é a de ajudar mulheres que se prostituem.

«Fazemos isso desde 1864», sublinha, enquanto recorda que é essa mesma missão que cumprem em Portugal desde 1987, altura em que o então bispo de Lisboa, D. António Ribeiro, escreveu uma Carta Pastoral a alertar para a importância de apoiar essas mulheres.

«Como nenhuma congregação em Portugal respondeu ao apelo, fomos contactadas pelos missionários Redentoristas e viemos de Espanha».

Centro de novas oportunidades

Até hoje é, aliás, da casa mãe em Espanha que vem a maior parte do financiamento para as actividades das Irmãs Oblatas em Lisboa.

E não são poucas as obras que por cá desenvolvem. Em dois edifícios junto à Avenida Almirante Reis, as irmãs prestam apoio a cerca de 418 mulheres, que vendem o corpo em quatro zonas da cidade: Intendente, Rua Rodrigo da Fonseca, Artilharia 1 e Técnico.

«Temos aqui um Centro de Novas Oportunidades, damos aulas de alfabetização, cursos de Informática e formações profissionais em áreas como o Apoio Domiciliário», exemplifica Helena Fidalgo, directora técnica da Obra e um dos quase 30 leigos que ajudam as quatro freiras da congregação a manter o projecto.

Os horizontes destas prostitutas de rua são tão limitados que muitas não conhecem a cidade para lá do percurso até ao local onde trabalham.

«Há mulheres que vêm da Margem Sul ou de Odivelas todos os dias e estão há anos aqui no Intendente, que nunca foram ao Chiado ou ao Castelo de São Jorge», garante Helena Fidalgo.

Prostituir-se para comer

O certo é que a experiência lhe mostra que as prostitutas que apoia estão muito longe dos estereótipos glamorosos das acompanhantes de luxo.

«São mulheres que ganham quantias muito pequenas e o que recebem é para comer e para sustentar maridos, que quase sempre estão desempregados, e filhos».

Muitas têm a ajuda do Banco Alimentar.

«Mesmo quando recebem rendimento de reinserção social e abono de família, são montantes tão baixos que mal dá para pagar a pensão onde vivem».

As dificuldades fazem com que a Obra das Irmãs Oblatas seja fundamental para a sua sobrevivência.

«Aqui podem tomar banho, lavar e secar a roupa sem terem de pagar nada e vir buscar comida do Banco Alimentar todos os meses».

Nos dois edifícios que a Obra ocupa na Rua Antero de Quental, a entrada e saída de mulheres é constante.

«Vêm cá lanchar, conversar, ter apoio psicológico ou simplesmente usar os computadores para ir ao Facebook», comenta Ingride Alvaredo, coordenadora das equipas de rua que diariamente percorrem as zonas de prostituição.

A pé, os voluntários das Irmãs Oblatas levam palavras amigas e preservativos a quem vende o corpo.

Dão preservativos e apoiam abortos

«A nossa prioridade é a saúde», sustenta a Irmã Maria Angeles, que garante nunca ter tido problemas com os sectores mais conservadores da Igreja por dar preservativos ou acompanhar as mulheres aos hospitais para fazer abortos legais.

«A Igreja sabe o que nós fazemos.

Ainda há dias estive em Fátima e disseram-me para continuar», assegura a Irmã Maria Angeles.

«Temos de ajudar estas pessoas. Ninguém acha que é bom fazer um aborto. Elas também não acham. Mas a nossa missão é apoiá-las», defende a freira.

Helena Fidalgo acrescenta que a ajuda nessas ocasiões passa por reforçar «a formação sobre métodos contraceptivos».

De resto, a Obra realiza rastreios do cancro do colo do útero e de doenças sexualmente transmissíveis todos os meses.

«O problema é que estamos sem maneira de continuar a pagar esses testes, que são muito caros.

E o pedido de financiamento dessas acções é outro dos projectos que entregámos à Câmara de Lisboa», lembra Helena Fidalgo.

Maria Angeles não esconde a desconfiança em relação às intenções da autarquia presidida por António Costa.

«Espero que não venham para cá tentar ‘limpar as pessoas más’ da Mouraria.

Não vou permitir que façam aqui o que fizeram no Casal Ventoso».

A expressão da freira endurece quando sublinha a importância de encontrar um lugar para as prostitutas quando a zona for renovada.

«A Praça do Intendente é muito linda e pode ficar muito bem com as obras.

Mas não é para os turistas. É para quem é de cá».

SOL
 
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