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Caos em Atenas depois de suicídio de pensionista
Um pensionista grego suicidou-se ontem na praça principal de Atenas, deixando um bilhete onde culpava os políticos pela crise financeira do país e, no limite, pela sua morte. Com o gesto veio o choque, e depois a revolta. Por toda a cidade eclodiram confrontos entre a polícia e os manifestantes anti-austeridade.
Na origem do reacender das tensões está a morte anunciada de um antigo farmacêutico, reformado de 77 anos, que disparou sobre a sua própria cabeça junto a uma saída do metro na Praça Sintagma, atolada de passageiros.
No bilhete de suicídio, encontrado junto ao corpo, o antigo farmacêutico atribui à crise financeira a responsabilidade de ter decidido pôr fim à vida.
No texto, divulgado pela imprensa local mas ainda não confirmado pelas autoridades, o homem deixa claro que lhe era impossível viver com a pensão para que descontou durante 35 anos.
«Não há outra solução que não a de um fim digno antes de começar a ter de procurar comida nos caixotes do lixo», lê-se.
Poucas horas depois, o povo reagia. Na parede junto ao local do suicídio, podiam ler-se frases como: «Foi um assassinato, não um suicídio!», «A austeridade mata».
Para Vassilis Papadopoulos, porta-voz do grupo 'Eu não pago' e um dos organizadores do protesto da última noite, a mensagem do reformado – de quem ainda não se conhece o nome – é suficientemente clara: o povo grego não vai sobreviver a mais austeridade. «Quem será a próxima vítima?» é a pergunta que impõe.
«O suicídio é político na natureza e pesado no simbolismo. Não é como se fosse um suicídio em casa.
Tem um bilhete dirigido aos políticos e ocorreu explicitamente em frente ao edifício onde as medidas são aprovadas», sintetizou Papadopoulos.
A polícia de choque chegou à Praça Sintagma munida de gás lacrimogéneo e de granadas para travar as cerca de 1500 pessoas que ontem protestavam violentamente. Centenas de jovens atiravam pedras e cocktails molotov em direcção ao edifício do Parlamento.
Apesar da manifestação que ecoava em tom de revolta, a polícia não registou feridos nem detenções.
O incidente ocorreu durante a manhã, numa altura de grande movimento no centro da capital grega, tendo por isso invadido em força os círculos de opinião e os debates políticos. Tanto o primeiro-ministro como os chefes dos dois partidos do governo de coligação manifestaram o seu pesar.
O primeiro-ministro Lucas Papademos classificou o incidente como «trágico», e apelou à união «do estado e dos cidadãos», que, juntos, devem apoiar «os mais desesperados».Também o líder do PASOK, o partido socialista, apelou à contenção nos comentários «políticos e baratos» sobre um acontecimento «avassalador».
Pantelis Kapsis, o porta-voz do governo, classificou o gesto como uma «tragédia humana» mas acrescentou que o acto não deve tornar-se parte activa do debate político antes de serem apuradas as «exactas circunstâncias» em que ocorreu.
A Grécia está desde Maio de 2010 sob a alçada da crise e da ajuda externa e, desde então, tem implementado pesadas medidas de austeridade, como o corte nas pensões e nos salários e o repetido aumento de impostos.
A recessão em que o país mergulhou levou à extinção de milhares de postos de trabalho.
Dois anos volvidos, um em cada cinco gregos estão desempregados e os números de suicídios ascendem picos de que não há memória.
SOL