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Como Sócrates foi forçado a pedir ajuda
No período tenso que antecedeu o pedido de ajuda externa, o governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, e o Presidente da República, Cavaco Silva, estiveram em permanente contacto e dividiram, entre si, audiências com os principais protagonistas económicos para pressionar José Sócrates a recorrer à intervenção da troika.
Perante a resistência que o ex-primeiro-ministro revelou, até ao último momento, foram inúmeras as intervenções de banqueiros, do governador do BdP e do ex-ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, ao longo de várias semanas – na maioria das vezes nos bastidores – para conseguir que Sócrates admitisse o inevitável.
Como acabaria por acontecer às 20h38 de 6 de Abril de 2011, numa declaração do ex-chefe de Governo ao país, através da televisão, – que ficará para a história –, e depois de Teixeira dos Santos cerca de duas horas antes (às 18h02) ter quebrado a fidelidade a Sócrates, empurrando-o para o cenário que este a todo o custo queria evitar.
«É necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu em termos adequados à actual situação política», anunciava o ex-ministro das Finanças, em declarações ao Negócios online.
Teixeira dos Santos era um dos protagonistas que há mais tempo pressionava Sócrates para accionar o pedido de ajuda externa.
As relações entre os dois foram-se degradando e, numa altura em que já estavam de costas voltadas, Sócrates tentava provar o contrário.
Surge, então, uma notícia do Expresso online a relatar um almoço entre ambos para, alegadamente, concertarem estratégias sobre o pedido de ajuda. Quando estava numa reunião da Ecofin com Carlos Costa, Teixeira dos Santos soube da notícia e acabou por desmentir o tal almoço.
«Se me perguntarem qual foi a ementa digo que foi vichyssoise», ironizou, numa referência a um célebre 'almoço virtual' da política portuguesa.
Carlos Costa é um dos actores centrais das semanas que precederam a crise. Além dos contactos com Belém, o governador também falava, quase diariamente, com o ministro das Finanças e com o primeiro-ministro para actualizá-los. Porém, estas conversas acabavam sempre com Sócrates a contrapor: «Mas eu tenho outros dados».
Carlos Costa e Teixeira dos Santos, concertados, promoveram uma reunião com Cavaco e alguns dos principais banqueiros nacionais, como Faria de Oliveira, Ricardo Salgado, Fernando Ulrich e Santos Ferreira, em mais uma tentativa para pressionar Sócrates a avançar com o pedido de ajuda externa.
Na manhã de 6 de Abril outra intervenção de peso chega a Sócrates. Durante três horas, numa conversa muito dura, Mário Soares tenta convencer o ex-primeiro-ministro a pedir o apoio internacional.
Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, foi um dos apoios de Sócrates quase até ao fim.
Acreditava nele e o líder do Governo telefonava-lhe frequentemente, muitas vezes já durante a noite, para a sua casa em Bruxelas. Outro apoio, fundamental, para o primeiro-ministro foi Angela Merkel.
A chanceler alemã nunca escondeu que gostava de Sócrates.
E acreditava nele. Acontece que o primeiro-ministro evitou sempre revelar-lhe a verdadeira situação financeira em que Portugal vivia.
SOL