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Disparam furtos de botijas de gás
No espaço de um ano, fui assaltado nove vezes. Levaram-me 47 garrafas, foram mais de dois mil euros de prejuízo» .
Lourenço (nome fictício) está no negócio de distribuição de gás há mais de 20 anos e nunca sofrera um assalto, até ao ano passado, quando viu o seu parque de armazenamento de gás, situado em Vizela (Braga), ser assaltado nove vezes.
Casos como o deste empresário têm-se alastrado pelo país, numa vaga que começou em finais de 2010 (altura em que o preço da mercadoria subiu) e atinge, garantem fontes do sector, não só parques de gás, situados fora das grandes cidades, mas também os pontos de venda: os assaltantes, que actuam sempre durante a noite, furtam botijas acondicionadas em postos de combustíveis, supermercados e mercearias.
«Nos últimos dois anos, pelo menos no concelho de Guimarães, já houve mais de 100 assaltos a concessionários, que representam a minha companhia (BP) » , disse ao SOL Lourenço, que também explora dois postos de combustível.
«Muitas destas garrafas, sobretudo as vazias» , garante o proprietário, «são vendidas a sucateiros, que derretem o ferro e aproveitam até os redutores das botijas (feitos de chumbo e alumínio) » .
10 parques de gás assaltados por mês
José Reis, da Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis (ANAREC), confirmou ao SOL que, por trás da onda de furtos desta mercadoria, está o interesse no metal não precioso: «Este material é derretido e depois vendido a peso.
As garrafas pura e simplesmente desaparecem.
E o que mais nos preocupa é que estes fornos não são fiscalizados» , denuncia o responsável, adiantando que, por mês, são assaltados «10 parques de gás» (em todo o país existem dois mil unidades licenciadas) «e, em cada assalto, são levadas em média 50 botijas de gás» .
Outro destino, menos frequente, é o escoamento da mercadoria no mercado negro.
«Neste momento, qualquer pessoa pode comprar garrafas e vendê-las a qualquer preço, em qualquer lado.
Isto porque ainda não há legislação nem estatuto do revendedor que definam quem pode movimentar botijas e em que condições» – critica José Reis, acrescentando que a regulamentação do sector «evitaria que qualquer pessoa pudesse transportar e guardar garrafas sem estar devidamente licenciada» .
Já este ano, em Janeiro, foi a vez de Belmiro Vigário, concessionário da Repsol, ser assaltado. Do seu parque, situado em Tomar, os criminosos levaram 72 garrafas.
«Cortaram a vedação (em rede), saltaram para as instalações, arrombaram o portão do parque e carregaram as garrafas para as carrinhas» , conta o proprietário, que teve um prejuízo superior a dois mil euros. Nessa noite, outros dois parques da zona saqueados.
« De certeza que estas 72 garrafas não são para consumo próprio. A mercadoria ou vai para sucateiros ou é negociada com revendedores menos escrupulosos e acaba por entrar de novo no circuito» , refere o empresário.
Carrinhas de distribuição assaltadas
A verdade é que também nos centros urbanos há quem esteja de olho nas carrinhas de distribuição de botijas.
«Quase todos os dias são assaltados distribuidores quando estacionam o carro na rua e fazem as entregas ao domicílio» , diz José Reis, da ANAREC.
Neste momento, exemplifica, na cidade de Lisboa, «o problema chegou ao ponto de terem de andar dois distribuidores a fazer entregas: enquanto um entra nas casas, o outro fica no a vigiar» .
Nestes casos, a motivação tende a ser outra. «É para consumo próprio.
Quem o faz são pessoas que têm dificuldades económicas» , diz José Reis, lembrando que este bem de primeira necessidade tem encarecido nos últimos anos.
«Há 20 anos, as botijas eram vendidas a um terço do preço actual (cerca de 25 euros)» .
SOL