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Passado asteca continua emergindo no presente da Cidade do México

billshcot

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Nov 10, 2010
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O esqueleto é de uma mulher jovem, talvez uma nobre asteca, encontrado enterrado no local mais sagrado do império, há mais de 500 anos. Quase 2 mil ossos humanos foram empilhados em torno dela, e ela é um mistério.

Há outras descobertas ainda a serem decifradas no último sítio de escavação no coração desta vasta metrópole, onde os astecas construíram seu grande templo e os conquistadores espanhóis estabeleceram a base de seu novo império.

Antes de anunciar no mês passado a descoberta do cemitério incomum e dos restos do que poderia ter sido uma árvore sagrada, arqueólogos também encontraram recentemente uma plataforma redonda gigante decorada com cabeças de serpente e piso entalhado em baixo relevo com uma cena que parecia mostrar uma guerra sagrada.

A Cidade do México pode ser uma metrópole clássica: uma bagunça de trânsito sempre crescente, comércio, grandes espaços públicos, subúrbios verdes e favelas abarrotadas. Mas ela também é uma maravilha arqueológica, e mais de três décadas depois que uma descoberta ao acaso desencadeou uma exploração sistemática dos espaços cerimoniais astecas, surpresas continuam sendo descobertas nas camadas superpostas da cidade.

“É uma cidade viva que vem sendo transformada desde a época pré-hispânica”, disse Raul Barrera, que lidera a exploração do centro da cidade para o Instituto Nacional de Antropologia e História.

“Os próprios 'mexicas' desmantelaram seus templos para construir sobre eles", explicou, usando o termo que os astecas usavam para se definir. “Os espanhóis construíram a catedral, suas casas, com as mesmas pedras dos templos pré-hispânicos. O que encontramos são restos de todo o processo”.

Talvez em nenhum outro lugar do mundo haja provas de uma ruptura entre civilizações tão dramática como na gigantesca praça central da Cidade do México, conhecida como Zocalo, onde as ruínas do Templo Mayor dos astecas estão ao lado da pesada catedral que os espanhóis ergueram para declarar seu domínio espiritual sobre o povo conquistado.

“Acho que a guerra ideológica era mais difícil para os espanhóis do que a guerra armada”, diz Eduardo Matos Moctezuma, arqueólogo que primeiro liderou a escavação do Templo Mayor.

Há outros lugares mais antigos no mundo em que ruínas se erguem entre as ruas cheias de trânsito, onde invasores estrangeiros acabaram com impérios. Mas aqui é diferente, dizem os acadêmicos.

“Eles destruíram o topo da cidade; isso não aconteceu no Coliseu”, disse David L. Carrasco, historiador das religiões na Universidade de Harvard que escreveu sobre os astecas e as escavações no Templo Mayor. “Em Roma, a antiga cidade romana fica ao lado da cidade medieval e da cidade moderna.”

Um cronista espanhol da conquista, Bernal Diaz del Castillo, escreveu que “todas aquelas maravilhas” da capital asteca, Tenochtitlan, “todas derrubadas e perdidas, nada ficou em pé.”

Desde 1790, entretanto, quando as obras para pavimentar o Zocalo desenterraram os primeiros relevos gigantes astecas, Tenochtitlan vem revelando seus segredos. Arqueólogos começaram explorando o Templo Mayor há um século, mas a descoberta em 1978 de um monolito gigante mostrando a deusa da lua asteca Coyolxauhqui decapitada e desmembrada levou a uma escavação completa que continua até hoje.

Nos primeiros cinco anos, os arqueólogos desenterraram grandes partes do templo que estava enterrado sob uma estrutura destruída pelos espanhóis depois da conquista em 1521. Antigos imperadores astecas haviam construído novos templos sobre os antigos, o que acabou poupando as antigas estruturas.

O projeto arqueológico “não dizia respeito apenas a encontrar um templo enorme”, disse Matos. “Mas sim o que ele significava para a sociedade asteca. Aquele prédio era muito importante porque para eles, era o centro do universo.”

Ainda há muito a descobrir em torno do Templo Mayor. O frei franciscano Bernardino de Sahagun do século 16 deixou um registro do que Matos chamou de bairro sagrado de templos e palácios dos astecas, agora uma praça densa com cerca de sete quarteirões em cada lado.

O relato de Sahagun, compilado a partir da memórias dos astecas sobre sua cidade perdida, mostrou-se surpreendentemente acurado. Das 78 estruturas descritas, os arqueólogos encontraram vestígios de mais da metade.

Durante a escavação mais recente, sob uma pequena praça entre o Templo Mayor e a catedral, Barrera estava procurando pela plataforma cerimonial redonda porque ela havia sido descrita pelo relato de Sahagun.

A maior parte do que o frei e outras testemunhas relataram agora está a até 7,5 metros sob o solo. Para chegar lá, a equipe de Barrera precisa primeiro atravessar as linhas de eletricidade e encanamento de água que são as entranhas da cidade moderna e depois descer mais uma camada colonial, que tem sua própria coleção de artefatos. “É como um livro que estamos tentando ler a partir da superfície até o ponto mais profundo”, disse ele. Mas a apesar da orientação dos registros históricos, os arqueólogos da Cidade do México não podem cavar onde quiserem.

Parte do local sagrado é hoje uma confusão rouca do mundano. Os vendedores de rua que anunciam brinquedos pirateados feitos na China e aulas de inglês em CDs em frente das fachadas caindo aos pedaços são os que gritam mais alto. Escavar sob os hotéis, restaurantes, lojas de roupas baratas e sebos de livros exigiria uma negociação complicada.

Ao longo dos quarteirões mais silenciosos do local, belas construções coloniais hoje são museus e prédios do governo, elas próprias marcos históricos.

Os arqueólogos acreditam que o Camecac, uma escola para nobres astecas, está sob os jardins do prédio do Ministério da Educaçãod o México. Por enquanto, a única parte do Calmecac que foi escavada são vários muros e esculturas a mostra sob um prédio que abriga o centro cultural espanhol, descobertas quando ele foi reformado.

Ainda assim, é um tipo estranho de pagamento, as próprias ruínas às vezes possibilitam que os arqueólogos entrem em propriedade privada e comecem a escavar.

Desde o século 16, a cidade vem bombeando água de poços profundos para satisfazer sua sede, fazendo com que as argilas sob a superfície afundem à medida que a água é retirada delas, como se fossem uma esponja seca.

Mas os prédios ficam em níveis diferentes, apoiados sobre as sólidas ruínas astecas de pedra abaixo deles, dando a muitas das ruas do bairro sagrado um ar meio bêbado, cambaleante.

À medida que rachaduras se abrem e prédios se inclinam, muitos deles passam a necessitar de restauração, o que por lei permite que os arqueólogos do instituto de antropologia e história continuem os observando. Se restos históricos são encontrados, o dono precisa pagar a conta da restauração.

Quando a catedral precisou ser resgatada nos anos 90, engenheiros cavaram 30 colunas para estabilizar a estrutura, e Matos e sua equipe desceram até 20 metros para ver o que havia lá embaixo.

“É a vingança dos deuses”, disse ele. A catedral está caindo e o os monumentos aos deuses antigos é que estão provocando a queda.”

Entre outras coisas, os arqueólogos encontraram os restos do campo de jogar bola, onde os astecas faziam um jogo de bola ritual que era comum em toda América Central antiga. Ele continua preso sob o oratório da catedral e a rua de paralelepípedo ao norte.

“Toda essa parte da cidade é como um túmulo de pessoas e de objetos culturais significativos”, disse Carrasco. “E eles acordam toda vez que o México tenta alcançar seu futuro.”



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