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O desabafo do povo e o problema de Passos

florindo

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Pedro Passos Coelho e o Governo de coligação têm mais um problema entre mãos: o país saiu ontem à rua para mostrar um cartão vermelho à política de austeridade que tem sido seguida nos últimos tempos - justificada ao abrigo do plano de resgate internacional - e ordenou para que não seja a troika do FMI, BCE e Comissão Europeia a ditar as regras em Portugal. Ao todo, segundo números avançados pela organização ao final da noite de ontem, terão saído à rua em Lisboa cerca de 500 mil manifestantes para gritar a quem de direito ‘Que se lixe a troika. Queremos as nossas vidas’. Ao longo de um percurso que pareceu mais longo do que é na realidade, com partida da Praça José Fontana em direcção à Praça de Espanha, os manifestantes deram conta do cansaço e da falta de capacidade para tolerar quaisquer outras medidas que penalizem os orçamentos familiares e pediram um recuo nas que já foram apresentadas. Sob pena de a luta continuar na rua.
A manifestação era apartidária e espontânea. Nasceu nas redes sociais e ganhou grande impulso depois de o primeiro-ministro ter anunciado, há umas semanas e numa comunicação ao país, que o contributo dos trabalhadores para a Segurança Social vai aumentar em 7%. Seguiu-se Vítor Gaspar, ministro das Finanças, a reforçar o cardápio com outras tantas medidas alegadamente para garantir que os objectivos previstos no memorando de entendimento sejam cumpridos e para assegurar que a troika não chumbava a quinta avaliação. Do outro lado de uma barricada que tem oposto o Governo e o povo português, com especial incidência nos últimos dias, estava dado o mote para o acentuar do descontentamento popular que iria trazer a rua até aqueles que nunca nela se fizeram ouvir.
Faltavam poucos minutos para a hora marcada, 17 horas, e na Praça José Fontana já se sentia que a coisa era séria e estava a entrar para a história. Foi um dos maiores protestos de sempre em Portugal, classificava a SIC na abertura do Jornal da Noite.
Francisca Abreu, 68 anos, reformada da Função Pública, estreou-se ontem no protesto de rua. «Eu vivi o 25 de Abril, sonhei, como todos os da minha geração, com um país governado por nós, por quem nós elegemos através do voto, e não submisso a interesses que vêm de fora e que nos estão a matar», justifica. Veio à manifestação com o marido e o filho, Tiago Abreu, 31 anos, licenciado em Design de Comunicação sem trabalho. «É este o país que temos hoje: desiludido, deprimido e sem esperança quanto ao futuro», constata enquanto o olhar conduz o repórter para Tiago que prefere não falar à reportagem do SOL.
O receio sobre o presente e o futuro desceram de mãos dadas a Avenida da República. À medida que a manifestação avançava na enorme avenida que tem por nome a palavra que denomina a forma de governo na qual o chefe de Estado é eleito pelos cidadãos, estes mesmos cidadãos gritaram palavras de ordem contra o primeiro-ministro, contra o Governo de uma forma geral, e contra o FMI. Aliás, à passagem pela delegação do Fundo Monetário Internacional em Lisboa, os ânimos alteravam-se. A porta do edifício 57 estava protegida por elementos do corpo de intervenção da PSP. Nada mais apetecível para os grupos organizados marginais infiltrados na manifestação. O perímetro de segurança, garantido por cerca de 20 elementos da polícia de choque, acabou por ser alargado enquanto eram arremessados tomates, petardos e garrafas de cerveja em direcção à porta. «A nossa luta é na Praça de Espanha», recordava um dos membros da organização a partir de um megafone. Não foi a tempo de evitar a detenção de um indivíduo por polícias à paisana.
A grande maioria que preferiu seguir as indicações da organização - uma marcha pacífica e que repudia qualquer tipo de violência física - continuou avenida a baixo exibindo a sua causa pública que era transversal a todos os manifestantes. «Esta é a marcha do desespero», comentava ao SOL João Gourlart, 57 anos, taxista, enquanto aguardava no separador central da Avenida da República o momento certo para ser fazer literalmente ao protesto e integrar a manifestação por dentro. Consigo trazia um letreiro onde questionava o Governo para a data em que o memorando vai deixar de vigorar em Portugal. Os temas, de resto, inscritos nos cartazes que imprimiam um colorido à manifestação e que permitiam, de imediato, a construção da narrativa do protesto, eram o mais abrangentes possível: troika, austeridade, dívida, saúde, educação, banca, licenciatura de Miguel Relvas, submarinos de Paulo Portas, só para nomear alguns.
Ontem saiu à rua em Lisboa, como no resto do país, a frustração, a revolta, a raiva e o desejo de mudança. Protestavam góticos e rastafaris, betos e nerds, doutores e precários, figuras mais ou menos públicas, com mais ou menos responsabilidades, da extrema direita à extrema esquerda e apartidários. Desfilava também Maria e Carlos Santos. Ela 31 anos e ele 34. Decidiram vir à manifestação no próprio dia. «Começamos a pensar que fazia sentido vir para a rua gritar contra isto que nos estão a fazer. Não podemos continuar neste sufoco sem fazer nada», admite a auxiliar de educação de infância. O casal está no meio da manifestação com os dois filhos: Pedro, 7 anos, e Lara, 4 anos, «porque falta-me esperança quanto ao futuro destas duas crianças e de tantas outras que já vi por aí». Queixam-se da «falta de dinheiro e da dificuldade que sentimos para que eles possam continuar com os seus estudos e ainda mais agora que o meu marido foi despedido. Só temos um salário em casa e há muito que o nosso orçamento ultrapassou o limite normal da sobrevivência», reconhece.
Já na Avenida de Berna eis um daqueles raros momentos. Uma senhora de avançada idade, muito provavelmente traída pela mobilidade, tira partido da varanda do terceiro andar de um prédio - com uma agência do Deutsche Bank (Banco alemão) nos rés-do-chão e aguarda com uma panela os manifestantes que estão prestes a chegar à Praça de Espanha. O sinal de solidariedade deu origem a uma ovação por parte dos manifestantes que sorriam e acompanhavam, com as suas próprias panelas, o ritmo que ela própria ditava do alto da varanda. «Quer melhor exemplo de que o descontentamento é geral e transversal a todas as idades e que estamos todos juntos nesta luta pela dignidade que este Governo nos está a tirar? Este Governo perdeu o povo. Até aquele que votou nele. Mas nós também os vamos tirar de lá. Acredite.», admite Joana Martins, 28 anos, que não conteve as lágrimas ao ver a multidão a apontar o olhar em direcção à varanda.
A Praça de Espanha era o destino final e simbólico. Em Espanha, outras centenas de milhares de manifestantes protestavam contras as políticas do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy. Os manifestantes começaram a dispersar. Mas a iniciativa de alguns grupos de levar o protesto até São Bento levou a que alguém subisse a um escadote para usar um outdoor da JSD no local como mensageiro: 'Todos a S. Bento'. Disparou o aplauso. O desafio, escrito com uma lata de graffiti, foi aceite por alguns. Os que ficaram pela Praça de Espanha, como Margarida Pereira, 65 anos, professora, entregaram-se ao descanso depois de um protesto que «foi um momento muito bonito de união dos portugueses. Cabe agora ao Governo perceber o que está em causa. Atingimos o nosso limite», garante.

Fonte: SOL
 

newpine

GF Ouro
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Set 23, 2006
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Felizmente muita gente demonstrou ontem ao país que não fica calado perante toda esta avalanche de austeridade , com falta de iniciativas para o desenvolvimento do comércio

e da indústria.

No meio da multidão destacou-se um cartaz que me apraz divulgar : "Só o beijo nos faz fechar boca ". (ficar calados!)
 
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