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O regresso clássico, moderno e revigorante dos Mind da Gap

Amoom

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Fev 29, 2008
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Ao sexto álbum, os Mind da Gap fazem o que sempre fizeram: continuam defensores acérrimos do hip hop e, através dele, medem o pulso ao país - "um jardim onde a vida vai assim-assim". O hip hop tem vistas largas, as palavras acertam e "Regresso ao Futuro", sem ser futurista, é um disco que sabe traduzir o presente.

"Neste beat encontrei o meu habitat natural", dizem-nos os Mind da Gap num dos temas mais dançáveis do seu novo álbum. "Mal ou bem, por aqui passa a minha vida/ Com ou sem outra hipótese de saída", continuam nesse apetitoso single que é "Este Beat". E a rimar, a rimar, tem sido assim há quase vinte anos. Mal ou (geralmente) bem, o trio portuense tem levado as suas vidas - e as de muitos outros - às suas canções desde 1993, altura em que Ace, Presto e Serial se juntaram, ainda como Da Wreckas, um ano antes de gravarem a primeira maquete já como Mind da Gap.

Cinco álbuns depois, continuam a ter histórias para contar - todas, ou quase, inspiradas em factos verídicos, até porque o contexto atual pode dar-lhes material mais sugestivo do que a melhor ficção. Basta ouvirmos "O Jardim", o outro single de "Regresso ao Futuro", para percebermos que não faltam aqui ingredientes da ordem do dia, devidamente misturados para o retrato de um país "que tem autoestima em falta/ tem fervor nacionalista/ uma das contradições compiladas nesta lista". Suportada por um ritmo tropical, dos mais descontraídos do álbum, a lista aponta outras "contradições" que juntam consumismo, futebol, submarinos, reality shows, novos ricos ou, claro, a crise e a troika. Farpas como "este país não é para velhos nem novos/ é para corruptos e preguiçosos" podem ter na mira a classe política, mas as observações pouco abonatórias acabam por chegar a todos - "temos coração mole, mordemos sempre o anzol (...) por nós tá tudo bem enquanto houver superbock".






Também paranoicos, mas com sentido de humor à mistura, "Vozes na Cabeça" e "'Sónia" são, além de dois dos pontos altos, dos temas que garantem maior diversidade a um disco equilibrado, herdeiro do hip hop clássico mas recetivo a desvios funk, soul ou electro (rompendo, e ainda bem, com o toque mais old school do antecessor "A Essência", de 2010).
"Vozes na Cabeça" é uma canção "para quem já não sabe para onde se vira - se fica, se pira, respira, delira...", vincada por um refrão rapidamente trauteável que, na reta final, é interrompido por scratch com ligação direta ao noticiário (que aqui parece o responsável por muitos casos de esquizofrenia e desnorte).
"'Sónia", com níveis de ansiedade comparáveis, relata uma noite mal dormida de alguém prestes a "dar em doido de vez com tanta ideia a explodir" - curiosamente, o ritmo rodopiante é dos mais lúdicos do alinhamento.
Por outro lado, "Nada Complicado" transmite-nos toda a tranquilidade do mundo num fim de tarde à beira-rio, cenário idílico para passeios de bicicleta (sugestão de Presto) ou de carro (a escolha de Ace) com banda sonora cool a condizer.

Além do trio portuense, parte de "Regresso ao Futuro" nasce das palavras dos convidados Sam The Kid (apaixonado, com borboletas na barriga e tudo, em "És Onde Quero Estar"), Mundo (no melodismo circular de "Há Dias", bonito hino à perseverança e ao companheirismo), Rey (no single "O Jardim", com as críticas que já referimos), Dealema (incisivos em "Sete Miras") e Berna (na mais meditativa "Já Chegamos"), colaborações naturais numa discografia incapaz de passar sem elas. O regresso dos Mind da Gap ganharia outra concisão caso dispensasse três ou quatro temas, até porque em alguns não nos dizem nada muito diferente do que já disseram antes. Mesmo assim, a resposta à pergunta "Será que as minhas palavras ainda fazem eco?", entoada em "Vozes na Cabeça", não deixa de ser afirmativa. Eles próprios acabam, aliás, por responder mais à frente, em "Há Dias": "Não temos disco de ouro/ mas temos um tesouro/ há gente que nos ouve/ nesse temos efeito duradouro". Neste caso, pelo menos, a sua verdade é indiscutível. Ouvindo discos como "Regresso ao Futuro", percebemos porquê...
 
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