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Vinculação precoce com a mãe

Luana

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A ideia de que todas as mães se vinculam automaticamente ao bebé ao primeiro olhar não é real. Como os outros amores da nossa vida, muitas vezes é algo gradual, que se constrói na prática.

Os pediatras Marshall Klaus e John Kennel foram os primeiros a introduzir o termo bonding, para descrever a relação única e duradoura que se forma entre a mãe e o recém-nascido. No entanto, têm sido poucos os estudos dedicados ao processo do envolvimento emocional da mãe com o seu bebé. Rodeado de uma carga cultural fortíssima, é um tema muitas vezes não falado ou, quando abordado, repleto de mitos e visões cinematográficas. Mas o que haverá a dizer? poder-se-á perguntar. Ora a ligação da mãe ao bebé que nasceu não é algo tão simples, imediato e fácil? Quem já foi mãe, sabe que não. Descubra cinco dos principais mitos que vale a pena desconstruir.

A VINCULAÇÃO NÃO É IMEDIATA
«Os vínculos nunca são automáticos», reconhece Bárbara Figueiredo, investigadora da Universidade do Minho, especialista em estudos ligados às determinantes que influenciam o envolvimento emocional dos pais com os seus bebés. Pela investigação que tem levado a cabo, conclui haver certos momentos, estímulos e experiências que favorecem essa ligação. «O momento do parto é claramente um deles… sobretudo para o pai, ao contrário do que se poderia pensar», revela. Para a mãe, o parto continua a ser um momento difícil e não é o eleito: «Muitas mães dizem que, quando viram pela primeira vez o bebé, foi um momento importante mas, ao perguntarmos quando é que de facto sentiram que tinham uma relação especial com ele, a maior parte não diz que foi nessa altura. Foi no entretanto».



Lília Brito, psicóloga clínica na Onclinic em Lisboa, com décadas de experiência de acompanhamento de grávidas e recém-mães, concorda: «O amor maternal não é algo que se estale os dedos e já está. É na descoberta mútua que a ligação se constrói. Há um peso social e cultural muito grande: a sociedade, as famílias, as mães esperam que se ame imediatamente o bebé. Mas é preciso tempo e é necessário que a mãe não idealize muito a situação». As expectativas irreais da rapidez do envolvimento são, aliás, um dos factores que mais atrasa a vinculação da mãe ao bebé, aumentando a ansiedade e a sensação de desajustamento.

É UM PROCESSO SIMPLES
Os factores que influenciam o processo de envolvimento da mãe com o bebé são muitos e diversos. Há que ter em conta aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais, que dizem respeito à gravidez, ao parto e ao pós-parto. Incluem a mãe mas também o pai e o próprio bebé.
A relação estabelecida durante a gravidez pode potenciar o envolvimento. Bárbara Figueiredo destaca: «Quando, por exemplo, avaliamos e comparamos a ligação emocional antes e depois das ecografias, há um aumento do envolvimento depois da eco». O facto de ser uma gravidez desejada, sem imprevistos, em que a mãe já comunica com o bebé potencia uma futura ligação. A terapeuta e doula Dulce Alves concretiza: «Uma mãe que falou com o seu filho enquanto ele ainda estava na sua barriga, que o acariciou apesar de não poder tocar-lhe, que dançou com ele apesar de não poder abraçá-lo terá, seguramente, percorrido um caminho importante no sentido da vinculação». E, em primeira mão, Bárbara Figueiredo revela: «Estudos que estamos agora a terminar levam-nos inclusivamente a concluir que é relativamente fácil de prever as mulheres que vão estar ou não a amamentar após os três meses do bebé, tendo em conta os níveis de depressão apresentados no terceiro trimestre de gravidez».


O tipo de parto, a intensidade da dor envolvida e os métodos usados para a reduzir são aspectos influenciadores. Quanto mais a mãe participa nas decisões relativas ao parto, assim como nos cuidados a prestar ao bebé a seguir, maior é o envolvimento.


Após o parto, biologicamente, tudo se articula de maneira a que a sobrevivência seja garantida. As alterações hormonais, sentidas pela mãe e pelo pai, aumentam a sua reactividade emocional, promovendo a procura de proximidade com o bebé. São modificações sem comparação, em termos de rapidez e magnitude, mas que podem ter como consequência o blues pós-parto, sentido por 60 a 80 por cento das mulheres. Dura entre uma a três semanas e caracteriza--se por oscilações de humor (vontade inexplicável de chorar, irritação com situações do quotidiano), alterações dos padrões do sono (dormir muito ou ter insónias) e da alimentação (muito apetite ou não apetecer comer).


Além destas componentes, a qualidade da relação conjugal é muito importante. Mães que possuem relações mais positivas e íntimas e que beneficiam de maior apoio por parte dos companheiros têm, em geral, um envolvimento mais favorável com o bebé. O grau de complexidade do sistema social onde a mãe se insere e a existência ou não de uma estrutura familiar de apoio são outras condicionantes.

NÃO HÁ SEGUNDA OPORTUNIDADE
O período que se segue ao parto foi tido durante vários anos como «o» momento para a vinculação. O reconhecido pediatra T. Berry Brazelton lembra, na sua obra O Grande Livro da Criança, um episódio divertido: em algumas maternidades, chegou-se a colocar um aviso na porta do quarto a dizer: «É favor não incomodar – está em curso um processo de relacionamento pais/recém-nascido». De facto, nas primeiras 24 horas de vida, o bebé está especialmente atento e disponível para a relação e esses momentos a seguir ao parto oferecem as condições óptimas para a vinculação. No entanto, não se aplica a todas as mulheres. Algumas não querem ter o bebé consigo logo após o parto, preferindo recuperar energias. Bárbara Figueiredo aconselha: «Temos que avaliar muito bem, caso a caso, e discutir isso com a mulher. Para algumas pode ser uma situação favorável mas para outras não. E não é por isso que umas são piores mães do que outras». Até por uma questão de sobrevivência da espécie, esse período não poderia ser a única hipótese para a construção de um bom relacionamento. Também neste caso, um começo menos positivo não é sinónimo de impossibilidade de um final feliz.


Natália Fialho, moderadora do grupo de apoio em Portugal da API (Attachment Parenting International), reforça: «A vinculação não é um fenómeno de agora ou nunca. Não significa que uma mãe que, por alguma razão (bebé prematuro, cesariana, complicações pós-parto que levam a uma separação inicial da mãe e do filho), não teve essa oportunidade inicial nunca mais vá conseguir criar essa relação».

SÓ DEPENDE DA MÃE
A relação não é unidireccional, por isso o comportamento e o desenvolvimento de certas competências do bebé pode influenciar bastante o grau de envolvimento da mãe. «Os bebés têm uma apetência de apego e uma habilidade social extraordinárias», descreve a psicóloga Lília Brito. O sorrir, o seguir visualmente a mãe, o manter contacto ocular e expressar vocalizações confirmam que se está a estabelecer comunicação e que é especialmente orientada para a mãe, o que a conquista. Por outro lado, bebés com dificuldades ao nível desta sinalização ou que choram muito dificultam o processo. «Bebés mais imprevisíveis, que não conseguimos perceber muito bem as suas necessidades, com um choro mais agudo e irritante, com os ritmos pouco organizados, que parecem não se consolar podem ser bem difíceis e influenciar negativamente o envolvimento da mãe», reconhece Lília Brito.

UMA EXPERIÊNCIA SÓ MARAVILHOSA
A chegada de uma criança revoluciona a vida de uma mulher. Obriga-a a olhar para dentro de si, convidando-a a reavaliar valores e prioridades, a reorganizar o seu papel na família e as suas relações mais íntimas. Além do luto do bebé imaginado, surge o luto da sua vida anterior. «Esta experiência traz uma mudança de registo de nós próprias. De mulher independente, activa, que gere as suas horas, que se diverte e namora quando quer, passa a mãe, que é a tarefa mais difícil da vida. É como se tivesse que recriar uma nova identidade», esclarece a psicóloga Lília Brito. A ideia de que estes primeiros tempos são o período mais feliz da vida de uma mulher faz criar expectativas desadequadas. Natália Fialho concorda: «A mensagem que se passa que tratar de um recém-nascido é um passeio, sempre agradável e fácil, faz com que muitas mães sintam que não estão a conseguir e a sentir o que supostamente seria normal, o que dificulta a vinculação». A disponibilidade constante, o enorme cansaço, as poucas horas de sono, o desconhecido, a incapacidade de perceber sempre as necessidades do bebé, o estado de vigilância permanente levam a que muitas mães reclamem: «Ninguém me avisou que isto ia ser tão difícil!» E é neste turbilhão de emoções que a ligação ao bebé se processa, o que leva a que seja natural que o enamoramento leve o seu tempo. Dulce Alves, doula com muita experiência no acompanhamento de mães no pós-parto, aconselha: «É fundamental que alguém cuide da mãe para que esta possa centrar-se e investir na sua relação com o bebé. E este cuidar tem que ser de natureza afectiva, para que ela se possa nutrir, e de natureza prática, para que possa repousar. Uma mulher que acabou de dar à luz passou por uma das maiores revoluções da sua vida, está fragilizada física e emocionalmente e merece todos os cuidados que lhe possamos prestar».


E uma coisa é certa: excepto raras excepções, à medida que o mal-estar físico do parto vai desaparecendo e que a mãe vai conhecendo o seu bebé, cresce a confiança na sua capacidade de cuidar dele. Demorando mais ou menos tempo, o tal envolvimento emocional acaba sempre por chegar. E mantém-se ao longo da vida, de uma forma incomparavelmente forte. Até parece mito, mas não é.



O que pode facilitar
A própria vivência do cuidar é uma mais-valia em termos do envolvimento emocional da mãe com o seu bebé. «Não há receitas mágicas, mas tudo o que seja centrado no bebé e no fomentar a relação com ele pode funcionar», revela Cristina Pincho, educadora perinatal e coordenadora do projecto Info Ser Mãe (Info Ser Mãe). E deixa algumas sugestões:
- tocar muito no bebé, sentir o seu cheiro, olhá-lo nos olhos, conversar e cantar para ele, ficar a observar os seus movimentos, sons e expressões para conhecê-lo mais rapidamente;
- prestar os cuidados do dia-a-dia: alimentá-lo, dar-lhe banho, mudar-lhe a fralda, vesti-lo;
- amamentar (não como um remédio ou obrigação, mas como um acto que dá profundo prazer à mãe);
- usar um pano porta-bebés;
- fazer massagens ao bebé;
- frequentar grupos de ajuda e de discussão, em que pode conversar com outras mães, partilhar dúvidas e emoções, percebendo que o que sente é normal e que não está sozinha neste desafio.

Cristina Pincho sugere ainda um conselho final: «As mães devem recuperar a sua intuição. As ideias do não pegar o bebé ao colo, não embalar, ter que ter horários rígidos para mamar são muito recentes. Dá jeito para o individualismo actual, mas são uma antítese do cuidar e dificultam a vinculação».



Como o pai pode ajudar
O pai chega a casa, depois de um longo dia de trabalho. Ao abrir a porta encontra a mulher em lágrimas e o bebé a chorar. A casa está uma confusão e quanto ao jantar… esqueça. Pergunta-lhe como foi o dia e ela responde: «Quero a minha vida de volta!» Pode parecer caricatura, mas nos primeiros tempos este poderá ser o cenário de vários finais de dia. É uma excelente oportunidade para reforçar a sua relação enquanto casal, um dos factores que muito contribui para um envolvimento mais fácil e rápido da mãe com o seu bebé.
- Ajude nas tarefas domésticas, mesmo antes de a sua mulher lhe pedir;
- Não espere que ela seja uma super-fada-do-lar só porque ficou em casa o dia todo;
- Seja realista em relação à hora que diz que irá chegar a casa e não se atrase;
- Prepare-lhe um bom banho ou encoraje-a a descansar um pouco, enquanto fica a tratar do bebé;
- Promova momentos de intimidade, como carinhos e abraços, mas não a pressione para grandes aventuras sexuais;
- Encoraje-a a falar sobre o que sente e oiça-a sem julgamentos;
- Ao fim-de-semana, entre mamadas, peça a alguém para ficar um bocadinho com o bebé e leve-a a almoçar ao seu resta
urante preferido;
- A única coisa que não pode fazer é dar de mamar, por isso insista em participar em todas as outras tarefas.
 
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