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A cadeira é o novo tabaco: Ficar sentado é tão prejudicial quanto fumar?

castrolgtx

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Como muitas outras pessoas, dou por mim a passar demasiado tempo diante do computador. Quando tenho reuniões face a face, costumo encontrar-me com os meus colegas à volta de uma mesa de conferências, por vezes num lounge de aeroporto (nada como aproveitar bem uma escala longa) e, muito frequentemente, em cafés (olá, Starbucks!).

Isto significa que o maior denominador comum de qualquer destas localizações não é a secretária ou o teclado, nem mesmo o café. O denominador comum num dia de trabalho moderno é o nosso… bem, o nosso traseiro. Enquanto trabalhamos, o que fazemos mais que qualquer outra coisa é estarmos sentados.

Em média, são mais de nove horas por dia, contra menos de oito a dormir. Estarmos sentados é tão prevalecente e tão natural que nem sequer questionamos quanto tempo o fazemos. E, como todas as outras pessoas o fazem, nem nos ocorre que não seja bom.

Cheguei à conclusão de que estar sentado é para a nossa geração o que o hábito de fumar foi para outras. É claro que os estudos no âmbito da saúde concluem que as pessoas deviam passar menos tempo sentadas, fazendo pequenas pausas para se levantarem e caminharem.

Depois de uma hora sentado, a produção de enzimas que queimam gorduras diminui até 90%. Longos períodos nessa posição diminuem o ritmo do metabolismo, afetando, por exemplo, os níveis de HDL, ou colesterol bom. As investigações mostram que esta falta de atividade física está diretamente ligada a 6% do impacto das doenças cardíacas, 7% da diabetes de tipo 2 e 10% do cancro da mama e do cólon. Neste momento, nos Estados Unidos, o peso da mortalidade associada à obesidade é de 35 milhões, enquanto em relação ao tabaco são 3,5 milhões.

O The New York Times reportou outro estudo, publicado no ano passado no boletim Circulation, que analisou quase 9 mil australianos e descobriu que, por cada hora diária adicional que uma pessoa se senta a ver televisão, o risco de morte aumenta 11%. O artigo cita um médico que afirmou que o tempo excessivo (definido por ele como nove horas diárias) que as pessoas passam sentadas, é uma atividade letal. Em resultado, nos últimos anos temos assistido à moda das secretárias que permitem trabalhar de pé. O que, sendo um passo em frente, porque nos tira de cima do traseiro, não ajuda realmente a praticar exercício.

Há quatro anos realizei uma mudança simples na minha vida ao trocar uma reunião que devia ser realizada num café por uma reunião «andante». Gostei tanto que se tornou regular na minha agenda. Agora, semanalmente, faço em média quatro reuniões dessas, o que me permite caminhar entre 30 a 50 quilómetros. Esta mudança, que teve grande influência na minha vida, aconteceu quase por acaso. O meu principal problema com o exercício foi sempre o facto de me roubar tempo para outras coisas mais “produtivas”.

Ir ao ginásio para cuidar de mim (vs. empresas, colegas, família), parecia-me egoísta. A minha ética puritana de trabalho nascida na América saía quase sempre vencedora.

Quando percebi que podia fazer as duas coisas ao mesmo tempo, tornando o exercício parte de uma reunião de trabalho, consegui finalmente começar a exercitar-me mais. É como uma aquisição dois em um. Não estou a sacrificar a minha saúde em troca do trabalho, nem o trabalho para me manter em forma. E talvez seja por isso que fazer da boa forma uma finalidade deixou de constituir um conflito. É tão simples como atravessar a porta do escritório e não exige muito mais que uma mudança de sapatos.

É verdade que algumas pessoas recusarão este tipo de proposta. Provavelmente, 30% daqueles a quem peço para participarem neste género de reunião dizem que não estão em boas condições físicas. Uma pessoa disse-me que se tinha tornado mais ativa durante um mês inteiro antes da reunião, para não ficar embaraçada na sua caminhada comigo. Não censuro quem recusa uma reunião a caminhar e, nesse caso, escolho outro género de encontro, como um almoço, mas também não deixo de me lembrar das pesquisas de James Fowler e Nicholas Christakis, publicadas no livro Connected. Eles observaram que a obesidade se propaga em rede; se o amigo do amigo do seu amigo que vive a mil e quinhentos quilómetros de distância engorda, é provável que você também engorde. E, caso esse amigo afastado perca peso, mesmo que você não viva na mesma cidade, é provável que também emagreça.

O meu objetivo é transmitir a ideia de que a atividade física importa e que todos nós importamos o suficiente para cuidar da nossa saúde. Após algumas centenas destes encontros, comecei a notar efeitos secundários que, à partida, não esperava. O primeiro é que consigo ouvir melhor quando estou a caminhar ao lado de alguém do que quando estou sentado à sua frente num café. Há qualquer coisa no facto de estarmos lado a lado que coloca o problema ou as ideias diante de nós e nos motiva a trabalhar juntos. Em segundo lugar, o simples facto de estarmos em movimento significa que os dispositivos móveis ficam guardados. A atenção total é, possivelmente, o recurso mais escasso da vida atual, e os encontros a caminhar permitem-me investir nesse recurso de uma maneira muito diferente. Finalmente, quase sempre terminamos a caminhada bem dispostos. O que ouço as pessoas dizerem mais frequentemente, sobretudo se, no passado, recusaram este género de encontro, é que foi o momento mais criativo que tiveram em muito tempo. Pode ser por termos estado ao ar livre, ou um resultado da própria caminhada. As pesquisas apontam que, sem dúvida, caminhar faz bem ao cérebro. Aprendi que, para pensar fora da caixa, é mesmo necessário sair da caixa. Quando saímos do escritório, entregamo-nos à natureza, respeitando os seus ciclos e a sua imprevisibilidade. Fico mais atento ao que se passa à minha volta quando experimento os calores extremos do verão ou o poder gélido do inverno.

Participo no mundo que me rodeia em vez de me isolar dele. Para manter este compromisso — comigo e com os outros — guardo alguns períodos da minha agenda para estas reuniões. Dois períodos de manhã (quando posso tomar um duche a seguir) e dois ao fim do dia, estão reservados para as “reuniões andantes”. Tento marcar estas reuniões antes de marcar os tradicionais encontros à volta da mesa, porque assim não tenho desculpa para não caminhar nesse dia e ajuda-me a estar mais desperto durante o dia e menos zombie (e ainda a pensar dentro da caixa) ao fim da tarde. Nas raras vezes em que alguém cancela uma caminhada à última da hora, aproveito para sair sozinho durante esse tempo e dou por mim a ouvir a minha própria voz com mais clareza.



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O boletim Circulation analisou quase 9 mil australianos e descobriu que, por cada hora diária adicional, o risco de morte aumenta 11%




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