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A impossível teoria alemã

billshcot

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Nov 10, 2010
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Quando falam de austeridade, os alemães também sabem o seu preço. Ao chanceler Gerhard Schroeder, após a reeleição em 2002.

Quando falam de austeridade, os alemães também sabem o seu preço. Ao chanceler Gerhard Schroeder, após a reeleição em 2002, custou-lhe a popularidade, o cargo e a fúria de um país inteiro que contestou a avalanche de impostos, o fim do salário mínimo, a delapidação do Estado social e a explosão do desemprego. A revolta germânica na altura foi tal que um popular programa de rádio satirizou a política austera de Schroeder com a música ‘Der Steuersong' (qualquer coisa que, em bom português, se poderia traduzir como a ‘canção dos impostos') e com ela fulminou as tabelas de vendas de discos num só mês.

O episódio da canção de protesto é apenas um detalhe nesta breve história da austeridade alemã. Mas as medidas controversas que lhe deram origem há mais de dez anos foram agora recordadas por Hans-Werner Sinn como um bom exemplo do que é necessário na Europa e, em particular nos países do Sul. "Menos austeridade significaria menos sofrimento agora em troca de mais dor no futuro e do aumento do risco de ruptura do euro", defende o presidente do IFO, o influente ‘think tank' alemão dedicado a estudos económicos, em entrevista ao ‘El Pais' no último fim-de-semana.

Considerado uma espécie de vedeta entre os economistas alemães, Hans-Werner Sinn arrisca mesmo dizer que a Grécia está numa situação tão desesperada que não vai conseguir prosperar no euro - logo, talvez deva ponderar a sua saída - e Portugal não anda muito longe disso. Uma posição coerente com o que escreveu há poucos dias, quando defendeu que os dois países deviam tirar "férias do euro". Espanha também não está famosa, mas aguenta mais um pouco. A solução para a Europa? A fórmula alemã, receita o economista. O que passa por uma reforma laboral profunda que permita redução de salários, desvalorização interna de 30% para as economias portuguesa, grega e espanhola, corte de preços e, em sentido contrário, encarecimento da economia alemã em 20%.

Primeiro problema da teoria alemã: o ajustamento - necessário, sem dúvida - já está a ser feito em Portugal, através de impostos e receita. Isso levou a uma queda significativa do poder de compra, mas nem por isso a uma desvalorização interna, uma vez que os salários encolhem pela via fiscal, mas os custos de trabalho mantêm o peso nas contas das empresas. Mas é esta inexplicável obsessão pelo défice que leva a exigir mais cortes a quem já quase tudo foi retirado.

Segundo problema: como pode uma economia desvalorizar 30% e ainda assim competir com um euro forte a reboque de uma robusta Alemanha? Nesse caso, talvez faça sentido que países como Portugal ou Espanha façam as malas e tirem umas férias do euro. E então o que sobra? Uma Europa (ainda mais)fragmentada, regresso a velhas e diferentes moedas, câmbios enfraquecidos face ao dólar. E um longo e penoso caminho de (desejável?) regresso a uma União Europeia que, bem vistas as coisas, começou logo mal: quis uniformizar um mercado e uma economia sem antes perceber as diferenças de estrutura de cada país. E é o que se vê hoje: uma casa instável assente em pilares de diferentes forças e dimensões. Talvez Hans-Werner Sinn possa juntar uma nova teoria às suas pesquisas: e se fosse a Alemanha a sair do euro e deixasse as problemáticas economias europeias resolverem os seus problemas de dívida e competitividade?

Terceiro problema: mesmo aceitando políticas de austeridade, é preciso saber como aplicá-las e qual o seu limite. Porque cortar salários e pensões, propor rescisões e reestruturações, aplicar taxas e impostos, são actos de gestão dos governos - mas de nada servem sem o consenso das forças sociais ou o envolvimento dos cidadãos. E esses, como já se viram, já estão a ser trocados por cantigas na rua. Não há teoria económica que lhes resista. Perguntem a Schroeder.

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