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Santana Lopes regressa ao CCB 20 anos depois

billshcot

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Nov 10, 2010
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O CCB comemora hoje 20 anos. Visite com Santana Lopes o espaço que o antigo primeiro-ministro ajudou a erguer.

Pedro Santana Lopes mora na Junqueira, a 500 metros do Centro Cultural de Belém (CCB). Só que o tempo para beber um café no Jardim das Oliveiras, apreciar a vista do Tejo ou ver uma exposição ou concerto é cada vez mais raro. Santana Lopes entra hoje no Centro com o tempo contado para assistir a conferências e cerimónias.

Para assinalar o 20º aniversário do CCB, que se comemora hoje, dia 21 de Março, o Diário Económico lançou-lhe um desafio: o carro ficava à porta e o antigo primeiro-ministro faria uma visita guiada pelo espaço para recordar a história de um dos monumentos contemporâneos mais marcantes de Lisboa.

Esta é uma história que podia ter no título "Missão Impossível". No dia 3 de Janeiro de 1990, o então primeiro-ministro, Cavaco Silva, convidou-o para secretário de Estado da Cultura. E logo com uma tarefa gigantesca: o Centro Cultural de Belém teria de estar a funcionar em Janeiro de 1992 para a primeira Presidência Portuguesa das Comunidades Europeias. "Foram tempos de muita contestação porque a obra estava em estacas e a correr mal. Vim cá três vezes por semana durante dois anos", lembra Santana Lopes, actual provedor da Santa Casa da Misericórdia, enquanto caminha pela entrada principal.

"Fiquei especialista em construção. Eu já percebia de pedras, de janelas, de elevadores", recorda Santana Lopes, que pede ao assessor para mostrar uma grande entrevista que deu na época ao jornal ‘Expresso' onde foi fotografado sobre o "cabouco" do CCB.

Problemas e críticas
As dificuldades para cumprir o prazo eram muitas. "Tinha várias reuniões. Havia divergências entre as equipas. Mas nunca disse a Cavaco Silva que as obras não iam estar prontas a tempo, nem mesmo nos dias em que estava muito preocupado", recorda.

As críticas à obra cresciam de tom. Em 1991, num debate na SIC, no programa de Miguel Sousa Tavares, com António Barreto e Pacheco Pereira, Santana Lopes foi o convidado especial para falar sobre o CCB. "Foi o debate mais difícil. A certa altura tirei um coelho da cartola e levei um livro histórico que mostrava como o prolongamento do Mosteiro dos Jerónimos tinha sido muito posterior à construção dos Jerónimos. Isso deitava por terra a tese de que não se podia construir nada ao lado dos Jerónimos", explicou Santana Lopes.

Na génese do projecto do CCB esteve Valente de Oliveira, ex-ministro do Planeamento e da Administração do Território de Cavaco Silva entre 1985 e 1995. "O local estava no enfiamento da pista do Aeroporto da Portela e eu, nos meados da década de 80, passava ali todas as semanas nas minhas viagens para o Porto. Quando olhava para baixo, via um espaço ocupado por um enorme matagal onde estavam abandonados restos de máquinas amarelas e enferrujadas. Impunha-se arranjar uma ocupação digna para esse terreno", recorda Valente de Oliveira ao Diário Económico.

O primeiro projecto para a zona surgiu-lhe numa visita à coudelaria de Alter. "Apercebi-me que tanto as pessoas como os cavalos estavam em Lisboa, então pensei que podíamos criar um espaço na capital". Outras viagens que Valente de Oliveira fez como ministro levaram-no a Vila Viçosa, onde descobriu as carruagens do Paço Ducal. "Valia a pena juntá-las às do Museu dos Coches", lembrou-se. Mais tarde falou com Teresa Patrício Gouveia (secretária de Estado da Cultura entre 1985 e 1989)e João de Deus Pinheiro (ministro dos Negócios Estrangeiros de 1987 a 1992). Como Portugal iria presidir à Comissão Europeia ficou também a hipótese de criar um local que pudesse receber os líderes europeus. "Tivemos muitas críticas", disse Valente de Oliveira. Mesmo assim, o projecto acabou por avançar.

Ateliê instalado nas obras
Considerado um símbolo do ‘cavaquismo', o Centro tanto foi apelidado de "mamarracho monstruoso" como de "maravilha arquitectónica". Manuel Salgado, um dos arquitectos do CCB, juntamente com Vitorio Gregotti, lembra-se bem desses tempos. "As pessoas não estavam habituadas a uma coisa nova e era normal que criticassem. Essa estranheza já não existe e há uma grande aceitação", comenta o arquitecto, actual vereador na Câmara Municipal de Lisboa. Salgado e Gregotti trabalharam mais de 12 horas por dia para que tudo ficasse concluído a tempo. "A partir de certa altura, até instalámos o ateliê nas próprias obras", lembra o arquitecto.

À medida que sobe as escadas de acesso ao piso superior do Centro, Santana Lopes recorda outras dificuldades. "A entrega das cadeiras para o grande auditório, por exemplo. E também vinha cá ver como estavam a correr os testes acústicos", diz Santana que ainda hoje tem na memória o concerto de Montserrat Caballé, que marcou a inauguração do centro de espectáculos. Na exposição Berardo, que também fez parte desta visita guiada, Santana Lopes revelou um gosto especial pelas obras do impressionismo. "Sempre gostei muito de Monet e Renoir".

Ao cimo das escadas, Santana vira à esquerda, para o Jardim das Oliveiras. Tira a gabardine e fica a olhar o Tejo. "Tudo o que está ao pé do rio transmite-me calma", afirma. De repente, um grupo de miúdos da zona de Coimbra dirige-se a ele. Um dos rapazes, mais atrevido, pergunta-lhe: "És ministro do quê". Santana Lopes responde: "Já estive na Cultura e até já fui primeiro-ministro." Insistente, o rapaz volta à carga. "Conheces o Passos Coelho? O que gostavas de lhe dizer?". Santana responde rápido. "Dizia-lhe para pôr o País melhor".

Os estudantes, talvez satisfeitos com a resposta, afastaram-se. Sem nunca ter olhado para o relógio durante a visita, que durou pouco mais de uma hora, o responsável pelo cumprimento do prazo da construção do Centro desabafa: "Gostei bastante de rever o CCB." Só faltou mesmo beber um café no Jardim das Oliveiras.

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