• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

Enterrado vivo

Luz Divina

GF Ouro
Entrou
Dez 9, 2011
Mensagens
5,990
Gostos Recebidos
0




ENTERRADO VIVO





Entro na Corte de Justiça do Condado de Lake, Tavares, Flórida, ainda bem cedo. Trata-se da audiência de sentença de réu já considerado culpado de assassinato em 1º Grau. Caso como tantos outros? Não. Dessa vez o réu, que tinha 16 anos quando cometeu o crime, apesar de ser “juvenil” para a lei, foi julgado como adulto. Hoje, aos dezoito anos, saberá de seu destino.


Não sei bem se me sento ao lado dos parentes do réu ou da vítima, que ocupam quase todas as cadeiras. Opto pelo lado da vítima, afinal sou convidada do promotor Bill Gross, que se espanta ao constatar que eu realmente fui até lá. Juiz, acusação e defesa tomam seus lugares.

O réu é conduzido ao assento, com aquele famoso macacão cor de laranja que vemos na TV, algemado. Sorri para a família, que acena com discrição. Não haverá jurados, apenas o juiz decidirá após ouvir as partes.


O primeiro a falar é o advogado de defesa. Fala da falta de estrutura familiar do réu. De como foi injusto julgá-lo como adulto. Que era adolescente típico dos lares desfeitos e desregrados, como tantos outros que podem ainda se reabilitar. A família do réu se afoga em lágrimas ao ouvir sua desgraçada história.


Vez da promotoria. Gross chama a família da vítima para que se manifeste. É feita a leitura de uma carta da mãe e também toma a palavra o irmão mais velho. Ouvimos então frases contundentes, como – “Uma parte de mim morreu quando Jamie morreu”, “Queremos Justiça” ou ainda – “Eu chorei um milhão de lágrimas”. Enquanto o irmão de Jamie fala sobre ele e sua história, seus olhos literalmente cospem lágrimas ao redor dos papéis à sua frente.


O advogado luta bravamente contra a situação, lembrando a todos que as “crianças” têm direitos constitucionais diferentes porque tem menos “culpa” quando cometem crimes, são imaturos e não conseguem avaliar as consequências de seus atos. Reforça a importância do passado traumático do réu.

Avisa a Corte que ele sofreu uma fratura craniana que pode ter deixado sequelas. Cita jurisprudências da Suprema Corte. Pede pena de 23 anos de prisão. O réu ouve passivamente, sem reação aparente. Ao se manifestar, diz, olhando para os pais de Jamie, que sente pela perda deles, mas que não é o culpado, que isso é um erro judiciário. Meu coração se aperta. Será possível?


É a vez do promotor. Diz que o réu não é mentalmente doente. É inteligente e arrogante. Que esse caso deve servir de exemplo de como devem ser tratados juvenis assassinos. Brada que o réu mentiu, mentiu e mentiu! Já foi julgado e condenado.

Lembra que esse réu já tinha antecedentes criminais. Descreve a crueldade do assassinato de Jamie, estrangulado por longos 20 minutos. Pede pena de prisão perpétua sem direito a condicional – “a mais severa sentença para o crime mais severo do código penal”, diz. “Esse réu não demonstra nenhum remorso e não assume sua culpa. Só quer escapar!”


Agora vai falar o juiz. Enumera as evidências e argumentos que, na sua decisão, foram pouco relevantes, relevantes ou muito relevantes. Fundamenta cada um deles, detalhadamente. Explica o número de provas científicas que atestam, sem sombra de dúvida, a autoria do crime.

Provas como o DNA do réu no pescoço e embaixo das unhas da vítima, digitais dele no carro de Jamie. Diz que nenhuma evidência apoia a nova versão do réu. Lembra que a defesa tem sempre o direito de apelar de sua decisão. E condena o jovem à prisão perpétua, sem direito a condicional.


A Corte está em silêncio. Timidamente, o réu pede ao juiz que lhe permita um último abraço na mãe, porque depois de preso, nos EUA, o condenado jamais terá novamente contato físico com a família. As visitas são feitas por videoconferência ou em salas envidraçadas. O juiz nega o pedido. O réu não chora, ao menos na frente de todos.


Uma jurada estava presente e conversei com ela. Convicta da culpa do rapaz, ela explica que é mais fácil absolver um assassino que um mentiroso. E lá se vão duas vidas perdidas, vítima e réu. Mais uma história sem final feliz para ninguém. Quem chora agora sou eu.



serialkiller


 
Topo