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Estudou Xutos & Pontapés 13 anos

billshcot

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Nov 10, 2010
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Primeira tese de doutoramento portuguesa, com abordagem etnográfica, sobre a produção da música em Portugal.

O percurso do grupo rock Xutos & Pontapés foi o "terreno perfeito" para a escrita da primeira tese de doutoramento portuguesa, com uma abordagem etnográfica, sobre a produção de música em Portugal, disse à Lusa o autor, o antropólogo Pedro Félix.

O investigador, de 39 anos, dedicou 13 anos de vida a estudar os métodos de trabalho da banda rock portuguesa para perceber, de uma forma transversal, as diferentes práticas da produção de música portuguesa: a profissionalização, a organização de uma digressão, o trabalho técnico de bastidores, a promoção, o jornalismo e a crítica musicais.

Pedro Félix, etnomusicólogo do Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa (UNL), teve acesso direto aos Xutos & Pontapés, a partir de 2002, e era quase considerado um novo elemento da equipa, assistindo a todos os processos relacionados com a música.

"Não fiz entrevistas, dispensei-as, mas estava com eles sem contrangimentos. Tentei sempre mostrar que estava ali a fazer o meu trabalho, mas a resposta deles foi extraordinária. Foram eles que fizeram a tese, eu só a escrevi", disse Pedro Félix.

As quase 300 páginas escritas, defendidas e avaliadas na semana passada na UNL, e que lhe mereceram o carinhoso título de "doutor em xutologia", permitem perceber que a história dos Xutos & Pontapés é também a história da produção de música em Portugal, desde os anos 1970 até à atualidade.

À biografia dos Xutos & Pontapés é dedicada pouco mais de uma dezena de páginas. Tudo o resto é um olhar etnográfico sobre o fazer da música portuguesa, deixando pistas sobre "a controvérsia entre a indústria e a arte, entre o fazer e o criar, entre o comércio e a arte", explicou o investigador.

"Aprendi que os Xutos são uma banda altamente profissional e que responde àquela controvérsia; tentar ser igual a si próprios, não trair uma certa imagem sonora e continuar a ser inovadores, mesmo que, num certo momento, tenham sido olhados com desprezo", disse.

A investigação tem por título "Ai se ele cai. Uma etnografia da prática do grupo Xutos & Pontapés", recuperando um tema do álbum "Mundo ao contrário", de 2004.

Com esta investigação, Pedro Félix percebeu, por exemplo, que o "modus operandi" da música portuguesa não mudou muito desde finais dos anos 1990: "A indústria tem tendência para se esconder e eu consegui vê-la".

"O jornalismo musical, por exemplo, mais do que analisar [a música] legitima-se a ele próprio, enquanto valor, e tive sorte de encontrar um momento em que isso foi muito explícito", sublinhou.

Para este trabalho, Pedro Félix explicou que foi irrelevante ser ou não admirador dos Xutos & Pontapés, porque não fez uma análise estética da obra discográfica.

Os Xutos & Pontapés "foram o contexto ideal para fazer esta abordagem etnográfica, que não é muito habitual no território da 'popular music'. Reconheço-lhes uma grande capacidade de trabalho e muito profissional", afirmou.

Pedro Félix dará agora a ler a tese aos elementos da banda, e só depois é que pensará numa publicação para os leitores portugueses.

Licenciado em Antropologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL, Pedro Félix é ainda autor da tese "A cantiga é uma arma", e conta também, no currículo, entre outros estudos, com a participação na elaboração da "Enciclopédia da música em Portugal no século XX".

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