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“O futuro vai ter muitas revoluções”

billshcot

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Nov 10, 2010
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Em 1973, Martin Cooper fez o primeiro telefonema com telemóvel. Aos 84 anos, continua a imaginar o que aí vem

Foi nas ruas de Manhattan, em Nova Iorque (EUA), que Martin Cooper, então um engenheiro da Motorolla fez a primeira chamada de um telemóvel, a 3 de abril de 1973. Hoje, este pioneiro de 84 anos continua empenhado em mudar a nossa vida através da tecnologia.

Passaram 40 anos desde a histórica chamada telefónica que fez em Nova Iorque. Como lembra esse episódio?

Eu estava a falar com um jornalista enquanto caminhava pela rua. Era uma oportunidade para mostra o nosso novo telefone e estava a pensar a que pessoa devia ligar. Decidi telefonar ao meu rival, que estava a liderar o programa de telefones sem fios na AT&T [à época a maior companhia de telecomunicações dos EUA]. Surpreendentemente, ele atendeu o telefone.

Decidiu então divertir-se à custa dele?

Sim, disse-lhe que estava a ligar de um telefone celular e ele ficou abismado. Liguei para o responsável da Bel Laboratorys, que fazia parte da AT&T. Eles tinham inventado a tecnologia celular e ali estava eu a dizer que estava a ligar de um telefone móvel pessoal. Eles só queriam fabricar telefones para carros e eu achava que essa era a opção errada. Quando liguei ao meu rival, ele ficou em silêncio. Não sabia o que havia dizer, mas foi muito educado.

Sente que os bateu no seu próprio jogo?

Espero que seja esse o caso, porque nós [na Motorola] éramos uma companhia muito pequena. A AT&T era a maior empresa de todo o mundo. Era a que empregava mais gente e a que tinha as maiores receitas. E foi batida por uma pequena companhia de Chicago.

Que telemóvel usa hoje em dia?

Estou a falar consigo a partir de um Motorola Droid Razr. Mas uso um novo telemóvel a cada três ou quatro meses, porque gosto de experimentar as novas funções que aparecem.

Continua à procura da próxima grande novidade?

Sim, mas não estou certo que concorde com o caminho que os fabricantes e os operadores estão a tomar. Acho que os telemóveis são hoje demasiado complicados. Não me parece que haja escolha suficiente. O consumidor devia ter direito a um telefone que correspondesse exatamente às suas necessidades. Descobri há dias que, quando vais comprar um carro nos EUA há 392 modelos disponíveis. Se pensarmos nas cores e extras, são milhares de hipóteses. Mas os telemóveis são todos iguais.

Quando fez aquela primeira chamada, imaginava o impacto que os telemóveis têm hoje na nossa vida?

Nós acreditávamos que um dia toda a gente teria o seu telefone. Não tínhamos dúvidas disso. Dizíamos até que, quando nascêssemos, ser-nos ia atribuído um número de telefone e se não atendêssemos isso quereria dizer que tínhamos morrido. Mas naquele tempo não havia internet, não havia câmaras digitais, não havia computadores pessoais. A ideia de que viríamos a ter um poderoso computador no telemóvel, capaz de tirar fotografias, de nos pôr a comunicar e a obter informações de todo o mundo, tudo ao alcance da ponta dos dedos, era para nós ficção científica.

Começou a usar o telemóvel em permanência desde essa altura?

Na verdade eu já tinha um telefone no carro desde 1962. Há muito que podia fazer e receber chamadas de todo o mundo.

Neste momento deve ser o mais antigo utilizador de telemóveis…

Não gosto da ideia de ser o mais antigo seja lá no que for. Talvez seja o primeiro… (risos). Mas posso dizer-lhe que sou o mais velho utilizador do Twitter. Pode dizer aos seus leitores que o meu nome de twitter é @MartyMobile.

Continua interessado em seguir as novas tendências, da tecnologia e das redes sociais?

Muito, porque acho que o nosso trabalho enquanto engenheiros não está concluído. A tecnologia de comunicação celular ainda está na infância. Ainda não aprendemos como usar as possibilidades que nos são oferecidas até ao limite. O futuro vai ter muitas revoluções.

O que espera?

Dou-lhe o exemplo da saúde. Hoje as pessoas vão ao médico uma vez por ano, e fazem exames que são quase sempre inúteis. Imagine o que seria termos um dispositivo que nos fizesse um exame a cada minuto, o nosso médico ou um computador poderiam receber informação muito útil. Seria possível antecipar uma doença antes de ela se manifestar e curá-la antes que atacasse o corpo. Um dia teremos aparelho colocados debaixo da pele que farão este trabalho e transmitirão dados vitais pelo telemóvel. Outro exemplo é o conceito de colaboração, incluindo a educação. Será possível aprender em qualquer lado, 24 horas por dia. A sala de aula será cá fora no mundo.


Isso não pode ser de algum modo perigoso, no sentido em que poderemos ficar mais sozinhos e desligados uns dos outros?

Esse é um ponto importante, mas a comunicação cara a cara nunca será eliminada. A única forma de estabeleceres a confiança com alguém não é por e-mail ou sms ou a falar ao telefone: terás de olhar para os olhos da pessoa e conhecê-la antes de poderes confiar nela. Mas depois que essa relação se estabeleça, pense no aumento de eficiência que poderá haver se pudermos estar sempre a trabalhar e não apenas quando temos encontros cara a cara.

Ainda trabalha?

Tento não trabalhar, mas ainda tenho coisas para fazer. Faço parte de comissões governamentais, onde estou a tentar convencer as pessoas a seguirem estas direções de que falei. Tento ensinar aos jovens engenheiros como devem pensar sobre os seus produtos e negócios. Faço muitas palestras, em que tento transmitir o que aprendi ao longo dos anos.

Não gosta então da ideia de uma reforma tranquila?

Não sei o que é estar reformado. Se acordas de manhã e fazes o que gostas de fazer chamas a isso reforma? Gosto de contribuir para alguma coisa, e por isso acho que nunca me reformarei.


Falava de os telemóveis serem muito complicados. Será por isso que muita gente não usa os ‘smartphones’?

Sim, para muitas pessoas os telefones são tão complexos que nem conseguem aceder às funções que queiram usar. Só usam algumas funções. Quando se fala dos sistemas Android e do iPhone, estamos a falar de milhões de aplicações. Como é que é possível decidir qual é a mais apropriada para ti? Tenho a visão de um telefone que será muito mais inteligente do que os atuais. O telefone vai fazer-te uma série de perguntas em português e quando responderes o telefone vai auto configurar-se para tornar a tua vida mais fácil. Muitas pessoas tornaram-se escravas dos seus telefones. Têm de aprender a tecnologia e isso é errado, o telefone é que devia ser o teu escravo.


Está empenhado na criação desse telefone?

Só a um nível muito inicial. A minha mulher [Arlene Harris, conhecida como a primeira-dama do Wireless] construiu um telefone, que se chama Jitterbug phone. É desenhado para pessoas que querem a maior simplicidade. Tem poucas funções e as teclas são grandes. Quando se marca o zero, há um operador que atende, que sabe quem tu és e pode fazer chamadas por ti. É feito para pessoas que nem sequer querem ler o manual de instruções. Hoje olhamos para um telemóvel e nem sabemos como é que ele se liga ou desliga.


Nota uma diferença na forma como os seus netos interagem com a tecnologia?

Sim, completamente. Há muita gente que diz que a sociedade está a ruir e que tudo está a piorar, mas eu não acho que isso seja verdade. A sociedade de hoje é muito melhor do que era há 100, há 50 e mesmo há 25 anos. Vivemos mais tempo, fazemos tudo com mais eficiência e acho que ninguém quer andar para traz. A tecnologia vai continuar a tornar as nossas vidas mais fáceis.

Ainda temos de dar um grande salto tecnológico?

Sempre. As pessoas são muito conservadoras e é difícil adotarem novos hábitos. Veja o exemplo que dei de uma nova forma de colaboração entre pessoas, vai demorar pelo menos uma geração ou duas até as pessoas tirarem partido das possibilidades que lhes são oferecidas. E não acho que isso seja mau, não há pressa.


Qual foi a última tecnologia que o surpreendeu?

O que mais importa agora é o interface que temos com computadores e telemóveis. Isto de termos de escrever carregando num botão de cada vez atrasa muito a comunicação e a voz também é muita lenta. Precisamos de uma forma de comunicar mais rapidamente com os computadores. Li uma notícia de uma pessoa que perdeu os braços e usa o computador usando apenas a sua menta. Se conseguirmos usar essa tecnologia, um dia seremos capazes de falar com os computadores diretamente, o que pode ser fantástico.

Vai chegar o dia em que as máquinas vão começar a agir por si próprias, sem serem comandadas por humanos?

É um risco que corremos, mas espero que as máquinas olhem para nós com benevolência e sejam muito simpáticas connosco.

cm
 
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