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Badam Zari, analfabeta e candidata ao Parlamento

kokas

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Set 27, 2006
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Badam Zari é mulher e é analfabeta. Nos últimos dias foram publicadas muitas fotografias dela mas nunca lhe vimos a cara. Usa um véu que deixa apenas os olhos a descoberto e isso tem uma explicação: nasceu em Bajaur, uma das regiões tribais do Norte do Paquistão, mais conservador e menos desenvolvido que o resto do país, onde o direito ao voto das mulheres é uma luta – em mais de milhão e meio de eleitores elas são apenas um terço.

Por isso e pelas mulheres decidiu que seria candidata ao Parlamento nas próximas eleições gerais de 11 de Maio. Badam quer estar no Parlamento “para ser uma voz das mulheres, especialmente das que vivem nas áreas tribais”, disse na conferência de imprensa que deu no início da semana a propósito da sua candidatura. “Foi uma decisão difícil, mas agora estou determinada e com esperança em ter o apoio da sociedade.”

Badam pode nem ganhar – e esse é até o resultado mais provável. Mas, aos 53 anos, é a primeira mulher de uma região tribal do Paquistão a candidatar-se a um assento parlamentar e isso ninguém lhe tira.

“Não tive nenhuma educação. Frequentei uma escola da minha aldeia durante um ou dois anos, mas depois a minha família fez pressão para eu deixar os estudos”, contou esta semana numa entrevista por telefone à AFP, em pashtun. “É preciso mais educação e é por isso que sou candidata nestas eleições. Para promover a educação das raparigas, das mulheres e dos homens também.” Mas não só por isso. Em Bajaur falta de tudo, diz Badam. Escolas para as mulheres, hospitais, electricidade e estradas.

“Simbolicamente, ela quebra um tabu mas não o destruiu”, reagiu Ijaz Khan, um professor da Universidade de Peshawar, uma cidade no Noroeste, que fica perto das zonas tribais. “Mas só o facto uma mulher se levanta para dizer que pode representar a população melhor do que os homens já é uma grande mudança.”

Em Khar, capital de Bajaur, a AFP ouviu vários homens que estão a favor da mudança. “A candidatura dela vai ajudar a dar outra imagem, mais moderada, à nossa região. Há anos que estamos associados aos insurgentes [muito presentes nas zonas tribais], aos terroristas e aos atentados, isto vai permitir mostrar ao resto do país que somos como ele”, disse Bahadur Khan, um homem de 48 anos.

O mesmo não pensarão os grupos de radicais islamistas que nos últimos meses têm intensificado os ataques às escolas femininas. O caso mais mediático foi o da tentativa de assassínio de Malala Yousafzai, uma jovem activista pelo direito das mulheres à educação. Badam diz que ainda não recebeu nenhuma ameaça, mas que também não tem medo.

Como não tem o apoio de nenhum partido a campanha tem de ser feita pelos próprios meios, com a ajuda do marido e do resto da família. O dinheiro não chega para mais do que falar com as pessoas porta a porta. Mas não tem passado despercebida e as manifestações de apoio não param de lhe chegar. “Houve muitas mulheres a contactarem-me por telefone para dizer que eu lhes abri portas”, contou ao diário britânico The Guardian. “Elas dão-me muita coragem.”

O maior de todos é o do marido, Mohammed Sultan, que é professor. “Badam é capaz de escrever o seu nome mas não pode ler jornais”, disse ele esta semana à AFP. “Ainda assim, falamos imenso de política. Na semana passada ela perguntou-me se podia participar nas eleições e eu respondi-lhe que sim.” Apresentaram juntos a candidatura na semana passada, agora validada pela comissão eleitoral.



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