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bico-de-lacre não representa perigo para a biodiversidade portuguesa

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[h=1]Invasora bico-de-lacre não representa perigo
para a biodiversidade portuguesa[/h][h=2]Investigadores do CIBIO analisaram o seu impacto nos ecossistemas e evolução da sua personalidade[/h]


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Bico-de-lacre ('Estrilda astrild')

Pássaro invasor em Portugal desde há quatro décadas anos, o bico-de-lacre foi recentemente alvo de dois estudos, um para se perceber o impacto ambiental que está ter no nosso país, outro para se tentar definir como tem evoluído a sua personalidade fora do habitat de onde é endógeno, a África subsaariana. Os dois estudos, dirigidos Helena Batalha e Carlos Carvalho, investigadores da CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, Universidade do Porto), apresentam resultados “animadores” sobre a espécie e a sua presença em Portugal.
Ao «Ciência Hoje», Helena Batalha explicou que sendo o bico-de-lacre “uma espécie exótica”, ao expandir-se e ao tornar-se invasora, podia pôr em risco “a biodiversidade, introduzindo doenças novas nos ecossistemas, predando espécies nativas, ou competindo com as espécies nativas por recursos naturais, por exemplo”.
No estudo «A successful avian invasion occupies a marginal ecological niche», publicado no «Acta Oecologica», a equipa de Helena Batalha debruçou-se sobre se o bico-de-lacre “poderá competir com as espécies nativas, uma vez que essa é uma das principais preocupações em conservação da natureza”.
Felizmente”, diz, “o nicho ecológico do bico-de-lacre parece ser muito diferenciado em relação às aves nativas portuguesas, pelo que é pouco provável que venha a competir com a maioria delas de forma a ameaçar a biodiversidade”.
Na verdade, a ave parece ter vindo ocupar um nicho ecológico “bastante diferente do nicho da maioria das aves nativas”. Os bandos de bicos-de-lacre encontram-se em zonas agrícolas, ripícolas e arrozais. Ou seja, “esta ave parece ter-se adaptado a um habitat parcialmente modificado pelo homem”.


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Helena Batalha e Carlos Carvalho

Isto, aliado à sua época reprodutora muito longa e ao facto de comer sementes de certas gramíneas, que parecem ser pouco comidas pelas outras aves, faz com que não seja uma ave que exerça pressão ecológica sobre as endógenas. “Pensamos que os ambientes agrícolas tenham facilitado a invasão e estabelecimento do bico de lacre em Portugal”, refere. Existe, no entanto, uma ave, a escrevedeira-dos-caniços, que tem um nicho ecológico semelhante ao do bico-de-lacre, “uma vez que também nidifica perto de água em zonas húmidas e se alimenta de sementes de gramíneas durante parte do ano”. A sub-espécie de que nidifica em Portugal está classificada como 'Vulnerável', pois as populações são muito pequenas e ocupam áreas muito reduzidas. Por isso, “o facto do bico-de-lacre existir nestes mesmos locais pode ser uma pressão adicional, em termos de competição, o que pode aumentar a sua vulnerabilidade”.

A personalidade do bico-de-lacre
No outro estudo – «Personality traits are related to ecology across a biological invasion», que será publicado em breve na«Behavioral Ecology» –, a equipa dirigida por Carlos Carvalho faz uma análise da evolução da ave no nosso país. “Tentámos aproveitar o facto de ser uma invasão recente e estar bastante documentatada para estudar diversas componentes da teoria evolutiva, quer num aspecto mais formal quer mais pragmático”, explica em conversa com o «Ciência Hoje».
A invasão data mais ou menos da época do regresso dos ex-colonos de África. Como tal, temos muitas informações geográficas e de tempo. Isso permitiu-nos obter dados para estudar o comportamento do animal neste habitat tão diferente da África subsaariana”. O objectivo era perceber como o comportamento da ave evoluiu ao longo do tempo nas diferentes regiões que foi ocupando.

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Bico-de lacre está bem adaptado a Portugal


O bico-de-lacre vive em bandos muito grandes por isso, diz, “era interessante estudar comportamentos sociais do indivíduo e medir, de alguma forma, o comportamento de exploração de ambientes novos”. Os investigadores perceberam que esses dois comportamentos – sociabilidade e exploração – estavam a evoluir “como um pacote”, pois existe o mesmo tipo de influência nesses diferentes comportamentos. “Portugal tem diversidades ecológicas, mas as diferenças não são assim muito grandes. No entanto, o que encontrámos foram dois comportamentos distintos em ambientes de diferentes sazonalidades de clima”, sendo estes independentes dos factores que a equipa estava a controlar (a densidade, a história, o sexo, a idade e condição corporal). Associar comportamentos como a sociabilidade e a exploração à sazonalidade de clima permitiu chegar a diversas conclusões acerca de evolução da personalidade destes animais.
Quanto mais sazonal é o clima de uma determinada região, menos os indivíduos exploram ambientes novos, sendo, ao mesmo tempo, muito mais observadores dos seus semelhantes”, explica o investigador. “Observaram-se comportamentos muito mais sociáveis, comportamentos em bloco. Animais que observam mais têm uma vantagem neste meio. Eram menos pró-activos, arriscavam menos porque ambiente é mais imprevisível, pelo que têm uma vantagem adaptativa em observar os seus pares mais adaptados”.
Nos ambientes mais estáveis, pelo contrário, “são precisamente os mais arrojados – que exploram e não se preocupam em observar os seus pares – que têm uma maior vantagem adaptativa”.
 
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