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Cinema: 'Caxinas é um microcosmos'

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'Caxinas é um microcosmos'

'É o Amor (Obrigação)', o filme de João Canijo que se estreou no Indie Lisboa e que está desde quinta-feira nas salas, é um híbrido assumido, um documentário sobre a vida da extraordinária comunidade piscatória de Caxinas centrada nas mulheres e na relação com os homens delas.
Mas é também uma realidade provocada pela presença da actriz Anabela Moreira, que serve de mestre de cerimónias infiltrada. Com banda sonora das duplas sertanejas, uma realidade condicionada e uma ficção hiperrealista onde os actores são eles próprios e o espectador leva tempo a encontrar o seu lugar.

O que esteve na origem deste filme?

O Festival de Vila do Conde ia fazer 20 anos e convidaram alguns realizadores para fazer filmes com duas premissas. A primeira, que me levou a aceitar, foi que a equipa técnica seriam os alunos da escola de cinema que tinham frequentado os estaleiros de formação integrados no festival. A segunda, era ter que ser nas vizinhanças de Vila do Conde. Sugeriram-me as Caxinas e eu aceitei. Estive um dia e tal nas Caxinas e rapidamente descobri que seria sobre as as mestras, as mulheres dos donos dos barcos de pesca. Na segunda vez que fui já levei a Anabela [Moreira] para fazermos entrevistas às mestras para escolhermos uma. Lembrei-me da minha ‘infiltrada’ Anabela para entrar naquela comunidade e fazer investigação.

Como foi esse processo?

A Anabela já fez de inflitrada no 'Sangue do Meu Sangue', em que ficou a viver com os moradores e no 'Mal Nascida'. Já está perita nisto e tem uma capacidade enorme de se fazer aceitar onde quer que vá. Esteve dois meses a viver numa casa alugada da mãe da Sónia e a filmá-las. E a participar no dia a dia a tempo inteiro. E ficou amiga da protagonista, a Sónia Nunes.

Como escolheram a Sónia?

No casting em que entrevistámos umas 15 mulheres, a Sónia foi a penúltima, e foi uma evidência quando apareceu. Tinha uma capacidade de exteriorizar que as outras não tinham.

Como decidiram que o centro da história seria a relação dela com o marido?

Mesmo antes de a Anabela entrar, eu já tinha percebido que ia ser um filme sobre o amor e a confiança no amor. Intuí isso na conversa sobre como era a vida delas e depois a Anabela confirmou-me. Essa confiança é ao mesmo tempo uma maneira de funcionar. Porque no casal, se é o homem que ganha a vida, dentro do barco, cá fora é a mulher que governa a vida. E isso só pode resultar se houver uma relação de grande confiança que também serve de cimento ao casamento.

A comunidade piscatória das Caxinas é diferente das outras?

É um microcosmos. Os filhos dos mestres casam com filhas das mestras e são uma espécie de aristocracia na terra, há uma espécie de linhagem. E isto de trabalharem em sociedade tem uma particularidade interessante: o casamento é uma parceria em tudo, na vida, a criar os filhos e depois no lado empresarial. Enquanto os homens vão para o mar as mulheres tratam dos negócios em terra. Isto, assim, não existe em mais lado nenhum.

É o casamento perfeito.

Então se o Zé só está dois dias em casa por semana! Mas a Sónia acredita convictamente no amor para sempre. Mas também representa um papel. Chega o fim-de-semana e é o marido o patrão da casa, ou pelo menos ela deixa que ele pense que é.

E têm uma vida com sinais exteriores de riqueza...

O costureiro que veste os mestres de Caxinas é o Miguel Vieira. No casamento, o Zé está vestido de Miguel Vieira de cima abaixo. Estão muito longe do estereótipo das peixeiras mal arranjadas. Cuidam-se muito, vão ao cabeleireiro ao sábado, vestem roupa cara.

Como é que, além da Sónia, a família e as mulheres que trabalham com ela aceitaram?

Porque ela disse que sim. Mas todas gostaram. As irmãs estavam super felizes e a mãe também.

Têm ar de irmãs Kardashian!

Não são assim tão diferentes, o estereótipo da peixeira não tem nada a ver. Elas podiam ser as Kardashian de Caxinas. A Sónia ficou encantada com a experiência. Transformou-se numa estrela de cinema. Quando a versão curta foi exibida no Festival de Vila do Conde, no ano passado, a primeira coisa que ouvi quando o filme acabou foi que aquilo podia ser Miami!

Como é que nas operações de filmagens, de apenas uma semana, estava garantido que o filme fosse sobre o amor, como queria?

A Anabela já tinha feito a papinha toda. Eu via as imagens que ela foi filmando e fizemos uma espécie de guião. Ela não só estava infiltrada como era uma agente provocadora. Nem tudo é previsto antes, mas a Anabela vai conduzindo as conversas. É como quando nós dizemos: ‘conta lá aquilo que me disseste ontem’.

Qual vai ser o seu próximo filme?

É um filme para o qual este serviu de teste, que correu bem, e que também mistura realidade e ficção, mas de uma forma que se vai perceber ainda menos. É sobre a peregrinação a Fátima de um grupo de mulheres de Bragança. A parte documental é o que elas vão encontrando pelo caminho.

Quando será filmado?

Só Deus sabe. Ganhou o concurso do ICA de 2011, mas ainda não está financiado porque a Lei do Cinema não está regulamentada.

Ter ganho tantos prémios com o 'Sangue do Meu Sangue' não lhe deu notoriedade para fazer mais filmes?

Esses prémios dão visibilidade minoritária, não é mainstream.

Não teve retorno financeiro?

Vivi um ano com o dinheiro dos prémios, alguns têm um valor monetário associado. Mas não dá para investir num próximo filme.

Como foi financiado 'É o Amor'?

A curta em Vila do Conde foi praticamente a custo zero. O meu salário foi 600 euros. A versão longa teve um financiamento de 30 mil euros que foi para a montagem e pós-produção audio.

Fonte: SOL
 
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