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GF Ouro
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Teixeira dos Santos não critica José Sócrates no processo que levou Portugal a pedir o resgate da troika. Em entrevista à TVI, o ex-ministro das Finanças abordou os dias mais críticos e considera que o ex-primeiro-ministro tinha percepção das dificuldades que os portugueses teriam de enfrentar.
«O primeiro-ministro reagiu sempre com grande intuição política. Tinha clara percepção que o pedido de resgate ia fazer mal ao país e o que veio a seguir comprovou isso. O primeiro-ministro resistiu o mais que pôde», frisou, acrescentando: «Ele estava muito resistente. Tinha percepção do que traria ao país. Eu chamei-lhe a atenção para as dificuldades que existem e ele procurou alternativas, que se esgotaram em poucos dias».
Mas será Sócrates o responsável pelo pedido de resgate? «De maneira nenhuma», frisou, rejeitando a ideia de que o primeiro-ministro estava em estado de negação: «Tinha consciência das dificuldades. Tendo a percepção das consequências, resistiu o mais que pôde. Nesses dias, nessa semana crítica, com vários eventos com a descida do rating dos bancos, estou convencido que ele próprio estava convencido que não valia a pena continuar a resistir».
Um dos pormenores muito abordados nessa altura foi a declaração de Teixeira dos Santos ao «Jornal de Negócios» a confirmar o pedido de resgate. «Respondi a perguntas feitas pela Helena Garrido. Tinha um dever de grande lealdade ao país e entendi que estavámos num momento que exigia uma tomada de posição clara. No dia a seguir tive de sair para Budapeste, para uma reunião do Ecofin e do Eurogrupo e Portugal não sairia da reunião sem clarificar a situação. Seria humilhante para o país ir a uma cimeira, levar vários puxões de orelha e sair dali declarando um pedido de ajuda não assumindo de moto próprio».
Na reação a essa declaração, houve um telefonema em que Sócrates revelou não ter gostado da posição do seu ministro. «Ele fez gostar que não gostou. Posso compreender que não tenha gostado. Fez-se sentir naqueles dias, mas continuamos a trabalhar, negociei o memorando da troika. Fez sentir a discordância, mas continuamos a cumprir as nossas obrigações com o país», frisou, salientando que esse facto «só foi público muito depois, ao contrário das divisões que existem agora no Governo e são públicas».
«Não quero ter a vaidade de ter sido eu que dei empurrou ao primeiro-ministro. Ele próprio já disse que não havia outra saída senão essa», esclareceu Teixeira dos Santos sobre o pedido de resgate, rejeitando falar em traição: «O que pensava e achava transmiti sempre com grande lealdade. Tinha de ser leal comigo e com o país. O país não podia encarar os desafios que tinha pela frente se não fizesse o pedido de ajuda. Tendo o Conselho Europeu nos próximos dois dias, o país sairia muito mal se não tivesse feito o pedido por si».
De resto, os dois ex-governantes não cortaram relações: «Sim, voltei a falar com ele. Não ficámos de relações cortadas. De vez em quando conversamos».
tvi24