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Igreja combate onda de assaltos

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Igreja combate onda de assaltos

Todas as semanas desaparecem peças das igrejas. A Conferência Episcopal já identificou 700 e vai lançar medidas inéditas para travar a onda de furtos. As dioceses vão ter um sistema informático para inventariar o espólio de 24 mil templos.
São milhares as peças de arte sacra que estão desaparecidas em todo o país. A Igreja já conseguiu identificar 700 objectos roubados, mas admite que a dimensão do problema é maior.A gravidade da situação levou a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) a lançar este ano medidas inéditas nas suas 20 dioceses: em todas vão ser instalados programas informáticos que permitem fazer o inventário do espólio nos 24 mil locais de culto (entre igrejas, capelas e ermidas) distribuídas por 4.357 paróquias. Por outro lado, vai ser dada formação específica a padres e funcionários, já em Setembro.
“A situação é preocupante, pois trata-se do património cultural da Igreja e ninguém sabe ao certo as peças que estão desaparecidas” – disse ao SOL Sandra Costa Saldanha, directora do Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, organismo da CEP que gere o património.
Santos, cálices, crucifixos e coroas estão entre os objectos mais roubados por serem facilmente transportados. Muitas vezes desaparecem também as vestes dos padres e as toalhas bordadas que são usadas nas cerimónias.
Assaltos ‘mais sofisticados’
Depois, segundo dados da Igreja, há furtos “mais rebuscados e morosos, envolvendo peças volumosas, com recurso a meios e equipamentos sofisticados”. É o caso de elementos em talha dourada removidos do interior de capelas, que por vezes são desmantelados em furtos sucessivos.
Mais recentemente, a partir de 2011, aumentou o número de sinos e órgãos desaparecidos e também de pias baptismais e painéis de azulejo.
O fenómeno atinge todo o país. Em Macedo de Cavaleiros, na Igreja de São Pedro, desapareceu um menino Jesus do século XVI. Em Aveiro, foi roubada uma imagem de São Roque da Igreja de São Gonçalinho, de 1805-1840. Na Guarda, na Capela de Santo Antão, em Azêvo, ninguém sabe do púlpito do século XVI-XVII, em granito. Em Santarém, a custódia em prata da Igreja de Nossa Senhora de Fátima está sem rasto. Em Montemor-o-Novo foi furtada, da Ermida de Santo Aleixo, a valiosa pintura mural a fresco de 1535 e em Águeda foi roubada a custódia paroquial de Belazaima do Chão, exemplar singular do século XVI.
Para tentar encontrar estas e outras peças, aquele Secretariado criou, em Janeiro de 2012, uma plataforma onde é introduzida a descrição do acervo perdido. É acessível ao público através do site www.bensculturais.com e permite que os cidadãos forneçam pistas sobre o paradeiro de peças de arte sacra.
“Criámos uma base de dados onde estamos a colocar as peças que identificámos. Já temos 700, mas sabemos que o número é muito maior. Basta ver que todas as semanas temos conhecimento de situações dessas”, explica Sandra Saldanha, sublinhando que a maioria das situações não são denunciadas.
37 queixas este ano
O número de inquéritos investigados pela Polícia Judiciária (PJ) prova isso mesmo. Entre 2010 e 2012, apenas foram participados 190 furtos e, até Maio deste ano, foram abertos 37 processos. “Há muitas paróquias que nem dão conta. Já aconteceu, em Lisboa, sermos nós a comunicar a situação aos responsáveis, depois de os suspeitos confessarem os furtos”, refere João Oliveira, coordenador de investigação criminal da PJ, na área do combate à criminalidade dos bens culturais e obras de arte.
Um dos problemas que contribuem para a dificuldade em lidar com este crime e recuperar espólio roubado é a ausência de inventários em muitas dioceses. “Uma peça que não está inventariada fica perdida para sempre” – avisa Sandra Saldanha, admitindo que este levantamento “nunca se fez de forma coordenada”. De acordo com a presidente deste organismo da Igreja, por falta de meios técnicos, financeiros e humanos, os registos eram feitos de forma amadora, muitas vezes à mão.
Este ano, a CEP decidiu avançar com um projecto inovador, apoiado pela Fundação Gulbenkian, que passa por instalar sistemas informáticos nas dioceses. Dez já o têm, noutras cinco será instalado este ano e nas restantes ficará operacional em 2014. O objectivo é que, no final, seja também disponibilizado um inventário nacional com todas as peças de arte sacra.
Além disso, a partir de Setembro, os funcionários das comissões dos bens culturais da Igreja vão receber formação. “Fazer um inventário é um processo complicado: é preciso medir, pesar, saber a história das peças e todos os detalhes possíveis”. Os padres também serão alvo de formação, pois é importante que informem a Polícia sobre as peças que desapareceram o mais rápido possível.
Padres ‘escondem’ espólio
“Há um mar de dificuldades na investigação destes casos”, admite João Oliveira, da PJ: “Os furtos são-nos comunicados muito tarde e, quando chegamos ao local, a possibilidade de recolha de vestígios já se esfumou”.
Por outro lado, “muitas vezes as pessoas nem sabem ao certo quando aconteceu o furto nem o que foi subtraído, porque não há inventário ou este é deficitário”. Já aconteceu os inspectores andarem à procura de fotografias de casamentos e baptizados que aconteceram na igreja assaltada para tentarem identificar a peça em falta. Até porque muitas vezes as peças “são adulteradas depois do furto, para iludir o controlo da Polícia”.
“Por isso, é importante descrever com todos os detalhes os artigos e colocar toda essa informação no inventário”, sublinha Sandra Saldanha, recordando um episódio recente em que a PJ só recuperou uma peça porque a réplica entretanto feita não tinha a amolgadela referida na descrição do original, que constava do inventário.
Com receio dos assaltos, muitos padres têm optado por guardar a sete chaves os artigos de arte sacra, especialmente os mais valiosos. “Mas o desejável é que sejam objectos de culto”, lamenta a directora do Secretariado, recordando que os templos religiosos devem ter as portas abertas, mas com apertadas regras de segurança. O organismo da CEP aconselha a que, além de alarmes e sistemas de videovigilância, as igrejas tenham iluminação exterior adequada, protecção nas janelas e trancas nas portas.
Em muitas dioceses está a ser adoptada uma estratégia invulgar: os padres recrutam fiéis para vigiarem os templos em rondas frequentes, para darem o alerta quando necessário.

Fonte: SOL
 
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