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Google Glass: Computador omnipresente

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Computador omnipresente

E se um dia se deparar na rua com um desconhecido que está a olhar fixamente para si? Mais estranho ainda, e se ele começar a sussurrar coisas como ‘tira a fotografia’, ‘grava o vídeo’ ou ‘grava o áudio’?
A resposta é simples: ele está a usar uns óculos especiais, munidos de um software com acesso à net, às diferentes redes sociais, com capacidade de filmar, fotografar e gravar quem quer e o que quer que seja. O Google Glass é um desafio ao direito à privacidadeSe se deparar com um estranho com este comportamento suspeito, a sua reacção deve ser sair de cena. Se esse estranho estiver a usar uns óculos de aros finos com um insólito quadrado ao canto de uma das lentes, as suas suspeitas estão certas. Pode estar a ser filmado (a) ou fotografado (a). Ainda não é possível, no entanto, cruzarmo-nos com estes estranhos intelectuais biónicos na rua. Os óculos estão numa fase de arranque um pouco atrasada, mas já são usados pelos chamados early adopters, em linguagem marqueteira os consumidores que estão na linha da frente para testar gadgets novos. Calcula-se que irão para o mercado – uma versão de teste do software já foi disponibilizada por cerca de duas semanas online – lá mais para final do ano e a preços mais módicos (actualmente custam perto de 1.150 euros).
Os óculos ainda não saíram para o mercado e já causam muito frisson entre as autoridades nacionais que zelam pela privacidade. Se não fossem desenvolvidos pela Google, talvez não merecessem tanta atenção. E se não se apresentassem com capacidades dignas da ficção científica, ainda menos. Houve outros aparelhos já desenvolvidos com potencialidades semelhantes – como o Eye Tap, por exemplo – mas nenhum tem a notoriedade destes, chamados a preceito Google Glass.
O gigante informático já disponibilizou vídeos de demonstração, que podem ser vistos em Google Glass - Home. E a comercialização parece estar por um fio. Os óculos foram desenvolvidos por uma divisão de projectos de altíssima tecnologia, a Google X, responsável, por exemplo, pelo protótipo e pelos testes do primeiro carro sem condutor ou de um sistema de balões para levar a rede de internet a partes remotas do mundo (e já aqui descritos noutra edição).
Seja como for, vários organismos governamentais que defendem a privacidade assinaram uma carta conjunta com dúvidas concretas e enviaram-na para um dos fundadores da Google, Larry Page. A acompanhar as preocupações, a Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) também se pronunciou sobre o assunto.
Atentado à lei
Se pudermos ser filmados, fotografados, gravados, sem consentimento, e se pudermos ir parar à net e ser surpreendidos com a nossa imagem em redes sociais – outra das hipóteses desta tecnologia – são as próprias relações humanas que podem ser postas em causa. E até a lei. «As questões de privacidade suscitadas são muitas e graves», diz Clara Guerra, da CNPD. «Na verdade, a possibilidade de qualquer pessoa, usando os óculos, poder gravar imagem e som das pessoas que a rodeiam, em qualquer espaço público ou privado, sem o conhecimento e anuência das pessoas visadas é, por si só, um atentado à privacidade e uma grave violação da lei».
Além das óbvias devassas atrás descritas, e de qualquer um poder passar a ser uma figura pública, quer queira quer não, «o facto de essas imagens e sons serem transmitidos a uma empresa e poderem ser disponibilizados na internet agrava substancialmente a situação. Estas constatações, diríamos que são óbvias», continua Clara Guerra. «Talvez menos óbvias para alguns sejam também outras implicações como o conhecimento da localização – através do sistema GPS incorporado – não só de quem usa os óculos, mas também de todas as pessoas em seu redor. A situação é bem mais grave do que tornar as pessoas em ‘figuras públicas involuntárias’. O Google Glass ultrapassa todos os limites admissíveis e constitui uma grave violação dos direitos fundamentais dos cidadãos».
A situação, alerta ainda a CNPD, não é comparável com outras polémicas, como a Street View, a aplicação que surge com imagens das ruas associadas a localidades presentes no Google Maps. Lisboa é um exemplo desta capacidade dos mapas da Google, mas, em qualquer dos casos, a identificação de transeuntes ou de matrículas de carros ‘apanhados’ pelas câmaras da Google no momento da sua passagem foi distorcida. A CNPD insistiu para que assim fosse, e na Alemanha chegou a brandir-se os tribunais para impedir a Google de fotografar as ruas. Em suma, explica Clara Guerra, «com o Google Glass não se trata apenas de via pública, mas de qualquer espaço público ou privado, com gravação de imagem e de som (conversas entre pessoas), da localização das pessoas. Comporta muito mais informação pessoal do que uma fotografia na rua. Tudo isto sem que as pessoas sequer se apercebam da situação, fugindo por isso ao seu total controlo. Além disso, a utilização posterior que pode ser feita desses dados pessoais é inimaginável».
Cirurgias transmitidas
Até agora a empresa não se defendeu publicamente destas suspeitas. Se acedermos ao site de demonstração, temos um link sobre a política de privacidade, mas o que se pode ler são apenas as normas que dizem respeito às aplicações já existentes da Google, como o Chrome ou o Gmail, entre outras. Ainda não existe, pelo menos visível, um capítulo sobre o assunto quando se trata do Glass.
Entretanto, outro dos fundadores da empresa, o russo-americano Sergey Brin já fez uma demonstração pública desta tecnologia e algumas notícias deram conta de uma utilização feliz dos óculos: o acompanhamento de cirurgias em tempo real com imagens próximas dos órgãos do paciente (sem a identificação dos mesmos, pois claro). O primeiro a fazê-lo foi o espanhol Pedro Guillem, de Madrid, ao filmar com o auxílio dos óculos uma operação ao joelho. Nos EUA, Rafael Grossmann, um médico do Maine, fez o mesmo, no caso, com uma cirurgia gástrica. Qualquer das sessões foi reservada, transmitida entre médicos, sem a ameaça à privacidade deste computador omnipresente, como já lhe chamam.

Fonte: SOL
 
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