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Quando o desejo de ter um filho colide com a incapacidade de conceber

Luz Divina

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Quando o desejo de ter um filho colide com a incapacidade de conceber





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Atualmente, 1 em cada 6 casais procura ajuda para conseguir uma gravidez. A OMS estima que em Portugal a infertilidade atinja 500 mil pessoas.



O desejo de ter um filho é comum nas sociedades humanas e a maioria das pessoas planeia a gravidez e o parto para um determinado período da vida. Apesar de a conceção de uma criança ser o ato mais natural do mundo, nem sempre o objetivo é alcançado.

Foi para chamar a atenção desta realidade que, em 2008, foi instituído o Dia Nacional da Fertilidade, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Fertilidade. Doença reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que a infertilidade conjugal atinja, na população mundial, cerca de 10 a 15 por cento dos casais em idade fértil, com uma incidência crescente em função da idade dos casais.

Esta percentagem tem vindo a subir nos últimos anos devido a causas tão diversas como o adiamento da maternidade, o aumento da prevalência das infeções de transmissão sexual, o sedentarismo, a obesidade, o consumo de tabaco e do álcool e a poluição.

A infertilidade é o resultado de uma falência orgânica devida à disfunção dos órgãos reprodutores, dos gâmetas ou da própria conceção. Um casal é infértil quando não alcança a gravidez desejada ao fim de um ano de vida sexual contínua sem métodos contracetivos. Também se considera infértil o casal que apresenta abortos espontâneos repetidos.

O impacto do diagnóstico de infertilidade

O impacto do diagnóstico de infertilidade e do tratamento médico no bem-estar psicológico dos casais tem vindo a ser alvo de um interesse crescente nos últimos anos. Com efeito, a descoberta de dificuldades em ter um filho biológico constitui-se, na maioria das vezes, como uma situação inesperada geradora de stress, não apenas nas mulheres e homens, mas também no casal em si.

Apesar de muitos dos casais conseguirem ajustar-se e aprender formas de lidar com a infertilidade, existem outros em que as respostas emocionais acabam por persistir e intensificar-se, gerando stress e depressão. A infertilidade desencadeia um vasto leque de sentimentos, por vezes contraditórios. Produz nos elementos femininos do casal um poderoso sentimento de culpa, inferioridade e vazio.

Nos elementos masculinos, é notória a perceção do sofrimento do outro elemento do casal, demonstrando que estão conscientes do efeito que a situação produz na companheira. Este facto costuma fazer emergir um dever de proteção que se reflete no apoio que tentam transmitir às suas companheiras e no facto de lhes ocultarem o seu próprio sofrimento para não as sobrecarregarem. Este apoio é sentido pelas mulheres como a ajuda mais importante para suportar a situação.

Infertilidade e o sentimento de isolamento social

Muitos casais referem o sentimento de isolamento relativamente às suas relações sociais na opção de esconder o seu problema, de modo a evitar a vergonha, a pena e os conselhos indesejados. Evitam falar abertamente sobre a infertilidade, especialmente os homens, por considerarem um assunto privado e porque acreditam que ninguém pode compreender a extensão do seu sofrimento.

Contudo, os que partilham o seu problema, ainda que o façam apenas com as pessoas mais chegadas, referem a importância do suporte social para lidar com a situação. A reação inicial à infertilidade é a surpresa, seguida de preocupação.

Emergem com frequência os sentimentos de incompreensão dos outros face ao seu problema, de injustiça relativamente à sua infertilidade, produzindo o sentimento de revolta por serem privados de algo tão básico como ter filhos e pela marginalização de que se sentem alvos.

A infertilidade produz ainda sentimentos persistentes de tristeza, sofrimento e desânimo, sendo frequentemente encarados como um castigo. Curiosamente, um dos sentimentos mais referidos pelos casais inférteis relativamente à sua infertilidade é a esperança de resolução do problema e de concretização do desejo de terem um filho.

A relação do casal infértil

Existe ainda, o sentimento de domínio da infertilidade sobre as suas vidas. As implicações sociais costumam referir-se ao relacionamento conjugal, relacionamento sexual e realização de atividades diárias. Nos casais, a infertilidade é sentida como uma fonte de alteração no seu relacionamento, sendo maioritariamente, no sentido de aproximação entre os elementos do casal, de fortalecimento da relação e da melhoria da comunicação.

Em oposto, bastantes casais sentem um afastamento no relacionamento evidenciado pelas dificuldades de comunicação e sentimentos de incompreensão por parte do companheiro. Estes aspetos advêm do facto de homens e mulheres reagirem de modo diferente à infertilidade e também porque cada um dos elementos tem expectativas acerca da reação do outro à situação que podem ser goradas.

Ao nível das implicações no relacionamento sexual, poderão ocorrer constrangimentos ao nível do desejo, do prazer, da espontaneidade, da satisfação e do desempenho, que decorrem do sentido de dever ou de obrigação que a relação sexual adquire. Os casais inférteis costumam sentir intensamente algumas dificuldade durante o decurso da sua infertilidade.

O contacto com grávidas é uma das dificuldades mais sentida pelas mulheres, na medida em que os sinais da fertilidade de outros são uma penosa lembrança da possibilidade que não está ao seu alcance, produzindo, por vezes, o sentimento de frustração e inveja. É também apontada a pressão externa para ter um filho como uma dificuldade sentida pelo casal, por se confrontar com a incapacidade de realizar o objetivo sociocultural que lhes é atribuído.

O medo de nunca serem pais

O ciclo de esperança/desapontamento, relatado maioritariamente pelas mulheres, consiste na dificuldade mais visível, na medida em que, todos os meses, com o início de um novo ciclo, surge a esperança na possibilidade de conseguir uma gravidez mas que se desvanece quando o casal se apercebe que a gravidez não ocorreu, precipitando-se no sentimento de desapontamento gerado pela perda da criança desejada.

Os indivíduos inférteis manifestam como principal preocupação, o receio de, apesar de todos os esforços, não realizarem o seu desejo de ter um filho. As mulheres costumam ser mais reativas e procuram mais estratégias para lidar com a situação.

Curiosamente, os casais inférteis ainda conseguem encarar a experiência de uma forma positiva, apontando um sentimento de amadurecimento e crescimento pessoais, a valorização do significado de ter um filho e a possibilidade de utilizar a experiência adquirida para ajudar outros indivíduos inférteis.

De acordo com as expectativas relativamente ao futuro, poucos são os casais que colocam a possibilidade de optar por uma vida sem crianças, sendo apontadas como formas de encarar o futuro, a obtenção de uma gravidez e a adoção, sendo a primeira a mais referida especialmente por mulheres.

Dos discursos dos casais inférteis parece emergir uma visão romântica e idealizada da maternidade que aparenta dificultar a visão de outras maternidades ou a não maternidade, tornando-os dispostos a sujeitarem-se a tudo, técnica e medicamente possível, na esperança de satisfazer o seu desejo de terem um filho. Neste contexto, a adoção surge sobretudo como uma segunda escolha para a constituição de uma família, apenas e somente quando os tratamentos não têm sucesso.

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