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Onze escândalos de uma cultura de risco que ainda sobrevive

p.rodrigues

GF Ouro
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Cultura de risco que motivou a crise financeira continua bem patente na recente onda de escândalos. Revisite onze casos marcantes.

Entrega de casas - Bank of America
Há cerca de três meses, antigos funcionários do Bank of America denunciaram o que era prática corrente dentro de um dos maiores bancos norte-americanos. O banco incentivava os seus funcionários a mentirem aos clientes, impedindo-os de submeter a aplicação para o programa governamental de apoio às famílias com dificuldade em pagar o crédito à habitação, e forçando-os assim a entregar a casa ao banco. Alegadamente, tratava-se de um negócio mais lucrativo para o banco do que a alternativa financiada pelo governo. Segundo os antigos funcionários, os seus gestores ordenavam-lhes que mentissem aos clientes, afirmando que os documentos necessários não teriam sido recebidos pelo banco. Periodicamente estes documentos eram destruídos para que todo o processo tivesse de ser reiniciado, ganhando assim tempo até que os clientes não tivessem mais capacidade de continuar a pagar o crédito. Os funcionários recebiam bónus de 500 dólares sempre que tivessem "captado" mais de dez casas por mês.

Manipulação do mercado - Libor
No Verão de 2012 estalava um dos maiores escândalos do sector financeiro. A investigação envolve 16 bancos a nível mundial, dos quais três já chegaram a acordo com os reguladores norte-americanos e ingleses. Barclays, UBS e Royal Bank of Scotland paragaram um total de 2,5 mil milhões de dólares para arquivar as acusações, enquanto outros como o HSBC, Citigroup, Deutsche Bank, Credit Suisse ou JP Morgan continuam sob investigação. A Libor é fixada todos os dias por um conjunto de bancos e espelha o preço a que estes bancos estão dispostos a emprestar dinheiro entre si. Com regularidade, os ‘traders' pediam às unidades responsáveis por submeter os valores diários da Libor, para fixarem valores mais altos ou mais baixos consoante os negócios que venciam naquele dia. Documentos internos do Barclays entretanto divulgados revelaram conversas como: "Temos outra operação a vencer amanhã. Podes fixar a Libor a um mês e a Libor a três meses o mais alto possível?". A resposta: "Feito. Só para ti ‘big boy'".

Branqueamento de capitais - HSBC
Em Julho de 2012 o Senado norte-americano libertava um relatório segundo o qual o HSBCtinha falhado ao longo de anos a implementação dos mais básicos controlos de branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo. Segundo o mesmo documento, o HSBCterá permitido que milhares de milhões de dólares navegassem entre o México e os EUA, apesar de evidências que apontavam para a origem do dinheiro em cartéis de droga, além de ter aberto várias contas nas Ilhas Caimão em nome de clientes sem verificação de quaisquer dados. O relatório denunciava ainda transacções realizadas com bancos situados em países sancionados devido a suspeitas de terrorismo, como o Irão ou Myanmar e apontava o dedo ao regulador por nada ter feito apesar de ter conhecimento destas falhas há vários anos. Em resposta, o HSBC desculpou-se, prometendo reformas, tal como já fizera em 2003, quando foram conhecidas violações idênticas. O banco provisionou 700 milhões de dólares para pagar aos reguladores.

‘The London Whale' - JP Morgan
Um sistema defeituoso de gestão de riscos custou ao norte-americano JPMorgan 5,8 mil milhões de dólares numa aposta arriscada em instrumentos derivados nos escritórios de Londres. O ‘trader' responsável, Bruno Iksil, que ficou conhecido como ‘The London Whale' , foi demitido em Julho de 2012, e a transacção custaria o lugar também a Ina Drew, a responsável pela unidade de investimento do banco. OCEO,Jamie Dimon, um dos grandes ‘sobreviventes' da crise financeira de 2008, desculpou-se pela inadequada gestão de riscos, bem como por inicialmente ter-se referido ao caso como "uma tempestade num copo de água", quando alegava ainda que as perdas rondariam os dois mil milhões de dólares. Manteve no entanto que se trata de dinheiro de accionistas perdido e não de clientes ou contribuintes.

Vendas fraudulentas - Seguros de cartão de crédito
No final de Agosto, mais um escândalo envolvendo a venda de produtos inadequados a clientes. Envolvidos estão 13 bancos e emitentes de cartões, como o Barclays, HSBC, Morgan Stanley, Lloyds mas também bancos canadianos e australianos. Em causa está a vendade seguros contra o roubo de cartões de crédito. "A informação que era dada aos clientes sobre as clausulas dos contratos era errada ou pouco clara, e eles acabavam por comprar protecção que não era necessária ou que servia para cobrir riscos que haviam sido tremendamente exagerados", escrevia a autoridade britânica no relatório. Todos os bancos terão agora de financiar um plano de compensação para os clientes avaliado em 1,3 mil milhões de libras.

Lavagem de dinheiro - Banco do Vaticano
Um padre preso a bordo de um avião, suspeito de corrupção e lavagem de dinheiro, e dois directores demissionários, é este o saldo do escândalo no seio do Banco do Vaticano. No início de Julho deste ano, monsenhor Nunzio Scarano, foi preso a bordo de um avião, acusado de fraude e corrupção por ter planeado a transferência para Itália de 20 milhões de euros que uma família amiga detinha na Suíça. O Bancodo Vaticano tem sido abalado nas últimas décadas por vários escândalos e desde 2010 que está sob investigação porsuspeitas de violar a legislação contra o branqueamento de capitais. O Papa Francisco disse que tudo fará para o reformar.

Complexidade - ‘Swaps' de taxa de juro
A venda de ‘swaps' de taxas de juro inadequados aos objectivos dos clientes ou somente demasiado complexos para que os clientes os pudessem avaliar. A história é conhecida no Reino Unido, em Espanha e também em Portugal. Os maiores bancos britânicos - Barclays, HSBC, Lloyds e Royal Bank of Scotland - já acordaram em compensar pequenas e médias empresas confrontadas com a escalada de juros dos empréstimos devido aos ‘swaps' contratados. Em Espanha, estes contratos afectaram também autarquias, enquanto em Portugal o principal sector afectado é o das empresas públicas. Os contratos, que pretendiam defender interesses do Estado, acabaram por somar perdas potenciais três mil milhões de euros no final de 2012. A complexidade de alguns destes contratos era tal que Governo e IGCPtiveram de contratar uma consultora externa para desvendar as fórmulas de cálculo.

Domínio - Mercado de CDS
No início de Julho deste ano, mais um inquérito que envolve a realeza da banca mundial. São 13 bancos, entre os quais o Barclays, Royal Bank of Scotland, HSBC, Goldman Sachs, Citigroup, JP Morgan, mas também a Markit e a ISDA, a associação mundial das empresas financeiras envolvidas nos mercados de derivados. Segundo a Comissão Europeia, estas instituições agiram conjuntamente de forma a bloquear a entrada da Deutsche Borse e da bolsa de Chicago no mercado de ‘credit-default swaps'. Um mercado lucrativo que só este ano já negociou mais de 8,5 biliões de libras. "A transacção de derivados de crédito em mercado regulamentado aumenta a transparência e a estabilidade do mercado. mas os bancos agiram colectivamente para prevenir que isto acontecesse. Eles adiaram a emergência de transacionar estes produtos financeiros em mercados regulados devido a receios de que isso pudesse diminuir as suas receitas", disse Joaquín Almunia, o Comissário Europeu da Competitividade. Se assim for, concluiu, "esse comportamento constitui uma séria violação das regras de competitividade".

Suspeita de cartelização - Bancos portugueses
Em Março deste ano foi a vez da Autoridade da Concorrência lançar o maior raide de sempre a 15 bancos portugueses por suspeita de cartel. Quase toda a banca nacional foi alvo de uma mega-operação de buscas por suspeitas de agirem em cartel, combinando os valores dos ‘spreads' e das comissões nas áreas do crédito à habitação e ao consumo. Na base do raide das autoridades judiciais que recolheram informações constantes em ‘e-mails' das instituições financeiras, esteve um processo de contra-ordenação por práticas restritivas da concorrência por parte da Autoridade da Concorrência. A denúncia partiu da sede do Barclays em Londres e deu início à primeira investigação de suspeitas de cartelização na banca em Portugal, sem que sejam no entanto conhecidos até à data desenvolvimentos do processo.

Venda de seguros de crédito - Reino Unido
No Reino Unido cinco dos maiores bancos já provisionaram nove mil milhões de libras para compensar os clientes aos quais venderam seguros de protecção de crédito que nunca poderiam ser accionados. Estes seguros protegem o devedor em caso de, por exemplo, desemprego ou doença, garantindo o pagamento das prestações do empréstimo. No entanto, estes contratos continham claúsulas que não permitiam o seu accionamento por parte de alguns destes clientes. Em Portugal existem casos idênticos. Como por exemplo, a venda destes seguros a funcionários públicos ou a empresários em nome individual, quando o contrato especifica que estes casos não ficam protegidos pelo seguro em causa.

Perdas mascaradas - Deutsche Bank e Monte dei Paschi
Em Janeiro deste ano foi a vez do centenário banco italiano ser acusado de esconder documentos dos reguladores de forma a mascarar perdas. O Banca Monte dei Paschi di Siena, resgatado por duas vezes nos últimos quatro anos, admitiu ter escondido documentos e operações realizadas com o propósitos de omitir perdas e garantiu ir rever toda a contabilidade do banco dos últimos cinco anos. Já em Abril, o regulador alemão, em conjunto com o banco central, decidiram abrir um inquérito ao Deutsche Bank perante alegações de antigos funcionários de que o banco teria escondido perdas durante a crise financeira. O Deutsche Bank garante que as suspeitas são infundadas.

Fonte: Económico
 
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