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A revolução do surf

kokas

GF Ouro
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Set 27, 2006
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Portugal é cada vez mais um destino de surf. As provas internacionais despertaram uma corrida às praias.Por estes dias, Peniche é a capital mundial do Surf. Arranca na quarta-feira a antepenúltima etapa do circuito mundial, que traz à cidade e a Cascais os melhores surfistas do Planeta. As ondas do Oeste esperam mais de 50 mil espectadores para assistir à competição que mudou em definitivo a cidade de Peniche. "Há um antes e um depois de 2009 [data em que Peniche recebeu pela primeira vez uma prova deste nível]. O surf tornou-se a atração principal de Peniche e hoje toda a gente que faz surf sabe que estão aqui as melhores ondas da Europa". Orgulhoso, António José Correia, prestes a iniciar o terceiro mandato à frente da autarquia que tem como slogan ‘capital da onda', está em pulgas para receber "os muitos amigos" que fez na comunidade surfista. "Recebi o título do ‘mayor mais cool do circuito' e olhe que o prémio é decidido pelos atletas".

O edil mostra o Centro de Alto Rendimento de Surf, inaugurado no início deste ano em Peniche. É só mais um exemplo dos investimentos que o desporto tem trazido à região. "Queremos fazer da Avenida do Mar, entre o Baleal e Ferrel, a principal avenida do surf da Europa", explica António José Correia. Percorrendo a rua, percebe-se que ali se respira surf em cada esquina: lojas, escolas, pousadas, hostels e muitas casas arrendadas com fatos de borracha pendurados nas varandas.
Em plena avenida, um edifício destaca-se. O Surfer's Lodge abriu há duas semanas e chama a atenção pelas enormes janelas que mostram os interiores de madeira. Na enorme sala de convívio, onde funciona o restaurante, o ambiente é descontraído. Pelos fatos de borracha, percebe-se o que atrai os hóspedes. John Malmqvist, de 34 anos, é o responsável pelo investimento de 1,8 milhões de euros que pretende elevar o patamar da oferta hoteleira dirigida aos surfistas. "Conheci Peniche há oito anos, o meu pai veio cá jogar golfe e eu fui surfar. São as melhores ondas da Europa. Fui surfista profissional e voltei sempre a Peniche. Percebi que fazia falta um sítio com maior conforto, onde as pessoas pudessem encontrar o ambiente ideal para recuperar energias depois de estarem muitas horas no mar. Quis construir uma casa, não um hotel", explica este sueco, que conta com o apoio da família - que também trocou a Suécia por Portugal - para o investimento.
O Surfer's Lodge tem recebido reservas de todo o Mundo. "Apontamos para um público com um nível de vida elevado, vamos ter a funcionar uma escola de surf e vendemos pacotes de uma semana que incluem as aulas e a estadia", conta Roberto Fernandes, um dos membros da equipa de gerência.
Condições ideais
O hotel fica a dois passos do Baleal, um dos melhores sítios da região para deitar a prancha à água. Ali ao lado, a praia do Norte, com mais de 4km de areal é outro dos locais de eleição, tal como Supertubos, o areal a sul da península de Peniche. "A grande vantagem de Peniche é que temos praias voltadas para diferentes direções. Se o mar não estiver bom de um lado, sabemos que há de estar melhor noutro sítio", explica Paulo Ferreira, presidente do Peniche Surf Clube. Apesar da chuva incessante, a praia do Norte estava cheia na manhã de quarta-feira. Mais de 200 surfistas, quase todos acompanhados de instrutores, experimentavam as ondas. Joel Pereira, da escola LaPoint, da Ericeira, trouxe 60 pessoas. "Temos um grupo grande de americanos que são estudantes na Escandinávia, e também suecos, noruegueses e alemães. A maior parte dos nossos clientes é estrangeira, mas também temos portugueses ao fim de semana. O negócio em Portugal está a crescer bastante e é curioso porque, cada vez mais, aparece gente mais velha a querer começar a fazer surf", explica. Ida Skog, de 20 anos, veio da Suécia com o namorado e diz-se "deslumbrada" com as ondas que tem encontrado, quer em Peniche quer na Ericeira: "Vamos ficar por quatro semanas, espero sair daqui a surfar decentemente".
À prova de chuva
A chuva cai miudinha e o nevoeiro esconde grande parte da praia do Guincho, em Cascais. No parque de estacionamento, dois homens tiram as pranchas do carro e apertam os fatos de borracha. Num português esforçado, Bruce Campbell revela a sua determinação. "Vamos para dentro do mar, o que importa que esteja a chover cá fora?". Para este americano de 64 anos, o surf é um hábito antigo. Já lá vão 50 anos em cima da prancha e agora que se reformou pode ir à praia às horas que quiser. Investigador do Instituto de Medicina Tropical, vive em Portugal há oito anos. Casou-se há uma semana com uma portuguesa, e está no Guincho para mostrar ao seu padrinho de casamento, o californiano Eric Jackson, de 37 anos, o que o fez mudar-se para Portugal. "O clima é excelente, a comida ótima e tem as melhores ondas da Europa. Que mais posso eu pedir?"
Eric só conhece Portugal há menos de uma semana, tempo suficiente para fazer comparações: "isto é muito parecido com a Califórnia, sobretudo com Santa Cruz, que é a terra do surf". E lá vão os dois pelas ondas dentro, até o nevoeiro os levar para longe da vista.
Os dois americanos nem reparam numa surfista que já está dentro de água. Falham o encontro com uma compatriota. Courtney Conlogue, de 21 anos, é surfista profissional. Está em Portugal para competir, desta vez numa etapa do circuito mundial que termina hoje em Carcavelos. Foi no Guincho, que ganhou a competição Rock Sisters em 2011. "Tenho excelentes memórias de Portugal, mas infelizmente venho sempre com tão pouco tempo que quase só dá para conhecer as praias. Mas sinto uma energia muito positiva aqui", explica a atleta que em 2011 liderou o ranking mundial.
Paulo Reis, designer gráfico de 40 anos, tirou uma folga a meio da semana. Desta vez não precisou de acordar de madrugada, como faz tantas vezes para surfar antes de ir para o trabalho. O temporal no Guincho deixou a praia para os ‘puros', os que enfrentam as ondas no verão ou no inverno, com sol ou chuva, calor ou frio. "Nos últimos anos as coisas mudaram muito. Antigamente éramos dois ou três no mar, agora são às dezenas, às vezes é difícil ter espaço. Passou a ser moda fazer surf", conta.
Invasão nas praias
Não é só uma opinião de Paulo Reis. Nas praias onde o surf se pratica, todos dizem que há cada vez mais gente a aparecer de prancha na mão. No cenário onde decorre a competição mundial de surf feminino, não faltam ondas para as dezenas de praticantes que, a meio da tarde, correm para o mar. Carlota Von Weiser, de 24 anos, chega a Carcavelos com o irmão, sete anos mais novo, que a ‘arrastou' para as ondas. "Sempre quis fazer surf, mas foi quando o meu irmão começou a ter aulas e a pedir-me para o levar à praia que resolvi experimentar". Carlota estuda no Ensino Superior e conta que os amigos foram outra influência, "grande parte deles fazem surf, falam muito disso, e convenci-me a praticar também este desporto".
Para António Henriques, funcionário da loja de surf em frente à praia do Guincho, a moda do surf é uma excelente notícia. "Há cada vez mais gente a praticar, não só surf, mas outros desportos náuticos como o paddle, o bodyboard, ou o kite surf. Para nós é excelente, temos mais gente a procurar-nos", diz o funcionário da Guincho Surf Shop. Até porque os preços baixaram muito. Se há uns anos uma prancha para iniciados custava pelo menos 500 euros, hoje já é possível arranjar material novo por 300 euros. "O surf está muito mais acessível", confirma António Reis.
Reserva de surf
A Ericeira é desde 2011 uma reserva Mundial do Surf, mas a fama da antiga vila piscatória tem mais de duas décadas. Os fundos rochosos garantem a regularidade das ondas e vem gente de todo o Mundo experimentá-las. Ulisses Reis, de 50 anos começou a fazer surf no longínquo ano de 1979. "Na altura diziam que éramos uns drogados, olhavam para nós como marginais". Hoje há um monumento aos surfistas numa das entradas da vila, e a terra ganhou fama muito para lá das fronteiras portuguesas.
Na última semana, Ulisses e Mário Costa (instrutor de surf de 19 anos) orientaram um ‘surf camp' para um grupo de polacos. Vieram 17, animados com o que leram na internet sobre a Ericeira, para passar uma semana a combater as ondas.
Wanda Swiecka, de 19 anos, está a adorar a experiência. "Sempre quis fazer surf e aqui é excelente. Pensei em vir sozinha, mas depois soube que havia esta viagem organizada e juntei-me ao grupo. Está a ser muito divertido". Por cerca de 500 euros, os aprendizes de surfistas passam uma semana a aprender como deslizar na crista da onda e há cada vez mais gente a bater à porta de escolas como a Blue Ocean Surf School. "Os estrangeiros representam 95% dos nossos clientes. Os portugueses aparecem mais no verão, mas temos gente a vir de fora durante todo o ano", explica Ulisses Reis pouco antes de começar mais uma aula na praia de Ribeira d'Ilhas, que já foi cenário de várias provas internacionais.
Amílcar Lourenço, de 40 anos, tem uma história de vida marcada pelos acasos. Aos 14 anos, o miúdo da Ericeira quis aprender a surfar. "Não tinha dinheiro para comprar uma prancha e fui trabalhar para uma oficina de carros. Um dia apareceu lá o dono da Semente [uma das primeiras fábricas de pranchas de surf em Portugal] para fazer a revisão do carro e meti conversa. Ele convidou-me a trabalhar com ele e despedi-me da oficina no próprio dia". Depois de vários anos a trabalhar como freelancer, Amílcar, decidiu criar a sua própria marca de pranchas. A Mica, alcunha com que todos o conhecem, é a marca de uma pequena fábrica em São Julião, perto da Ericeira, onde se fazem pranchas por encomenda. "Tenho clientes desde a Austrália ao Havai".
O surf deu a Mica mais do que um emprego. Certo dia, estava a surfar na Ericeira quando encontrou na água a austríaca Pia Maria. Conversaram brevemente, mas o destino juntou-os por mero acaso num hotel de Marrocos, onde descobriram que tinham reservado quartos contíguos. Hoje vivem juntos na Ericeira, bem perto das ondas.
Um escape ao trabalho
No Algarve, todos os caminhos para quem procura boas ondas vão dar à Costa Sudoeste, entre Sagres e Aljezur. Nelson Penteado é dos surfistas que não perde uma oportunidade para se atirar ao mar. Nem que seja na hora de almoço. "Tenho uma hora para carregar energias e deixar o stress de parte. O trabalho até corre melhor", diz o motorista de pesados. Nelson trabalha numa empresa de Aljezur e aproveita "todos os tempos mortos no trabalho" para ir até à praia da Arrifana.
O mesmo acontece com Manuel Nascimento, professor de Educação Física em Aljezur, que sempre que pode pega na prancha e segue em direção ao areal da Arrifana, encravado entre falésias. "Sempre que tenho um tempinho livre vou praticar. O mar é uma terapia". O docente aconselha a prática do surf aos seus alunos e se possível aos mais graúdos. "Sente-se uma harmonia muito grande com a natureza, no momento em que estamos em cima da prancha esquecemo-nos de todas as agruras que passamos cá fora".
Alunos satisfeitos
Um sorriso para quem aprende. E é mesmo harmonia e satisfação que Francisco Oliveira vê na cara das pessoas que procuram a Arrifana Surf School para ter aulas. "Depois da primeira aula vemos que todos os nossos alunos quando saem da água estão mais calmos e relaxados. Não estão a pensar no que têm de fazer a seguir", descreve o instrutor e proprietário desta escola de surf na Costa Vicentina. Francisco faz surf há cerca de 20 anos e entende que esta prática desportiva "já esteve na moda, continua na moda e vai continuar a estar na moda durante muito tempo". Os principais alunos que procuram esta escola da Arrifana "são turistas estrangeiros" mas também "muitos portugueses durante o verão", principalmente crianças. Francisco aconselha quem quer começar a fazer surf a ter algumas aulas com um instrutor para aprender as regras básicas e corrigir alguns erros. Avisa que tem de haver alguma disciplina porque "os surfistas têm de se respeitar uns aos outros".
E alerta que "está a faltar algum controlo, porque o surf cresceu em pouco tempo e não há leis específicas que regulem a atividade". Nesta zona do Algarve, como em outros pontos do País, a proliferação de escolas de surf preocupa quem vive deste negócio.
Francisco vive para o surf e está satisfeito. "Nunca pensei em fazer do surf um negócio, mas como é a coisa que melhor sei fazer, comecei a gostar e a ter prazer em ensinar. Ver os clientes a abraçarem-te com um grande sorriso depois de saírem do mar é uma alegria".
Pranchas na serra
Naquela tarde em Cabanas de Tavira, Octávio Lourenço não podia adivinhar que a sua vida ia mudar. Aos 20 anos, o então aluno de artes plásticas nas Caldas da Rainha, agarrou numa prancha do ISN e fez-se ao mar: apanhou uma onda e pôs-se em pé. Chegado à areia, já era outro. "Tinha ficado com o bichinho". A partir daí, não parou mais de surfar e, apenas dois anos depois, começou a fazer as suas pranchas. Nascia a Ferox. Aos 38 anos, tem há 15 uma fábrica de pranchas em São Brás de Alportel, num local que era uma antiga fábrica de cortiça. Recebe clientes de todo o Mundo e o negócio prospera .
A zona de Sagres é um dos paraísos mais procurados por surfistas estrangeiros. Ali chegam os grupos mais inesperados. Na semana passada, foi o local escolhido para reunir dezenas de médicos surfistas europeus, que participaram na Conference Surfing Medicine. No encontro, organizado pelo segundo ano consecutivo pela European Association of Surfing Doctors, debateram-se temas relacionados com medicina exótica ou emergências que possam ocorrer na praia, entre muitas trocas de experiências. E, é claro, muitas surfadas no mar algarvio.
Uns 300 km a norte, os fãs portugueses do surf esperam por ver Tiago Pires, conhecido como ‘Saca', o rosto português do circuito mundial. O atleta de 33 anos vai competir na Rip Curl Pro Portugal By Moche, que traz a Cascais e a Peniche a elite do surf. Incluindo o lendário Kelly Slater, campeão mundial por 11 vezes. Que ganhe o melhor.



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